Nebulosa solar teve um tempo de vida de dois milhões de anos

2005-05-12

Em cima: os investigadores analisaram a inclusão rica em cálcio e alumínio (CAI) – a larga zona circular no centro da imagem – e o côndrulo - o pequeno objecto circular do lado esquerdo - existentes em duas áreas da superfície deste meteorito primitivo, o Allende. Crédito: Lawrence Livermore National Laboratory. Em baixo: esta concepção artística da nebulosa solar mostra a região da Terra menos de um milhão de anos depois de o Sol se ter formado; pequenos grãos de poeira colidiram para formar pequenos objectos, que depois colidiram para formar os planetas. Crédito: William K. Hartmann/PSI.
Uma equipa de investigadores, liderada por Ian Hutcheon, físico do Laboratório Nacional de Lawrence Livermore (EUA), estudou duas áreas da superfície do meteorito
meteorito
Um meteorito é um corpo sólido que entra na atmosfera da Terra (ou de outro planeta), sendo suficientemente grande para não ser totalmente destruído pela fricção com as partículas da atmosfera, e assim atingir o solo. Os meteoritos dividem-se em três categorias, segundo a sua composição: aerolitos (rochosos), sideritos (ferro) e siderolitos (ferro e rochas).
primitivo Allende. A análise da composição de côndrulos
côndrulos
Os côndrulos são pequenos agregados esferoidais de natureza silicatada, com tamanhos da ordem do milímetro, que constituem os meteoritos pétreos, ou condritos.
e de inclusões ricas em cálcio e alumínio (CAI) permitiu estabelecer a diferença de idade entre estas duas zonas do fragmento. A equipa mostrou que esta diferença de idade está directamente relacionada com o tempo de vida da nebulosa solar
nebulosa Solar
A nebulosa Solar é a nuvem de gás e poeira a partir da qual o nosso Sistema Solar se formou.
, a nuvem de gás e poeira a partir da qual o nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
se formou.

No passado, estimativas do tempo de vida da nebulosa
nebulosa
Uma nebulosa é uma nuvem de gás e poeira interestelares.
solar indicavam valores compreendidos entre menos de um milhão de anos e 10 milhões de anos. No entanto, através da análise da composição mineral e do conteúdo de isótopos
isótopo
Chamam-se isótopos aos átomos cujos núcleos têm o mesmo número de protões (por isso, são o mesmo elemento químico), mas têm um número diferente de neutrões. O número atómico dos isótopos é igual, mas o número de massa é diferente.
de oxigénio e magnésio dos CAI e dos côndrulos, a equipa pôde melhorar o resultado, estimando que a nebulosa solar teve uma duração de aproximadamente 2 milhões de anos.

Até agora, a diferença de idade entre os CAI e os côndrulos não estava bem definida. Este grupo de cientistas chegou à conclusão de que os CAI se formaram num ambiente rico em oxigénio, há 4,567 mil milhões de anos, enquanto os côndrulos se formaram num meio com uma composição de oxigénio muito semelhante à da Terra, há 4,565 mil milhões de anos, ou menos. Segundo Ian Hutcheon, durante este período de cerca de 2 milhões de anos, o oxigénio na nebulosa solar alterou-se substancialmente na sua composição isotópica, o que indica que teve uma evolução rápida.

Uma das particularidades dos CAI é o enriquecimento do isótopo de oxigénio 16 (O-16). Os CAI deste estudo estão 4% enriquecidos com O-16 em relação à quantidade de O-16 existente na Terra. Esta percentagem pode não parecer muito grande, mas significa um enriquecimento em O-16 que é característico dos objectos mais antigos do Sistema Solar. Os CAI e os côndrulos são dezenas de milhares de anos mais velhos que outros objectos do Sistema Solar, tais como os planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
, que se formaram há cerca de 4,5 mil milhões de anos. Quando os côndrulos se formaram, o conteúdo em O-16 alterou-se para o que se encontra na Terra hoje em dia.

Estabelecer com o máximo de rigor possível o tempo de vida da nebulosa solar tem uma importância significativa na tentativa de compreender como o Sistema Solar se formou.

Este estudo encontra-se publicado na revista Nature de 21 de Abril. A equipa integra investigadores do Laboratório Nacional de Lawrence Livermore (EUA), da Universidade do Havai (EUA), do Instituto de Tecnologia de Tóquio (Japão) e da Instituição Smithsonian (EUA).

Fonte da notícia: http://www.llnl.gov/pao/news/news_releases/2005/NR-05-04-02.html