Vulcão pode ser fonte de reabastecimento de metano para a atmosfera de Titã

2005-06-15

Em cima: imagem de alta resolução obtida pelo espectrómetro VIMS, da Cassini, na aproximação a Titã de 26 de Outubro de 2004. A imagem cobre uma área de 150 km2; a 8,5° latitude e –143,5° longitude, uma estrutura circular, com cerca de 30 km de diâmetro, e com duas asas alongadas para oeste, sugere aos cientistas tratar-se de um vulcão. A resolução da imagem varia entre 2,6 km/pixel e 1,8 km/pixel. Em baixo: detalhes da estrutura circular. Os primeiros 6 painéis são imagens obtidas em diferentes comprimentos de onda, entre 1 e 5 µm. Os três painéis seguintes são compostos por duas cores (imagens de ratios) e permitem visualizar variações na composição da superfície, que parecem ser ligeiras. Por fim, o último painel é uma composição de cores (a vermelho, 2,75µm, a verde, 2,0 µm e a azul, 1,6 µm). Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.
Titã, a maior lua de Saturno
Saturno
Saturno é o sexto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. Com um diâmetro cerca de 10 vezes o da Terra, é o segundo maior planeta do Sistema Solar. A sua característica mais marcante são os belos anéis que o rodeiam.
, é o único satélite do nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
com uma atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
densa. A pressão à superfície é 1,5 atm e, de forma semelhante à Terra, o azoto (N2) é o componente principal da sua atmosfera, seguindo-se o metano (2 a 3%). O metano é fotodissociado numa escala de tempo de 107 anos, que é um tempo de vida curto, o que sugere que Titã tenha à superfície, ou sob esta, um reservatório de hidrocarbonetos que reabasteça a atmosfera.

Numa das aproximações a Titã, em Outubro de 2004, a sonda Cassini
Cassini-Huygens (NASA/ESA)
A missão Cassini-Huygens é uma missão conjunta da NASA e da ESA dedicada a Saturno que foi lançada no dia 13 de Outubro de 1997. Esta missão é composta por duas sondas: a sonda Cassini cujo objectivo principal é o estudo de Saturno, da sua atmosfera e do seu campo magnético, e a sonda Huygens cujo objectivo é o estudo da atmosfera do maior satélite de Saturno, Titã. O ponto alto desta missão será sem dúvida o pouso da sonda Huygens na superfície de Titã.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
) obteve imagens no infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
da superfície desta lua. A densa atmosfera de Titã impede que se veja a sua superfície em comprimentos de onda do visível
radiação visível
A radiação visível é a região do espectro electromagnético que os nossos olhos detectam, compreendida entre os comprimentos de onda de 350 e 700 nm (frequências entre 4,3 e 7,5x1014Hz). Os nossos olhos distinguem luz visível de frequências diferentes, desde a luz violeta (radiação com comprimentos de onda ~ 400 nm), até à luz vermelha (com comprimentos de onda ~ 700 nm), passando pelo azul, anil, verde, amarelo e laranja.
, mas observando em comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
do infravermelho, consegue-se ver através da atmosfera.

As observações revelaram que não existe um oceano de metano; pelo contrário, pequenas variações no albedo
albedo
O albedo é uma medida da reflectividade de um astro, definida como a razão entre a quantidade de luz reflectida pelo astro e a quantidade de luz recebida. A reflexão total corresponde a um albedo de 1.
sugerem variações topográficas como seria de se esperar numa superfície mais sólida (talvez de gelo).

As imagens revelaram uma estrutura circular, com cerca de 30 km de diâmetro, que não se assemelha a nada que já se tenha observado em qualquer satélite gelado do Sistema Solar. A equipa de investigação, liderada por C. Sotin (Laboratório de Planetologia e Geodinâmica da Universidade de Nantes, França), propõe que se trata de uma cúpula gelada de um vulcão, formada pelas plumas geladas que libertam metano para a atmosfera de Titã.

A imagem de maior resolução obtida com o VIMS (espectrómetro
espectrómetro
O espectrómetro é um instrumento cuja função é medir os comprimentos de onda de um determinado espectro de luz, permitindo identificar as espécies químicas responsáveis pelas riscas existentes nesse espectro.
de mapeamento no visível e infravermelho) cobre uma área de 150 km2. A estrutura circular apresenta duas asas alongadas, que se estendem para oeste, e assemelha-se a vulcões na Terra e em Vénus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
, com camadas sobrepostas de material, devido a séries de erupções. No centro, vê-se claramente uma região escura, que lembra uma caldeira. O material que é expelido do vulcão pode ser uma mistura gelada de água e metano, combinada com outros gelos e hidrocarbonetos. A energia de uma fonte de aquecimento interna pode provocar a subida destes materiais e a sua vaporização quando chegam à superfície. Contudo, são necessárias mais observações de forma a determinar se as forças de maré são suficientes para gerar energia para a erupção do vulcão, ou se é de facto necessária a presença de outra fonte de energia.

A interpretação da estrutura circular como sendo um vulcão gelado é apoiada pelos modelos de evolução de Titã. Este trabalho de investigação encontra-se publicado na revista Nature de 9 de Junho.

Fonte da notícia: http://saturn.jpl.nasa.gov/news/press-release-details.cfm?newsID=579