ESA monitorizará asteróides do "ponto cego"

2002-04-15

No interior da órbita da Terra existem muitos asteróides potencialmente perigosos para a Terra mas que não são detectáveis por telescópios na Terra. Crédito: Medialab/ESA.
Nas últimas duas semanas, dois asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
passaram próximos da Terra, a distâncias 1,2 e 3 vezes a distância que separa a Terra da Lua
Lua
A Lua é o único satélite natural da Terra.
. Recentemente, descobriu-se outro asteróide que tem a probabilidade de 1 em 300 de colidir com a Terra em 2880. A monitorização de asteróides conhecidos permite aos astrónomos preverem quais poderão colidir com a Terra. Mas isto é apenas verdade para os asteróides cuja existência nós conhecemos. E o que se passa com aqueles que estão localizados no "ponto cego" entre a Terra e o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
? A Agência Espacial Europeia
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
(ESA) está a estudar meios através dos quais as suas missões poderão ajudar a monitorizar estes asteróides que não conseguimos ver mas que são potencialmente perigosos.

O perigo real que os asteróides representam é difícil de se estimar, em parte, porque os astrónomos ainda não sabem quantos asteróides existem. Uma descoberta recente, realizada com a utilização de dados do Observatório Espacial de Infravermelho (ISO
Infrared Space Observatory (ISO)
O observatório espacial de infravermelhos ISO foi uma missão da Agência Espacial Europeia (ESA) com a participação das agências espaciais do Japão (ISAS) e dos EUA (NASA). Lançado em Novembro de 1995, a sua missão científica decorreu até Maio de 1998. A sua contribuição para o nosso conhecimento do universo, em campos que vão desde o Sistema Solar até às galáxias mais distantes, foi extraordinária.
, Infrared Space Observatory), da ESA, mostrou que poderiam existir perto de dois milhões de asteróides com um diâmetro superior a um quilómetro na cintura principal de asteróides, entre Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
e Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
. Este número é mais que duas vezes superior ao que se calculava anteriormente. Para além disso, mesmo quando um asteróide é identificado, são necessárias muitas observações antes que se possa concluir se este irá ou não passar perto, ou mesmo colidir, com a Terra.

Se os asteróides permanecessem na cintura principal, não representariam qualquer perigo para a Terra. No entanto, podem ser projectados para diferentes órbitas
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
devido a colisões com outros asteróides, ou pela influência do campo gravitacional de Júpiter. Se as suas novas órbitas cruzarem a órbita da Terra, esses asteróides poderão, um dia, colidir com o nosso planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
, infligindo uma devastação sem precedentes.

Um número elevado de projectos de procura de asteróides, realizados por telescópios na Terra, encontra-se já em andamento, com o intuito de descobrir o maior número de asteróides potencialmente perigosos. Mas existe um óbvio "ponto cego" que os telescópios em Terra nunca poderão observar. Falamos da região localizada no interior da órbita da Terra, em direcção ao Sol. A partir da Terra, as observações astronómicas de zonas próximas do Sol são quase impossíveis porque significam observar durante o dia, quando apenas os objectos celestes mais brilhantes sobressaiem no céu azul. Isto significa que os asteróides localizados nesta região do espaço podem dirigir-se para a Terra sem serem detectados. O asteróide 2002 EM7, que passou próximo da Terra a 8 de Março último, foi um desses objectos e apenas foi detectado após cruzar a órbita da Terra, surgindo brevemente no céu nocturno, antes de voltar a passar para o outro lado da sua órbita, onde é ofuscado pelo Sol.

Conhecem-se cerca de 550 asteróides similares a este. Chamam-se Atens e passam a maior parte do tempo no interior da órbita da Terra, próximos do Sol. Estimativas conservadoras sugerem que possam existir alguns milhares destes asteróides e segui-los a todos, a partir da Terra, é praticamente impossível. No entanto, um estudo efectuado para a ESA mostrou que a missão espacial GAIA
GAIA
Missão espacial científica da Agência Espacial Europeia (ESA), que deverá ser lançada em 2010 e cujo principal objectivo é o de determinar a composição, formação e evolução da nossa Galáxia, mediante a observação de cerca de mil milhões de estrelas com uma precisão sem precedentes.
será capaz de ver claramente este "ponto cego" e assim acompanhar a população de asteróides Atens. François Mignard, do Observatório Côte d'Azur, em França, foi o responsável por esse estudo. Concluiu que a missão GAIA seria ideal para este trabalho uma vez que foi concebida com o objectivo de medir posições de objectos celestes com uma precisão sem precedentes. Para além disso, uma vez que não existe atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
no espaço que disperse os raios solares e crie um ofuscante céu azul, a GAIA poderá efectuar observações próximas do Sol sem qualquer problema.

A GAIA tem o seu lançamento previsto para 2010. Mesmo que nessa altura as observações realizadas com telescópios na Terra já tenham encontrado mais asteróides Atens, a missão desempenhará um papel essencial na determinação das suas órbitas, com uma precisão 30 vezes maior que a obtida por qualquer observação feita a partir da Terra. Os dados obtidos pela GAIA fornecerão também, aos astrónomos, uma primeira informação da composição destes objectos. Este conhecimento poderá um dia ajudar a determinar métodos para desviar ou destruir asteróides que se saibam estar em rota de colisão com a Terra.

Diversas missões da ESA estão a contribuir, ou contribuirão, para o nosso conhecimento dos pequenos corpos do sistema solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
. Entre eles, incluem-se o Observatório Espacial de Infravermelho (ISO), GAIA e ROSETTA, que irá estudar os asteróides Siwa e Otawara. A ESA está também a considerar a inclusão de um telescópio de detecção de asteróides na sua missão BepiColombo.

Notícia original: http://sci.esa.int/content/news/index.cfm?aid=1&cid=1&oid=29787