Devido à nossa proximidade do Sol, observar o Universo, a partir da Terra, é algo semelhante a olhar para a noite escura, a partir de um quarto bem iluminado - os objectos que não emitem luz, dificilmente são percebidos. Uma equipa internacional de astrónomos, liderada por investigadores britânicos da Universidade de Cardiff, tem dedicado o seu tempo à difícil tarefa de procurar galáxias invisíveis.

Os cientistas utilizam radiotelescópios para estudar a distribuição de átomos de hidrogénio no Universo. Em 2000, através do Telescópio Lovell, da Universidade de Manchester (Inglaterra), encontraram uma grande quantidade de átomos de hidrogénio - totalizando cem milhões de vezes a massa do Sol - no enxame da Virgem, a 50 milhões de anos-luz. A observação foi confirmada pelo radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico. O movimento da massa de hidrogénio era semelhante ao movimento de rotação de uma galáxia, pelo que se admitiu tratar-se de um objecto deste tipo e recebeu o nome de VIRGOH121. A sua velocidade de rotação indicava a existência de uma massa mil vezes superior à dos átomos de hidrogénio encontrados – se fosse uma galáxia normal, deveria ser bastante brilhante, observável até com um telescópio amador. Mas tal não se verificava.

Já foram descobertos objectos similares. Uns, após observação com telescópios mais potentes, revelaram conter estrelas. Outros, descobriu-se serem o remanescente da colisão de duas galáxias. A equipa quis descartar estas hipóteses e investigou a área do céu durante 5 anos, com a ajuda do Telescópio Isaac Newton, em La Palma. Não foram encontrados vestígios de estrelas, nem as galáxias mais próximas revelaram quaisquer indícios de terem sofrido colisão, pelo que os investigadores concluíram tratar-se de uma galáxia composta por matéria escura.

A presença de matéria escura no Universo pode ser inferida através da velocidade de rotação das galáxias. Com efeito, a velocidade de rotação de uma galáxia está relacionada com a força gravitacional necessária para manter coesa a matéria que a constitui. Quando a velocidade de rotação de uma galáxia é muito grande, espera-se que ela contenha uma enorme quantidade de matéria. Esta matéria pode, em princípio, ser estimada através da luz que a galáxia emite. Se os dados obtidos pela observação da luz emitida em todos os comprimentos de onda perfizerem um valor de massa inferior ao que seria de esperar, os astrónomos concluem que há matéria que eles não conseguem detectar - a matéria escura.

Pensa-se que as galáxias escuras se deverão formar quando a densidade de matéria é demasiado baixa para que se criem condições favoráveis à formação de estrelas. As observações de VIRGOHI21 podem ter outras explicações, mas são consistentes com o hidrogénio estar contido num disco plano de material em rotação - que é o que se observa numa galáxia espiral normal.

Há anos que os astrónomos estudam a forma como as estrelas e as galáxias se movem. Os dados indicam que deve haver muito mais matéria no Universo do que aquela que pode ser observada. A matéria escura guarda ainda muitos mistérios, tanto no que diz respeito à sua constituição, como à forma como está distribuída. Outro enigma tem a ver com o número de galáxias no Universo, pois as teorias prevêem um número muito maior do que aquele que se observa. Estas duas ideias - matéria escura e falta de galáxias - tem levado alguns astrónomos a procurarem galáxias de matéria escura. O estudo de VIRGOH121, embora ainda não seja conclusivo, talvez venha dar razão a estes astrónomos.

Fonte da notícia: http://www.jb.man.ac.uk/news/darkgalaxy/