Primeiras imagens de Vénus pela Venus Express

2006-04-14

Em cima: imagem composta, em falsa cor, do pólo sul de Vénus, obtida pelo espectrómetro VIRTIS. Do lado esquerdo é dia, do lado direito é noite. A imagem da esquerda mostra essencialmente a luz solar reflectida pelas nuvens, até uma altitude cerca de 65 km acima da superfície do planeta. A imagem do lado da noite foi obtida com um filtro infravermelho (1,7µm) e mostra as estruturas das nuvens na baixa atmosfera, a cerca de 55 km de altitude. Crédito: ESA/INAF-IASF, Rome, Italy, and Observatoire de Paris, France. Em baixo: imagem no ultravioleta (falsa cor) do pólo sul de Vénus, obtida pela câmara VMC, a bordo da Venus Express. Crédito: ESA/MPS, Katlenburg-Lindau, Germany.
A missão Venus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
Express
, lançada a 9 de Novembro de 2005, viajou 400 milhões de quilómetros em cerca de cinco meses e alcançou o seu destino final - o planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
Vénus. Durante esta semana, o satélite efectuou uma série de manobras que permitiu que o planeta a capturasse gravitacionalmente numa órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
à sua volta. Só no dia 7 de Maio, após 16 voltas preliminares em torno de Vénus, é que a Venus Express alcançará a sua órbita final: uma órbita polar de 24 horas, que a leva de 66 000 a 250 quilómetros de Vénus, com um pericentro perto da latitude 80°N.

Embora a fase denominada "científica" só tenha início a 4 de Junho, alguns dos instrumentos da missão já foram ligados e já se deu início a algumas observações. Durante o período das órbitas preliminares, a Venus Express poderá observar certas regiões do planeta, principalmente no hemisfério sul, que só estão visíveis durante este tempo, e também será a última oportunidade para obter imagens do disco completo de Vénus.

As primeiras imagens do hemisfério sul de Vénus foram obtidas na quarta-feira, utilizando a câmara VMC (Venus Monitoring Camera e o espectrómetro
espectrómetro
O espectrómetro é um instrumento cuja função é medir os comprimentos de onda de um determinado espectro de luz, permitindo identificar as espécies químicas responsáveis pelas riscas existentes nesse espectro.
VIRTIS (Visible and Infrared Thermal Imaging Spectrometer), a 206 452 quilómetros do planeta.

As imagens do espectrómetro VIRTIS, embora ainda de baixa qualidade comparadas com o que virão a ser mais tarde, já mostram estruturas muito nítidas e com muito detalhe do pólo sul do planeta. Um vórtice escuro, quase directamente sobre o pólo sul, é uma estrutura cuja presença se suspeitava, mas que ainda não tinha sido confirmada, e corresponde a uma estrutura de nuvens semelhante à que existe sobre o pólo norte.

A imagem aqui ao lado, em cima, do pólo sul de Vénus obtida pelo VIRTIS, é uma composição que mostra o dia do lado esquerdo e a noite do lado direito. Na imagem da esquerda estamos essencialmente a ver a luz solar reflectida pelas nuvens, até uma altitude cerca de 65 km acima da superfície do planeta. A imagem do lado da noite foi obtida com um filtro infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
(1,7µm) e mostra as estruturas dinâmicas, em forma espiral, das nuvens na baixa atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
, a cerca de 55 km de altitude. As regiões mais escuras correspondem a nuvens mais espessas enquanto as regiões mais brilhantes correspondem a nuvens mais finas que permitem observar a radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
térmica que vem de baixo.

Outros instrumentos a bordo da Venus Express incluem o magnetómetro MAG (Venus Express Magnetometer) e analisador ASPERA (Analyser of Space Plasma and Energetic Atoms) que procederão ao estudo do vento solar
vento solar
O vento solar é um vento contínuo de plasma quente que tem origem na coroa solar e preenche o espaço interplanetário do Sistema Solar. A 1 UA do Sol (ou seja, à distância da Terra ao Sol), a velocidade do vento solar é de cerca de 450 km/s e a densidade é aproximadamente 7 protões/cm3. O vento solar confina o campo magnético da Terra e é responsável por fenómenos como tempestades geomagnéticas e auroras. O Sol ejecta cerca de 10-13 da sua massa por ano via vento solar.
e dos processos de escape da atmosfera venusiana, neste planeta sem protecção magnética.

A Venus Express está programada para levar a cabo observações científicas durante dois dias venusianos, a que correspondem 486 dias terrestres. A missão poderá ser estendida ao dobro do tempo.

Os objectivos científicos da missão são diversos. Por um lado, pretende-se um estudo pormenorizado da atmosfera do planeta: como funciona a dinâmica atmosférica e o complexo sistema de nuvens de Vénus? o que causa a "super-rotação" da atmosfera no topo das nuvens? qual a origem dos vórtices nos pólos? que processos determinam a química da atmosfera de Vénus? qual o papel do efeito de estufa na evolução do clima venusiano?

A combinação da análise da atmosfera e da superfície de Vénus talvez permita compreendermos um pouco melhor a geologia do planeta e determinar se há sinais de actividade vulcânica ou sísmica em Vénus.

Fonte da notícia: http://www.esa.int/esaCP/SEM9FZNFGLE_index_0.html