Simulação do Milénio – o maior modelo de sempre do Universo

2005-07-11

Em cima: a distribuição da luz em larga escala, na simulação. Em baixo: as correspondentes distribuições de matéria escura. Credito: Springel et al.
O Consórcio Virgo - um grupo internacional de astrofísicos do Reino Unido, Alemanha, Japão, Canadá e Estados Unidos - divulgou, no mês passado, os primeiros resultados da maior e mais realista simulação alguma vez realizada para o crescimento da estrutura cósmica e a formação das galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
e dos quasares
quasar
Os quasares são objectos extragalácticos extremamente brilhantes e compactos. Hoje acredita-se que são o centro de galáxias muito energéticas ainda num estado inicial da sua evolução (são, pois, núcleos galácticos activos - NGAs) e a sua energia provém de um buraco negro de massa muito elevada. Os seus desvios para o vermelho indicam que se encontram a distâncias cosmológicas. O seu nome, quasar, vem do inglês quasi-stellar object, ou seja, objecto quase estelar, devido à semelhança da sua imagem em placas fotográficas com a imagem de uma estrela.
. Num artigo publicado na revista Nature, o grupo mostrou como os dados obtidos com a "Simulação do Milénio" (Millenium Simulation), quando comparados com as observações de larga escala, podem revelar os processos físicos que estão na base da formação das galáxias e dos buracos negros
buraco negro
Um buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Em Astronomia, distinguem-se dois tipos de buraco negro: os buracos negros estelares, que resultam da morte de uma estrela de massa elevada, e os buracos negros galácticos, que existem no centro das galáxias activas.
.

A Simulação do Milénio utilizou mais de 10 mil milhões de partículas de matéria para traçar a evolução da distribuição de matéria numa gigantesca região cúbica do Universo, com mais de 2 mil milhões de anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
de aresta. Os cientistas recrearam assim a evolução das cerca de 20 milhões de galáxias que povoam o enorme volume e dos gigantescos buracos negros que são vistos, por vezes, como quasares nos seus corações.

Os radiotelescópios sensíveis às microondas
microondas
A região do espectro electromagnético, no domínio do rádio, com comprimento de onda entre aproximadamente 1 mm e 30 cm (equivalente ao intervalo de frequências entre 300 GHz e 1 GHz) é a região das microondas.
já foram capazes de fotografar directamente o Universo quando este tinha apenas 400 000 anos de idade. As únicas estruturas então existentes eram pequenos enrugamentos, num mar quase uniforme de matéria e radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
. Mais tarde, a evolução gravitacional transformou estes enrugamentos nas estruturas imensamente ricas que hoje vemos. A Simulação do Milénio foi desenhada exactamente para seguir a evolução deste crescimento, e com o objectivo duplo de verificar se este novo paradigma é consistente com aquilo que observamos, enquanto explora a Física complexa que deu origem às galáxias e aos seus buracos negros centrais.

Recentes avanços em cosmologia demonstram que quase 70% do Universo actual é composto por energia escura, um campo de forças misterioso que leva o universo a expandir-se mais depressa. Cerca de um quarto do Universo consiste aparentemente em matéria escura
matéria escura
A matéria escura é matéria que não emite luz e por isso não pode ser observada directamente, mas cuja existência é inferida pela sua influência gravitacional na matéria luminosa, ou prevista por certas teorias. Por exemplo, os astrónomos acreditam que as regiões mais exteriores das galáxias, incluindo a Via Láctea, têm de possuir matéria escura devido às observações do movimento das estrelas. A Teoria Inflacionária do Universo prevê que o Universo tem uma densidade elevada, o que só pode ser verdade se existir matéria escura. Não se sabe ao certo o que constitui a matéria escura: poderão ser partículas subatómicas, buracos negros, estrelas de muito baixa luminosidade, ou mesmo uma combinação de vários destes ou outros objectos.
fria, um novo tipo de partículas elementares ainda não detectado na Terra. Apenas 5% do Universo é composto por matéria atómica vulgar, com a qual estamos familiarizados, a maior parte consistindo em hidrogénio e hélio. Todos estes componentes são tomados em conta na Simulação do Milénio.

No artigo publicado na Nature, os cientistas do Virgo utilizam a simulação para estudar o crescimento inicial dos buracos negros. O Sloan Digital Sky Survey
Sloan Digital Sky Survey (SDSS)
O levantamento do céu SDSS é um projecto que tem por objectivo mapear detalhadamente um quarto de todo o céu, determinando posições e magnitudes absolutas de 100 milhões de objectos celestes, e determinando ainda a distância a mais de 1 milhão de galáxias e quasares. Os telescópios que participam neste projecto estão situados no Observatório de Apache Point (EUA). O SDSS é um projecto conjunto de instituições norte-americanas, alemãs e japonesas.
(SDSS) descobriu um número de quasares muito distantes e muito brilhantes, que parecem albergar buracos negros com massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
pelo menos mil milhões de vezes superior à do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, numa época em que o Universo tinha apenas um décimo da idade que tem hoje.

