Terá Plutão três luas?

2005-11-03

Em cima: estas imagens obtidas pelo Hubble revelam Plutão, a sua lua Caronte e dois novos candidatos a satélites, P1 e P2. Entre 15 e 18 de Maio, Caronte e os outros dois objectos parecem rodar à volta de Plutão no sentido contrário aos ponteiros do relógio. P1 e P2 deslocaram-se menos do que Caronte, o que é consistente com uma órbita em torno de Plutão, pois estão mais afastados do planeta. Estas imagens foram construídas combinando imagens de curta exposição, que mostram Plutão e Caronte, com imagens de longa exposição, que mostram os novos satélites. As de curta exposição foram obtidas com filtros no azul (475 nm) e no verde-amarelo (555 nm), enquanto que as de longa exposição foram obtidas no amarelo (606 nm). Crédito: NASA, ESA, H. Weaver (JHU/APL), A. Stern (SwRI), & the Hubble Space Telescope Pluto Companion Search Team. Em baixo: a reanálise destas imagens de 14 de Junho de 2002 mostra que as órbitas dos dois objectos candidatos a satélites de Plutão, derivadas das observações de 2005, são consistentes com a provável presença de dois objectos, muito ténues, nestas imagens. Crédito: NASA, ESA & M. Buie (Lowell Observatory).
Caronte era, até agora, o único satélite conhecido de Plutão
Plutão
Plutão é, na maior parte do tempo, o nono e último planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas devido à sua órbita excêntrica, durante algum tempo aproxima-se mais do Sol do que Neptuno. É um planeta singular em muitos aspectos: é o mais pequeno (cerca de 1/500 o diâmetro da Terra), tem uma composição muito rica em gelos, possui a órbita mais excêntrica e inclinada em relação à eclíptica, e tem, tal como Úrano, o seu eixo de rotação muito inclinado (122º) em relação à eclíptica.
. Mas observações recentes realizadas pelo Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) parecem indicar que o menor dos planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
pode ter mais um ou dois satélites. As imagens do Hubble são as mais sensíveis de sempre do sistema de Plutão. Para além destes dois candidatos, é muito pouco provável que existam satélites com mais de 15 km de diâmetro à volta de Plutão.

A câmara ACS do Hubble observou o sistema de Plutão em 15 de Maio deste ano. As imagens revelaram dois objectos desconhecidos, cerca de 5000 vezes menos brilhantes do que Plutão. Três dias depois, o Hubble voltou a observar o sistema e os dois objectos ainda se encontravam lá, parecendo mover-se numa órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
à volta de Plutão. Os candidatos a satélites, designados provisoriamente por S/2005/P1 e S/20005/P2, têm diâmetros entre 64 e 200 km e foram observados a cerca de 44 000 km de Plutão, o que corresponde entre duas a três vezes a distância a que Caronte se encontra do planeta.

Para reforçar as provas da presença destes satélites, os astrónomos vasculharam o arquivo das observações do Hubble à procura de imagens que já revelassem a presença destes dois possíveis companheiros. A reanálise de imagens obtidas a 14 de Junho de 2002 veio apoiar esta descoberta.

Mais observações, que provavelmente serão conclusivas relativamente à natureza destes objectos, estão planeadas para Fevereiro próximo. A União Internacional de Astronomia só considerará os nomes a dar aos satélites após essa confirmação.

Plutão foi descoberto em 1930 pelo astrónomo americano Clyde W. Tombaugh, graças a um feliz erro de cálculo: o estudo das órbitas de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
e Úrano
Úrano
É o sétimo planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. Com um diâmetro cerca de 4 vezes superior ao da Terra é o terceiro planeta gigante gasoso. A sua característica mais marcante é o facto de o seu eixo de rotação estar inclinado cerca de 97º em relação à eclíptica.
levavam a pensar, na altura, que existiria um planeta para além de Neptuno. Após a descoberta do pequeno planeta, tornou-se óbvio que Plutão não podia ser responsável pelas discrepâncias das órbitas dos outros planetas. Mais tarde, a determinação da massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
de Neptuno com base nas observações realizadas pela Voyager 2 vieram mostrar que as discrepâncias nem sequer existiam.

Plutão é considerado o nono planeta do Sistema Solar, mas a sua órbita excêntrica
órbita excêntrica
Diz-se que uma órbita é excêntrica quando a sua excentricidade é elevada.
trá-lo para mais perto do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
do que Neptuno durante cerca de 20 anos do seu período orbital
período orbital
O tempo necessário para que um corpo descreva uma órbita completa e fechada em torno de outro corpo.
de 249 anos. Foi o que aconteceu entre 1979 e 1989. Para além da grande excentricidade
excentricidade
A excentricidade de uma elipse é a razão entre a distância de um foco ao centro da elipse (c) e o seu semi-eixo maior (a): e=c/a. A circunferência tem excentricidade nula, e=0.
da sua órbita, Plutão apresenta outras peculiaridades: a órbita é bastante inclinada (cerca de 17°) relativamente ao plano da eclíptica
eclíptica
A eclíptica é a linha de intersecção do plano da órbita da Terra à volta do Sol com a esfera celeste. Coincide com a trajectória aparente que o Sol descreve ao longo das 12 constelações do Zodíaco e ainda da Constelação de Ofiúco, durante um ano terrestre. Dado que o equador da Terra faz um ângulo de 23°27'30'' com o plano da órbita da Terra, a eclíptica também faz um ângulo de 23°27'30'' com o equador celeste, intersectando-o nos dois pontos equinociais.
; o plano do equador faz um ângulo quase recto com o plano orbital; é muito menor do que os outros planetas exteriores e, ao contrário destes, que são gasosos, Plutão é rochoso e gelado.

Caronte, o conhecido satélite de Plutão, foi descoberto em 1978. Estudos sobre a densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
de Caronte permitem inferir que, contrariamente a Plutão, este satélite é pouco rochoso, o que significa que a sua origem deve ser diferente da do planeta. Em todo o caso, a origem destes dois objectos é ainda desconhecida. Actualmente, a teoria que reune mais consenso considera Plutão como membro da Cintura de Kuiper
Cintura de Kuiper
A Cintura de Kuiper é uma região em forma de disco, localizada depois de Neptuno, entre 30 e 50 UA do Sol. É constituída por muitos pequenos corpos gelados, restos da formação do Sistema Solar, e é a fonte dos cometas de curto-período. O primeiro objecto da Cintura de Kuiper, 1992QB1, com 240 km de diâmetro, só foi descoberto em 1992, mas desde então já se conhecem centenas de objectos da Cintura de Kuiper (KBO, do inglês Kuiper Belt Object). Há astrónomos que consideram Plutão, e a sua lua Caronte, objectos da Cintura de Kuiper.
. Assim, a confirmação dos dois novos satélites tornará Plutão o primeiro objecto da Cintura de Kuiper que se conhece com mais do que uma lua.

Fonte da notícia: http://hubblesite.org/newscenter/newsdesk/archive/releases/2005/19/full/