Novo sistema planetário mais parecido com o nosso: três Neptunos e uma cintura de asteróides

2006-05-17

Ilustração do possível processo de formação e actual estrutura do sistema planetário à volta da estrela HD 68930. Os três planetas formam-se a distâncias indicadas pelas elipses a tracejado; as elipses a cheio indicam a actual localização das suas órbitas. Os dois planetas interiores formam-se mais próximo da estrela que a linha de gelo, e por isso a sua matéria-prima são planetesimais rochosos e gás - estes planetas consistem num núcleo rochoso (a castanho) envolto numa atmosfera (a cinzento). O planeta mais longínquo formou-se para lá da linha de gelo e por isso acumulou gelo - o planeta consiste num núcleo rochoso (a castanho) envolto em gelo (a azul), com uma espessa atmosfera (a cinzento). Também estão indicadas as distâncias à estrela, em UA (1 UA = distância Terra-Sol).
Na última década, os astrofísicos já descobriram dezenas de planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
a orbitar outras estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
semelhantes ao Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. Na grande maioria dos casos, estes exoplanetas
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
são gigantes gasosos, semelhantes a Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
(o maior planeta do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, com ~318 vezes a massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
da Terra). No entanto, o recente desenvolvimento das técnicas de procura de planetas extra-solares tem permitido a descoberta de alguns exoplanetas com massa entre 5 e 20 vezes a massa da Terra, comparáveis à massa de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
(~17 vezes a massa da Terra).

Agora, uma equipa europeia de astrofísicos anunciou, num artigo publicado na revista científica Nature, a descoberta do sistema planetário mais parecido com o nosso. A equipa inclui dois investigadores portugueses: Alexandre Correia, do Departamento de Física da Universidade de Aveiro, e Nuno Cardoso Santos, do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa e do Centro de Geofísica de Évora.

O novo sistema é composto por 3 planetas com massas semelhantes à de Neptuno, todos eles em órbitas
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
quase circulares. Estes planetas orbitam a estrela HD 69830, uma estrela próxima do Sol (~41 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
), em cada 8,67, 31,6 e 197 dias. As suas massas são 10,2, 11,8 e 18,1 vezes a massa da Terra.

A descoberta foi feita recorrendo ao método das velocidades radiais e só foi possível graças às capacidades do espectrógrafo HARPS, acoplado ao telescópio de 3,6 m do ESO
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
, no Observatório de La Silla (Chile). Este instrumento permite medir velocidades radiais com uma precisão superior a 1 m/s, permitindo detectar o movimento da estrela HD 69830 provocado pelo efeito gravitacional dos 3 planetas que a orbitam.

Observações anteriores, realizadas pelo Telescópio Espacial Spitzer
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
, mostraram que HD 69830 é uma forte emissora de infravermelhos
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
, sugerindo que a emissão provém de poeira em torno da estrela, que emite a uma temperatura próxima dos 130°C. Os estudos dinâmicos agora realizados indicam que esta emissão pode tem origem numa cintura de asteróides
Cintura de Asteróides
A Cintura de Asteróides é a região do Sistema Solar situada entre Marte (1,5 UA) e Júpiter (5,2 UA), no plano da eclíptica, onde se encontra a maior parte dos asteróides.
localizada entre as órbitas do segundo e terceiro planetas do sistema, ou numa órbita ligeiramente mais distante - a colisão entre asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
desta cintura será responsável pela poeira detectada. As simulações numéricas mostram que o sistema é extremamente estável dinamicamente.

Os modelos teóricos favorecem uma composição essencialmente rochosa para o planeta mais próximo da estrela, enquanto que o segundo planeta deve ser rochoso mas com uma extensa atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
. O terceiro planeta é provavelmente constituído por rochas e gelos, rodeados por uma espessa atmosfera. Este último é o primeiro planeta descoberto com uma massa semelhante à de Neptuno e que se encontra na zona habitável
Zona Habitável
A zona habitável de uma estrela ou de um sistema solar é a região, definida em termos da distância à estrela, que é compatível com a existência de água no estado líquido na superfície de um planeta aí colocado.
do sistema, isto é, a zona com condições propícias à existência de vida. Contudo, devido à sua massa relativamente elevada, é improvável a existência de água no estado líquido.

Fonte da notícia: http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2006/pr-18-06.html