Segundo Volker Springel (do Instituto Max Planck para a Astrofísica, líder do projecto Millennium e principal autor do artigo), muitos astrónomos julgavam impossível reconciliar estes dados com o crescimento gradual da estrutura previsto pelos modelos padrão. No entanto, quando se experimentou modelar a formação da nossa galáxia e de quasares, descobriu-se que um pequeno número de buracos negros de grande massa se forma suficientemente cedo para justificar estes quasares descobertos pelo SDSS, tão raros. As suas galáxias hospedeiras aparecem pela primeira vez nos dados da Simulação do Milénio quando o Universo tem apenas poucas centenas de milhões de anos; quando chegam à actualidade, já se transformaram nas galáxias de maior massa, nas regiões centrais dos grandes enxames de galáxias
enxame de galáxias
Um enxame, ou aglomerado, de galáxias é um conjunto de galáxias gravitacionalmente ligadas. A Via Láctea pertence ao aglomerado chamado Grupo Local de galáxias. O enxame de galáxias mais próximo de nós é o Enxame da Virgem.
.

Para Carlos Frenk (do Instituto de Cosmologia Computacional da Universidade de Durham, líder do projecto Virgo no Reino Unido) o aspecto mais interessante dos resultados preliminares é o facto da Simulação do Milénio demonstrar, pela primeira vez, que os padrões característicos da distribuição de matéria nas épocas primitivas, e que são directamente visíveis nos mapas de microondas, ainda deverão estar presentes e deverão ser detectáveis na distribuição de galáxias observada. Conseguindo medir suficientemente bem as oscilações bariónicas, elas fornecerão uma medida padrão para caracterizar a geometria e a história da expansão do Universo e também para conhecer a natureza da energia escura.

As simulações produzem imagens espantosas e representam um marco significativo no entendimento de como o Universo primitivo tomou forma. São assim um exemplo brilhante da interacção entre a teoria e a experiência em astronomia. Mas as aplicações mais interessantes e amplas da Simulação do Milénio ainda estão para vir. Há novas observações em curso que fornecem informação com uma precisão sem precedentes sobre as propriedades das galáxias, dos buracos negros e da estrutura de larga escala do Universo. Simon White (do Instituto Max Planck para a Astrofísica) diz que a nossa capacidade de prever as consequências das nossas teorias deve atingir um igual nível de precisão, se pretendemos utilizar estas descobertas de maneira eficaz para compreendermos a origem e a natureza do nosso mundo. A Simulação do Milénio é uma ferramenta única para este tipo de propósitos e o seu poder deverá ser acessível a todos os astrónomos, para que possam introduzir os seus próprios dados e as suas próprias observações possam ser interpretadas.

Fonte da notícia: http://www.pparc.ac.uk/Nw/millennium_sim.asp


Millennium Simulation) serviu-se de mais de 10 mil milhões de partículas para traçar a evolução da distribuição de matéria numa gigantesca região cúbica do Universo, com mais de 2 mil milhões de anos-luz de aresta. A equipa mostrou como a comparação dos dados obtidos por simulação com os das observações de larga escala pode revelar os processos físicos que estão na base da formação das galáxias e dos buracos negros. As simulações produzem imagens espantosas e representam um marco significativo no conhecimento da formação do Universo primitivo. Um exemplo brilhante da interacção entre a teoria e a experiência em astronomia."> Millennium Simulation) serviu-se de mais de 10 mil milhões de partículas para traçar a evolução da distribuição de matéria numa gigantesca região cúbica do Universo, com mais de 2 mil milhões de anos-luz de aresta. A equipa mostrou como a comparação dos dados obtidos por simulação com os das observações de larga escala pode revelar os processos físicos que estão na base da formação das galáxias e dos buracos negros. As simulações produzem imagens espantosas e representam um marco significativo no conhecimento da formação do Universo primitivo. Um exemplo brilhante da interacção entre a teoria e a experiência em astronomia."> Millennium Simulation) serviu-se de mais de 10 mil milhões de partículas para traçar a evolução da distribuição de matéria numa gigantesca região cúbica do Universo, com mais de 2 mil milhões de anos-luz de aresta. A equipa mostrou como a comparação dos dados obtidos por simulação com os das observações de larga escala pode revelar os processos físicos que estão na base da formação das galáxias e dos buracos negros. As simulações produzem imagens espantosas e representam um marco significativo no conhecimento da formação do Universo primitivo. Um exemplo brilhante da interacção entre a teoria e a experiência em astronomia."> Millennium Simulation) serviu-se de mais de 10 mil milhões de partículas para traçar a evolução da distribuição de matéria numa gigantesca região cúbica do Universo, com mais de 2 mil milhões de anos-luz de aresta. A equipa mostrou como a comparação dos dados obtidos por simulação com os das observações de larga escala pode revelar os processos físicos que estão na base da formação das galáxias e dos buracos negros. As simulações produzem imagens espantosas e representam um marco significativo no conhecimento da formação do Universo primitivo. Um exemplo brilhante da interacção entre a teoria e a experiência em astronomia.">