Remanescentes de supernovas criam ilusão

2005-11-18

DEM L136 é o remanescente de supernovas, localizado na Grande Nuvem de Magalhães. Esta imagem é composta pelas observações em raios-X realizadas pelo Chandra (a vermelho, 0,8-1,5 keV; a verde 1,5-8 keV; a azul 0,3-8 keV) e por observações do Telescópio Curtis-Schmidt (Cerro Tololo) no óptico (a roxo). Os dados do Chandra permitiram concluir que a bolha da esquerda tem uma composição química muito diferente da bolha da direita, implicando que as bolhas são remanescente de supernovas de tipo diferente. Crédito: NASA/CXC/U.Illinois/R.Williams & Y.-H.Chu (raios-X); NOAO/CTIO/U.Illinois/R.Williams & MCELS coll. (óptico).
O Observatório de Raios-X Chandra
Chandra X-ray Observatory
O observatório de raios-X Chandra, lançado em 1999, faz parte do projecto dos Grandes Observatórios Espaciais da NASA. O seu nome homenageia Subrahmanyan Chandrasekhar, Prémio Nobel da Física em 1983. O Chandra detecta fontes de raios-X a milhares de milhões de anos-luz de nós. Observar em raios-X é a única forma de observar matéria muito quente, a milhões de graus Célsius. O Chandra detecta raios-X de regiões de alta energia, como por exemplo remanescentes de supernovas.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
) obteve uma imagem espectacular de DEM L316, um remanescente de supernovas
supernova
Uma supernova é a explosão de uma estrela no final da sua vida. As explosões de supernova são de tal forma violentas e luminosas que o seu brilho pode ultrapassar o brilho de uma galáxia inteira. Existem dois tipos principais de supernova: as supernovas Tipo Ia, que resultam da explosão duma estrela anã branca que, no seio de um sistema binário, rouba matéria da estrela companheira até a sua massa atingir o limite de Chandrasekhar e então colapsa; e as supernovas Tipo II, que resultam da explosão de uma estrela isolada de massa elevada (com massa superior a cerca de 4 vezes a massa do Sol) que esgotou o seu combustível nuclear e expeliu as suas camadas externas, restando apenas um objecto compacto (uma estrela de neutrões ou um buraco negro).
na constelação
constelação
Designa-se por constelação cada uma das 88 regiões em que se divide a abóbada celeste, por convenção de 1922.
do Espadarte (em latim, Dorado), pertencente à Grande Nuvem de Magalhães
Grande Nuvem de Magalhães
A Grande Nuvem de Magalhães é uma galáxia irregular que orbita a Via Láctea, a uma distância aproximada de 180 mil anos-luz. Juntamente com a Pequena Nuvem de Magalhães, é um objecto celeste do céu austral bem visível à vista desarmada, na constelação do Dorado (Espadarte). Conhecida desde 964 D.C., quando foi mencionada pelo astrónomo Persa Al Sufi, foi redescoberta por Fernão de Magalhães em 1519. Esta galáxia contém inúmeros objectos interessantes, entre os quais a Nebulosa da Tarântula (NGC 2070).
, a cerca de 160 000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
.

A imagem apresentada aqui ao lado é uma composição de imagens em raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
(a vermelho, verde e azul, representando radiação X de diferentes energias) e no óptico (a roxo). As duas bolhas de gás que vemos parecem estar a colidir, mas trata-se de uma ilusão.

Os dados obtidos pelo Chandra em diferentes comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
da região dos raios-X mostram que a bolha da esquerda contém uma quantidade de ferro muito maior que a bolha do lado direito. Este facto implica que cada bolha teve origem na explosão de uma supernova distinta, e estas eram muito diferentes uma da outra.

O remanescente da esquerda deve-se à explosão de uma supernova do tipo Ia
supernova Tipo Ia
Uma supernova de tipo I que não apresenta no seu espectro riscas espectrais de hidrogénio e de hélio, mas possui fortes riscas espectrais de silício.
, ou seja, a explosão de uma anã branca
anã branca
Uma anã branca, sendo o núcleo exposto de uma gigante vermelha, é uma estrela degenerada muito densa na qual se encontra esgotada qualquer fonte de energia termonuclear. As anãs brancas, que constituem uma fase final da evolução das estrelas de pequena massa, representam cerca de 10 % das estrelas da nossa galáxia, e são por isso muito comuns. O nosso Sol passará um dia pela fase de anã branca, altura em que terá um diâmetro de apenas 10 000 km.
pertencente a um sistema binário, que foi acretando matéria da sua companheira até colapsar e acabar por explodir. Por sua vez, a bolha da direita é o remanescente de uma supernova do tipo II, ou seja, a explosão de uma jovem estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
de massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
elevada no fim da sua vida.

São necessários alguns milhares de milhões de anos para se formar uma anã branca, enquanto que uma estrela de massa elevada explode em poucos milhões de anos. A disparidade das idades das estrelas progenitoras destes dois tipos de supernova fazem com que seja muito pouco provável que as supernovas que deram origem a DEL L316 tenham explodido perto uma da outra. A aparente proximidade dos dois remanescentes é provavelmente o resultado de um alinhamento casual.

Fonte da notícia: http://chandra.harvard.edu/photo/2005/d316/