Primeiros resultados científicos da missão Huygens

2005-01-25

Em cima: este mosaico de três imagens mostra, com um detalhe sem precedentes, uma região de montanhosa onde se observam vários canais a juntarem-se num rio principal. Em baixo: imagem de uma área plana e escura da superfície de Titã, obtida com o DISR durante a descida, onde se observam “ilhas” brilhantes no meio dum canal escavado por um fluido. Crédito: ESA/NASA/JPL/University of Arizona.
A 14 de Janeiro, a sonda Huygens
Cassini-Huygens (NASA/ESA)
A missão Cassini-Huygens é uma missão conjunta da NASA e da ESA dedicada a Saturno que foi lançada no dia 13 de Outubro de 1997. Esta missão é composta por duas sondas: a sonda Cassini cujo objectivo principal é o estudo de Saturno, da sua atmosfera e do seu campo magnético, e a sonda Huygens cujo objectivo é o estudo da atmosfera do maior satélite de Saturno, Titã. O ponto alto desta missão será sem dúvida o pouso da sonda Huygens na superfície de Titã.
(ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) fez uma histórica descida através da atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
de Titã, a maior lua de Saturno
Saturno
Saturno é o sexto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. Com um diâmetro cerca de 10 vezes o da Terra, é o segundo maior planeta do Sistema Solar. A sua característica mais marcante são os belos anéis que o rodeiam.
, a 1,2 mil milhões de quilómetros da Terra, e pousou na sua superfície. A partir de cerca de 150 quilómetros de altitude, os seus seis instrumentos multifunções começaram a registar as suas medições, obtendo dados durante toda a descida e depois, na superfície. As primeiras conclusões científicas derivadas da missão Huygens foram apresentados numa conferência de imprensa a 21 de Janeiro, na sede da ESA, em Paris.

O principal resultado é que as evidências geológicas de precipitação, erosão, desgaste e outras actividades fluviais indicam que os processos físicos que dão forma a Titã são, essencialmente, os mesmos que dão forma à Terra.

Imagens capturadas pelo instrumento DISR (Descent Imager-Spectral Radiometer ) revelam que Titã tem uma meteorologia e geologia extraordinariamente parecida com a Terra. As imagens mostram uma complexa rede de canais de drenagem, estreitos, que correm desde as terras mais altas e brilhantes até às regiões mais baixas, lisas e escuras. Estes canais juntam-se em sistemas de rios que correm para lagos, que por sua vez, apresentam ilhas e bancos de areia notavelmente semelhantes ao que se passa na Terra.

Dados obtidos com o espectrómetro de massa
espectrómetro de massa
Um espectrómetro de massa é um instrumento para produzir iões num gás e determinar a sua massa, de modo a determinar a sua composição.
GCMS (Gas Chromatograph and Mass Spectrometer ) e com o instrumento SSP ( Surface Science Package ) apoiam estas conclusões, providenciando fortes evidências da existência de líquidos a fluirem em Titã. Os fluidos são compostos por metano, um composto orgânico simples que pode existir no estado líquido ou gasoso às temperaturas de Titã, inferiores a –170°C.

Os rios e lagos de Titã parecem secos neste momento, mas pode ter ocorrido chuva há pouco tempo.

Dados da desaceleração e penetração obtidos pelo SSP indicam que o material por baixo da crosta da superfície tem a consistência de areia solta, possivelmente o resultado de chuva de metano a cair na superfície ao longo do tempo, ou o efeito dos líquidos a deslocarem-se no subsolo para a superfície.

O calor
calor
O calor é energia em trânsito entre dois corpos ou sistemas.
gerado pela Huygens aqueceu o solo por baixo da sonda e tanto o GCMS como o SSP detectaram grandes quantidades de metano a evaporar-se do material da superfície. O metano tem um papel predominante na geologia e meteorologia de Titã, formando nuvens e precipitação, que por sua vez provoca a erosão e o desgaste da superfície.

As imagens da superfície obtidas pelo DISR mostram pequenas pedras redondas num leito seco dum rio. As medições espectrais são consistentes com uma composição de gelo de água suja e não de rochas de silicatos. Note-se que à temperatura de Titã, esta composição de gelo é sólida como as rochas.

O solo de Titã parece consistir, pelo menos em parte, de depósitos de precipitação da bruma orgância que envolve e esconde o planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
. Este material escuro concentra-se no fundo dos canais de drenagem e dos leitos dos rios, contribuindo para as regiões escuras que se vêem nas imagens do DISR.

A descoberta do elemento químico
elemento químico
Elemento composto por um único tipo de átomos. Os elementos químicos constituem a Tabela Periódica.
argon-40 na atmosfera é um forte indicador de que Titã experimentou actividade vulcânica. Contudo, os vulcões não geraram lava, como acontece na Terra, mas sim gelo de água e amónia.

Os primeiros resultados científicos apontam para que muitos dos processos geofísicos comuns na Terra também ocorrem em Titã, embora a química envolvida seja bastante diferente: em vez de água líquida, Titã tem metano líquido; em vez de rochas de silicatos, Titã tem gelo de água solidificado; em vez de poeira, Titã tem partículas de hidrocarboneto a depositarem-se no solo; e em vez de lava, os vulcões expelem gelo muito frio.

Titã é um extraordinário mundo com processos geofísicos semelhantes aos da Terra, que operam em materiais exóticos e em condições estranhas. Os cientistas estão verdadeiramente excitados com todos os resultados. E isto ainda é o início – os dados obtidos serão, certamente, objecto de estudo durante vários anos.

Fonte da notícia: http://www.esa.int/SPECIALS/Cassini-Huygens/SEMHB881Y3E_0.html