Formação de estrelas na Pequena Nuvem de Magalhães

2005-04-05

NGC 346, na Pequena Nuvem de Magalhães. Crédito: NASA, ESA & A. Nota (STScI).
Observações realizadas com o Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) revelaram, pela primeira vez, uma população de proto-estrelas na Pequena Nuvem de Magalhães. Imagens de alta resolução permitiram identificar estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
embebidas na nebulosa
nebulosa
Uma nebulosa é uma nuvem de gás e poeira interestelares.
NGC 346, que ainda se estão a formar através do colapso gravitacional
colapso gravitacional
Processo pelo qual uma estrela ou outro objecto celeste implode por acção do seu prório campo gravítico, resultando num objecto que é muito menor e muito mais denso do que o objecto original. O colapso gravitacional é o processo pelo qual se formam estrelas e aglomerados de estrelas, a partir de nuvens interestelares de gás e poeira, galáxias, ou ainda buracos negros.
de nuvens de gás. Estas estrelas ainda não iniciaram a fusão nuclear de hidrogénio
combustão de hidrogénio
Designa-se por combustão, ou queima, de hidrogénio o processo de fusão nuclear no qual núcleos de hidrogénio colidem para formar núcleos de hélio. O termo "combustão" é, neste contexto, um abuso de linguagem introduzido pelos astrónomos profissionais. Todas as estrelas que nascem com massa superior a 0,08 vezes a massa do Sol queimam hidrogénio.
no seu centro. A menor destas estrelas tem apenas metade da massa do Sol
massa solar
Massa solar é a quantidade de massa existente no Sol e, simultaneamente, a unidade na qual os astrónomos exprimem as massas das estrelas, nebulosas e galáxias. Uma massa solar é igual a 1,989x1030 kg.
.

A Pequena Nuvem de Magalhães é uma galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
satélite da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
, localizada a 210 000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
. A sua composição química é mais pobre em metais
metal
Em Astronomia, todos os elementos químicos de número atómico superior ao do hélio são designados por metais, ou por elementos pesados.
do que o disco da nossa Galáxia, indicando que houve menos gerações de estrelas a enriquecerem o meio interestelar
meio interestelar
O meio interestelar é constituído por toda a matéria existente no espaço entre as estrelas. Cerca de 99% da matéria interestelar é composta por gás, sendo os restantes 1% dominados pela poeira. A massa total do gás e da poeira do meio interestelar é cerca de 15% da massa total da matéria observável da nossa galáxia, a Via Láctea. A matéria do meio interestelar existe em diferentes regimes de densidade e temperatura, como por exemplo as nuvens moleculares (frias e densas) ou o gás ionizado (quente e ténue).
. Provavelmente, a interacção com a nossa Galáxia é responsável por um período de formação de estrelas recente, visível na preponderância de estrelas quentes e azuis que se observam em regiões como a nebulosa NGC 346.

Galáxias satélites como a Pequena Nuvem de Magalhães são consideradas como os blocos de construção de galáxias maiores, como a Via Láctea. A maioria destas pequenas galáxias já existia quando o Universo era jovem. O estudo da formação de estrelas na Pequena Nuvem de Magalhães permite assim compreender a formação de estrelas no Universo jovem. NGC 346 encontra-se no seio de regiões de formação de estrelas e contém mais de 2500 estrelas recém-nascidas.

As imagens do Hubble, obtidas com a câmara ACS, permitem identificar três populações estelares na Pequena Nuvem de Magalhães e na região da nebulosa NGC 346 – um total de 70 000 estrelas. A população mais velha tem 4,5 mil milhões de anos, aproximadamente a idade do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. A população mais jovem só surgiu há 5 milhões de anos (aproximadamente quando os primeiros hominídeos começaram a andar na Terra). Estrelas de pouca massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
levam mais de 5 milhões de anos a iniciarem a fusão nuclear
fusão nuclear
A fusão nuclear é o processo pelo qual as reacções nucleares entre núcleos atómicos leves formam núcleos atómicos mais pesados (até ao elemento ferro). No caso em que os núcleos pertencem a elementos com número atómico pequeno, este processo liberta grandes quantidades de energia. A energia libertada corresponde a uma perda de massa, de acordo com a famosa equação E=mc2 de Einstein. As estrelas geram a sua energia através da fusão nuclear.
no seu centro, de forma que se trata de uma população de proto-estrelas que ainda não deram início à queima de hidrogénio. Curiosamente, estas estrelas recém-nascidas estão dispostas de maneira a formar duas faixas que se intersectam, assemelhando-se a um “T”.

Fonte da notícia: http://hubblesite.org/newscenter/newsdesk/archive/releases/2005/04/image/a