Aura detecta condições invulgares para o ozono árctico em 2005

2005-06-23

Em cima: Mapas obtidos pelo Microwave Limb Sounder do Aura mostram as alterações nas concentrações de ozono (O3), monóxido de cloro (ClO) e de cloreto de hidrogénio (HCl), para os dias seleccionados de 2004-2005, do Inverno árctico. Em baixo: O Microwave Limb Sounder do Aura mede o óxido nítrico (N2O), que não é afectado pelos processos químicos da estratosfera. Através do estudo das variações dos níveis deste composto, os cientistas podem entender melhor de que forma o ar se movimenta e qual a influência desses movimentos nas concentrações de ozono (O3). Assim é possível distinguir as alterações para os níveis de ozono que daí resultam daquelas que são efectivamente provocadas pela sua destruição química. Crédito: NASA/JPL.
Durante o último Inverno, a destruição química da camada de ozono
camada de ozono
A camada de ozono é uma camada com cerca de 20 km, que se situa na parte inferior da estratosfera terrestre (entre os 10 e os 50 km acima da superfície), e caracteriza-se por uma grande concentração de ozono (a molécula O3). Em circunstâncias normais, a camada de ozono é mais espessa nos pólos do que no equador, e mais espessa no Inverno do que na Primavera. É a camada responsável pela absorção de radiação ultravioleta.
sobre o Árctico atingiu valores próximos do valor recorde. Análises realizadas pelo Microwave Limb Sounder, um dos instrumentos transportados pelo Aura (NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
) - o terceiro e maior dos sistemas de satélites de observação da Terra - indicaram que a destruição química do ozono na estratosfera da região atingiu um valor próximo dos 50%. Este valor foi o segundo mais alto alguma vez atingido, logo atrás dos 60% estimados para o Inverno de 1999-2000.

No entanto, dados recolhidos por outros instrumentos do Aura, como o Monitoring Ozone Instrument, descobriram que a quantidade total de ozono sobre o Árctico, em Março passado, era similar à de outros anos recentes, nos quais houve menos destruição deste componente atmosférico. O que terá moderado a perda de ozono? A resposta parece residir nas invulgares condições atmosféricas que se têm verificado este ano na região.

Segundo G. Manney, do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA, que coordena a análise dos dados do Microwave Limb Sounder, a região Árctica teve este ano um dos seus mais invulgares Invernos. As temperaturas na estratosfera foram as mais baixas de sempre, mas outros factores, tais como ventos padrão e movimentos do ar, tiveram uma contribuição menor para a perda de ozono.

Com efeito, enquanto o ozono árctico estava a ser destruído por processos químicos, perto do final do Inverno, os ventos da estratosfera desviaram e transportaram ar rico em ozono a partir de latitudes médias para a região do Árctico. Como resultado, houve uma alteração pouco significativa no balanço total do ozono, o que fez com que os níveis de radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
ultravioleta
ultravioleta
O ultravioleta á a banda do espectro electromagnético que cobre a gama de comprimentos de onda entre os 91,2 e os 350 nanómetros. Esta radiação é largamente bloqueada pela atmosfera terrestre.
que atingiram a superfície da Terra permanecessem normais.

A destruição do ozono da atmosfera terrestre
atmosfera terrestre
A atmosfera terrestre é composta por um conjunto de camadas gasosas que envolvem a Terra. Estas camadas são designadas por Troposfera (da superfície da Terra até cerca de 10 km de altitude), Estratosfera (10 - 50 km), Mesosfera (50 - 100 km), Termosfera (100 - 400 km) e Exosfera (acima dos 400 km).
é essencialmente provocada por reacções químicas com o cloro, proveniente de compostos produzidos pelo homem. Quando as temperaturas da estratosfera descem abaixo dos -78°C, formam-se nuvens na estratosfera polar, à superfície das quais se dão reacções químicas que activam o cloro, convertendo-o em variedades que destroem o ozono quando exposto à luz solar.

O fenómeno de destruição da camada de ozono é particularmente importante na Antártida. Sobre esta região, durante cada Inverno, ocorre uma extensa perda de ozono – o chamado “buraco do ozono”. Este fenómeno deve-se ao frio extremo que aí existe e também ao vórtice polar - ventos persistentes que se formam todos os anos nas altas latitudes e que mantêm a região isolada das latitudes médias. O Inverno árctico é, em contraste, menos frio e o vórtice polar desta região é mais fraco e de mais curta duração, pelo que a perda de ozono tem sido menor, mais variável e muito mais difícil de quantificar.

Este foi o primeiro estudo do Inverno árctico realizado pelo Aura, lançado em Julho de 2004. O seu Microwave Limb Sounder está a contribuir para a compreensão do processo que leva os ventos padrão do Árctico a empurrar o ar rico em ozono para a baixa estratosfera, a partir de altitudes superiores e de latitudes inferiores. Através dos dados obtidos pelo Aura, os cientistas podem distinguir a destruição química do ozono das alterações dos níveis de ozono provocadas por movimentos nas camadas de ar, que variam de forma dramática de ano para ano.

Segundo P. DeCola, um cientista da NASA ligado ao programa Aura, compreender as perdas de ozono na região do Árctico é essencial para o diagnóstico da saúde da camada de ozono. Os dados obtidos anteriormente eram escassos. O Aura realiza medições diárias, a nível global e em simultâneo de muitos dos gases atmosféricos que constituem os parâmetros necessários para que se possa entender e quantificar a destruição química do ozono.

Fonte da notícia: http://www.jpl.nasa.gov/news/news.cfm?release=2005-092