Astrónomos descobrem primórdios da formação de um mini sistema solar

2005-02-18

Em cima: Uma visão artística de uma anã castanha rodeada por um disco de formação de planetas. Crédito: NASA/JPL-Caltech/T. Pyle (SSC). Em baixo: O Spitzer observou o disco de formação planetária medindo a radiação emitida no infravermelho. O gráfico mostra que, enquanto uma anã castanha sem disco (linha vermelha a tracejado) emite radiação infravermelha em comprimentos de onda mais pequenos, uma anã castanha com disco (linha laranja) emite um excesso de radiação infravermelha em comprimentos de onda maiores, que é devido ao próprio disco (linha amarela). Crédito: NASA/JPL-Caltech/Harvard-Smithsonian CfA.
O Telescópio Espacial Spitzer
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
) descobriu um disco de poeira com material que dá origem à formação dos planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
, orbitando uma anã castanha
anã castanha
A anã castanha é uma estrela falhada cuja massa é insuficiente para permitir a fusão nuclear do hidrogénio em hélio no seu centro. No início das suas vidas, as anãs castanhas têm a fusão de deutério no seu núcleo central. Mesmo depois de esgotarem o deutério, as anãs castanhas radiam por conversão de energia potencial gravítica em calor e, como tal, emitem fortemente no domínio do infravermelho. De acordo com modelos, a massa máxima que uma anã castanha pode ter é de 0,08 massas solares (ou 80 massas de Júpiter). Estes objectos representam o elo que falta entre as estrelas de pequena massa e os planetas gasosos gigantes como Júpiter.
de massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
extraordinariamente pequena. A anã castanha, designada por OTS 44, está localizada a 500 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
na constelação
constelação
Designa-se por constelação cada uma das 88 regiões em que se divide a abóbada celeste, por convenção de 1922.
do Camaleão e tem cerca de 2 milhões de anos. A sua massa é apenas 15 vezes superior à de Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
tornando-a o mais pequeno corpo celeste rodeado por um disco de formação planetária, que se conhece – nas mesma condições, só tinha sido descoberta um anã castanha, com massa 25 a 30 vezes maior que a de Júpiter.

O disco em torno de OTS 44 possui massa suficiente para formar um planeta gasoso, do tipo gigante, embora não muito grande, e de vários planetas rochosos, com dimensões semelhantes às da Terra, o que poderá vir a constituir um "mini sistema solar".

As anãs castanhas são objectos especiais, qualquer coisa que se situa entre uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
frustrada e um super planeta. Tal como as estrelas, são frequentemente encontradas sozinhas no espaço, isto é, sem estarem a orbitar um corpo principal. Mas, tal como os planetas, não possuem massa suficiente para iniciarem o processo de ignição que produz luz. Por isso são difíceis de encontrar e de estudar.

Recentemente, os astrónomos anunciaram o que poderá ser a primeira imagem de um planeta a orbitar uma anã castanha, de nome 2M1207, mas ainda se sabe muito pouco sobre o processo de formação de planetas em torno deste tipo de corpos celestes. É ainda mais escassa a informação a respeito das anãs castanhas de pouca massa, pois apenas algumas são conhecidas. Esta descoberta pode ser muito útil para desenvolver o conhecimento nestas áreas e, numa perspectiva mais geral, para que se possa compreender melhor onde e como os planetas – incluindo os planetas rochosos como o nosso – se formam.

A possibilidade de haver no Universo uma grande quantidade de sistemas semelhantes ao descoberto leva à formulação de novas perguntas. Será que planetas que orbitam corpos quase do tamanho de planetas podem conter vida? Os cientistas pensam, por exemplo, que a existir vida, num sistema deste tipo, ela teria de se ajustar às reduzidas temperaturas da anã castanha. Para poder haver água líquida num destes planetas, ele teria de estar muito mais próximo da anã castanha do que a Terra está do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
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Os resultados desta pesquisa, realizada por uma equipa liderada pelo Dr. Kevin Luhman, do Centro Harvard Smithsoniam para a Astrofísica (EUA), foram apresentados a 7 de Fevereiro de 2005 no encontro "Detecção e Formação de Planetas", realizado no Colorado (EUA). Foram depois publicados a 10 de Fevereiro no Astrophisical Journal Letters.

Fonte da notícia: http://www.spitzer.caltech.edu/Media/releases/ssc2005-06/release.shtml