Saturno reflecte raios-X solares

2005-05-27

Observações de Saturno pelo Chandra (em cima) mostram que a atmosfera de Saturno actua como um espelho que reflecte a actividade solar (em baixo). Em 20 de Janeiro de 2004, uma fulguração solar durou 36 minutos e foi detectada por radiotelescópios e telescópios ópticos. Em baixo: imagem da fulguração em raios-X, obtida pelo GOES-12. Crédito: GOES-12 X-ray: NOAA/SEC. cerca de duas horas e catorze minutos depois, o Chandra detectou a emissão de raios-X em Saturno – o intervalo de tempo decorrido corresponde ao tempo que a radiação X leva desde o Sol até Saturno e de volta para a Terra. Crédito: NASA/MSFC/CXC/A.Bhardwaj et al.
Observações levadas a cabo com o Observatório de Raios-X Chandra
Chandra X-ray Observatory
O observatório de raios-X Chandra, lançado em 1999, faz parte do projecto dos Grandes Observatórios Espaciais da NASA. O seu nome homenageia Subrahmanyan Chandrasekhar, Prémio Nobel da Física em 1983. O Chandra detecta fontes de raios-X a milhares de milhões de anos-luz de nós. Observar em raios-X é a única forma de observar matéria muito quente, a milhões de graus Célsius. O Chandra detecta raios-X de regiões de alta energia, como por exemplo remanescentes de supernovas.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
) sugerem que Saturno
Saturno
Saturno é o sexto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. Com um diâmetro cerca de 10 vezes o da Terra, é o segundo maior planeta do Sistema Solar. A sua característica mais marcante são os belos anéis que o rodeiam.
, tal como Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
, reflecte os raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
solares. A descoberta resulta da primeira observação de uma fulguração
fulguração
Uma fulguração é uma libertação de energia de forma explosiva da qual resulta um aumento rápido do brilho do astro no qual ocorre. São exemplo deste tipo de fenómenos as fulgurações solares, associadas às manchas solares, bem como as fulgurações de raios-X, que ocorrem em estrelas de neutrões, e de raios gama, que se sabe estarem relacionadas com as explosões de supernova.
de raios-X reflectida pelas baixas latitudes de Saturno, numa região correspondente ao equador e trópicos terrestres.

O estudo, liderado por A. Bhardwaj, cientista do Centro Marshall para o Voo Espacial (NASA), encontra-se num artigo publicado na revista Astrophysical Journal Letters, onde os autores concluem que Saturno se comporta como um espelho difuso dos raios-X solares.

Estudos anteriores já tinham revelado que Júpiter, com um diâmetro 11 vezes o da Terra, actua duma forma semelhante (ver notícia de 22/03/2005). Saturno é cerca de 9,5 vezes maior do que a Terra e encontra-se duas vezes mais longe da Terra do que Júpiter. Tanto Saturno como Júpiter reflectem menos de 0,1% dos raios-X incidentes.

Os cientistas acreditam que podem utilizar estes dois planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
gigantes para estudar a actividade solar
actividade solar
A actividade solar consiste no conjunto de fenómenos ou processos físicos que se manifestam, com maior ou menor intensidade, durante o ciclo solar. Por exemplo, fazem parte da actividade solar a ocorrência de manchas solares, as protuberâncias, o vento solar, ou as ejecções de matéria coronal.
, com a vantagem de poderem monitorizar fulgurações solares que ocorrem em regiões que os satélites espaciais podem não conseguir observar.

As fulgurações solares são normalmente acompanhadas por ejecções de massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
coronal, que emitem matéria solar e um campo magnético
campo magnético
O campo magnético é a região em torno de um corpo na qual é detectada uma força magnética. Os campos magnéticos actuam apenas em partículas electricamente carregadas. Campos magnéticos fracos são por exemplo gerados por efeito de dínamo no interior dos planetas e luas, enquanto que campos magnéticos mil milhões de vezes mais fortes podem ser gerados em estrelas e galáxias. Os campos magnéticos são capazes de controlar o movimento de gás ionizado e até moldar a forma dos corpos por eles actuados.
. Se a Terra estiver na sua direcção, as ejecções de matéria podem afectar os sistemas de comunicação.

Dos três planetas magnéticos, Júpiter e a Terra emitem dois tipos de radiação X: emissões nas regiões polares, que constituem as auroras
aurora
A aurora é a luz emitida pelos iões da atmosfera terrestre, principalmente nos pólos geomagnéticos da Terra, estimulada pelo bombardeamento de partículas de alta energia ejectadas pelo Sol. As auroras aparecem dois dias depois das fulgurações solares, proporcionando um espectáculo de rara beleza, e atingem o seu pico cerca de dois anos depois do máximo de manchas solares. As auroras boreais e austrais são observáveis a latitudes elevadas no hemisfério Norte e hemisfério Sul, respectivamente.
, e emissões na região do disco, a baixas latitudes. Contudo, até agora, nunca se observou, claramente, emissões de raios-X do tipo aurora em Saturno.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/home/hqnews/2005/may/HQ_05134_Chandra.html