Meteoritos transportam carbono interestelar

2006-05-10

Estas partículas de meteoritos do tipo condrito carbonáceo têm apenas poucos milionésimos de metro de largura e possuem diferentes proporções de isótopos de azoto (N) e de deutério (D). Estes isótopos estão quimicamente ligados a matéria orgânica meteorítica e podem revelar muito sobre o que se passou com o meteorito durante a sua viagem de milhares de milhões de anos através do Sistema Solar. A imagem mostra as regiões com maiores concentrações de N-15 e de D – provas de que o carbono associado é muito antigo e que se formou há milhares de milhões de anos no espaço interestelar ou nas regiões mais longínquas do Sistema Solar. Crédito: Henner Busemann.
Há muito tempo que se suspeita que, do mesmo modo que uma nave interplanetária transporta passageiros, os meteoritos
meteorito
Um meteorito é um corpo sólido que entra na atmosfera da Terra (ou de outro planeta), sendo suficientemente grande para não ser totalmente destruído pela fricção com as partículas da atmosfera, e assim atingir o solo. Os meteoritos dividem-se em três categorias, segundo a sua composição: aerolitos (rochosos), sideritos (ferro) e siderolitos (ferro e rochas).
trouxeram os primeiros ingredientes da vida ao nosso planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
. Através de novas técnicas, cientistas do Departamento de Magnetismo Terrestre do Instituto Carnegie (EUA) descobriram que os meteoritos podem transportar outros “passageiros” bem mais antigos: partículas orgânicas primitivas, que se formaram há milhares de milhões de anos no espaço interestelar ou nas regiões mais longínquas do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
- quando este se começou a formar a partir de uma nuvem de gás e poeira originais. O estudo revela que os meteoritos com origem nos asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
da Cintura de Asteróides
Cintura de Asteróides
A Cintura de Asteróides é a região do Sistema Solar situada entre Marte (1,5 UA) e Júpiter (5,2 UA), no plano da eclíptica, onde se encontra a maior parte dos asteróides.
contêm matéria orgânica primitiva semelhante à encontrada em partículas de poeira interplanetária proveniente dos cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
. Estes resultados fornecem pistas sobre a forma como a matéria orgânica se distribuiu e processou no Sistema Solar durante esta época remota. O trabalho, apoiado pela NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
através do seu Instituto de Astrobiologia (NAI), pelo Programa de Pesquisa em Química Cósmica e pelo Instituto Carnegie, foi publicado no número de 5 de Maio de 2006 da Science.

Os átomos
átomo
O átomo é a menor partícula de um dado elemento que tem as propriedades químicas que caracterizam esse mesmo elemento. Os átomos são formados por electrões à volta de um núcleo constituído por protões e neutrões.
dos diferentes elementos transportados pelos meteoritos surgem em diferentes formas, ou isótopos
isótopo
Chamam-se isótopos aos átomos cujos núcleos têm o mesmo número de protões (por isso, são o mesmo elemento químico), mas têm um número diferente de neutrões. O número atómico dos isótopos é igual, mas o número de massa é diferente.
; as sua proporções relativas dependem das condições ambientais em que o transporte decorreu, de factores como o calor
calor
O calor é energia em trânsito entre dois corpos ou sistemas.
encontrado, as reacções químicas com outros elementos, etc.. Neste estudo, a equipa observou as quantidades relativas de diferentes isótopos de hidrogénio e de azoto associadas a pequeníssimas partículas de matéria orgânica insolúvel (uma matéria muito difícil de destruir quimicamente e que sobrevive até em condições severamente ácidas), com o objectivo de determinar os processos que produziram o tipo de meteorito mais primitivo que se conhece – o condrito carbonáceo.

Os investigadores usaram então uma técnica de imagem microscópica para analisarem a composição isotópica da matéria orgânica insolúvel de seis meteoritos condrito carbonáceos. A proporção relativa de isótopos de azoto e de hidrogénio associados a este tipo de matéria orgânica age como uma impressão digital e pode revelar como e quando o carbono se formou. O isótopo de azoto mais abundante na natureza é o N-14 e o seu parente pesado é o N-15. A diferenciação das quantidades de N-15, assim como de uma forma de hidrogénio pesado, o deutério
deutério (D)
O deutério, também chamado de hidrogénio pesado, é o isótopo do hidrogénio com número de massa igual a dois (2H), cujo núcleo é constituído por um protão e um neutrão.
(D), permite saber se uma partícula permaneceu relativamente inalterada desde o tempo em que o Sistema Solar se formou.

Os sinais apontam para grandes quantidades de N-15 e de deutério quimicamente ligados ao carbono. As partículas de poeira interplanetária, recolhidas pelos aviões nas altas camadas da atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
, contêm enormes quantidades de isótopos deste tipo, indicando provavelmente vestígios da matéria orgânica que se formou no meio interestelar
meio interestelar
O meio interestelar é constituído por toda a matéria existente no espaço entre as estrelas. Cerca de 99% da matéria interestelar é composta por gás, sendo os restantes 1% dominados pela poeira. A massa total do gás e da poeira do meio interestelar é cerca de 15% da massa total da matéria observável da nossa galáxia, a Via Láctea. A matéria do meio interestelar existe em diferentes regimes de densidade e temperatura, como por exemplo as nuvens moleculares (frias e densas) ou o gás ionizado (quente e ténue).
. Estas partículas de poeira têm ainda outras características que indicam que se formaram em corpos, talvez cometas, que passaram por processos menos severos que os asteróides que deram origem aos meteoritos.

Os cientistas descobriram que algumas amostras de meteoritos, quando examinadas à mesma escala das partículas de poeira interplanetária, apresentam abundâncias semelhantes, ou até superiores, de N-15 e D. Isto significa que os asteróides e os cometas, corpos de maiores dimensões de onde provêm estes dois tipos aparentemente diferentes de matéria extraterrestre, são mais semelhantes na origem do que se previa.

Antes, apenas era apenas possível investigar amostras microscópicas de partículas de poeira interplanetária. As novas descobertas permitem agora extrair grandes quantidades deste tipo de material dos meteoritos, que têm dimensões muito maiores e maiores percentagens de carbono do que as partículas de poeira interplanetária. Estes avanços abrem uma nova janela para o estudo da história conturbada dos primeiros tempos do Sistema Solar.

Fonte da notícia: http://carnegieinstitution.org/meteorites/default.html