Proto-estrelas enfeitam enxame da Árvore de Natal

2005-12-23

Esta imagem de NGC 2264 no infravermelho é composta por duas imagens obtidas pelo Spitzer, com câmaras diferentes: a IRAC observou no infravermelho próximo e médio (3,6 µm, 4,5 µm, 5,8 µm, 8 µm) e a MIPS no infravermelho longínquo (24 µm). Crédito: NASA/JPL-Caltech/P.S. Teixeira & C.J. Lada (CfA), E.T. Young (U. Arizona).
Paula Teixeira, astrofísica portuguesa realizando o seu doutoramento no Centro Smithsonian para a Astrofísica (Universidade de Harvard, EUA), é a autora principal de um estudo de NGC 2264 no infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
, que se revelou um excelente laboratório para o estudo da formação de estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
.

Também conhecido como o enxame da Árvore de Natal, NGC 2264 é um enxame aberto embebido numa nebulosa
nebulosa
Uma nebulosa é uma nuvem de gás e poeira interestelares.
difusa, que ganhou o seu nome devido à sua aparência quando observada pelos pequenos telescópios: as estrelas desenham um triângulo como se fossem luzes da árvore de natal. Embora as estrelas que dão o nome ao enxame não sejam brilhantes no infravermelho, outros enfeites da Árvore surgiram neste comprimento de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
e maravilharam os astrónomos.

A equipa, constituída por astrónomos do Centro Smithsonian para a Astrofísica e da Universidade do Arizona, utilizou o telescópio espacial Spitzer
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
) para realizar as observações no infravermelho. A imagem mostra uma colecção de proto-estrelas brilhantes, até agora nunca observadas. As estrelas bebés aparecem como pontos rosa e vermelho, para o centro da imagem. A sua configuração geométrica indica que as estrelas se formaram em intervalos de espaço regulares ao longo de estruturas lineares. Segundo Paula Teixeira, esta regularidade espacial entre as proto-estrelas dá-nos uma pista crítica para a natureza do processo de formação de estrelas, confirmando o que a teoria prevê: a distância média entre proto-estrelas deve ser dada pela densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
e temperatura do material da nuvem que lhes dá origem.

Nuvens com formação de estrelas, como esta, são estruturas dinâmicas e em evolução. Suspeita-se que a partir de um certo estágio da sua evolução, os movimentos internos caóticos nas nuvens provocam a formação de filamentos de gás e poeira. Quando arrefecem, o gás e a poeira desses filamentos aglomera-se e fragmenta-se mais, podendo criar uma linha regularmente espaçada de proto-estrelas. A distância média que separa as estrelas bebés é determinada pela temperatura e densidade dos filamentos.

Estas proto-estrelas devem ter apenas cerca de 100 000 anos. Com o tempo, estas estruturas afastar-se-ão do seu local de formação e os movimentos naturais de cada estrela quebrará esta ordem geométrica.

Ao observar no infravermelho, o Spitzer detecta a poeira que, por ser aquecida pelas estrelas vizinhas, brilha neste comprimento de onda, revelando a estrutura intrincada do material que constitui a nuvem gigante. As observações do Spitzer efectuaram-se com duas das suas câmaras: a IAC e a MIPS. A IAC observou no infravermelho próximo
infravermelho próximo
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 5 mícrones. Esta banda permite observar astros ou fenómenos com temperaturas entre 740 e 5200 graus Kelvin.
e médio, e mostrou que a nebulosa está a formar activamente estrelas, detectando moléculas
molécula
Uma molécula é a unidade mais pequena de um composto químico, sendo constituída por um ou mais átomos, ligados entre si pelas interacções dos seus electrões.
orgânicas misturadas com poeira. A MIPS observou no infravermelho longínquo
infravermelho longínquo
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 40 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros ou fenómenos com temperaturas entre 10 e 140 graus Kelvin.
a poeira fria da nebulosa e perscrutou através da poeira que envolve as estrelas mais bebés.

Nos últimos milhões de anos, centenas de novas estrelas e sistemas planetários foram produzidos num surto de grande actividade de formação de estrelas neste local.

O enxame da Árvore de Natal encontra-se a cerca de 3000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
, na constelação
constelação
Designa-se por constelação cada uma das 88 regiões em que se divide a abóbada celeste, por convenção de 1922.
do Unicórnio (Monoceros).

Fonte da notícia: http://www.spitzer.caltech.edu/Media/happenings/20051222/
e http://www.cfa.harvard.edu/press/pr0540.html