Missão Swift abre em cheio

2005-01-12

Em cima: imagem do remanescente de supernova Cassiopeia A, obtida pelo telescópio de raios-X da missão Swift, onde se pode observar o gás quente que restou da explosão estelar observada em 1680. Os raios-X de menor energia, a vermelho, representam material rico em ferro; os de energia média (material rico em silício) estão a verde; as energias mais elevadas estão representadas a azul. Ao centro: gráfico da primeira detecção de raios gama obtida pelo BAT. No eixo horizontal, está representado o tempo (em segundos), no vertical, o número de fotões de raios gama detectados. O gráfico mostra como foi breve a fulguração, durando apenas 7 segundos. Em baixo: imagem de raios gama obtida pelo BAT. A fonte brilhante em cima é Cygnus X-1 e a que se encontra em baixo é Cygnus X-3 (um binário de estrelas de neutrões). Esta última é considerada uma fonte modesta, mas o BAT conseguiu captá-la durante uma exposição de apenas 6 segundos e com apenas ¾ dos detectores activados. Crédito das imagens: NASA.
A NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
lançou com sucesso, no dia 20 de Novembro de 2004, o satélite destinado à missão Swift
Swift Gamma-ray Burst Explorer
O observatório espacial Swift é uma missão da NASA em colaboração com outros países, lançada em Novembro de 2004 e com uma duração prevista de 2 anos. O objectivo é estudar as fulgurações de raios gama em vários comprimentos de onda. Para tal, conta com três instrumentos: o Burst Alert Telescope (BAT), que monitoriza o céu em raios gama à procura das fulgurações, o telescópio de raios-X XRT e o telescópio óptico e ultravioleta UVOT.
, cujo principal objectivo é o de ajudar a revelar os mistérios em torno das fulgurações de raios gama
fulguração de raios gama
Uma fulguração de raios gama é uma potentíssima explosão, com consequente libertação de fotões gama, que ocorre em direcções aleatórias no céu. Descobertas acidentalmente nos anos 1960, sabe-se que algumas delas estão associadas a um tipo particular de supernovas, as explosões que marcam o fim da vida de uma estrela de massa elevada.
. Estas explosões ocasionais e de breve duração (de alguns milissegundos a um minuto) são responsáveis pela libertação de quantidades enormes de energia e é provável que muitas constituam sinais do nascimento de buracos negros
buraco negro
Um buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Em Astronomia, distinguem-se dois tipos de buraco negro: os buracos negros estelares, que resultam da morte de uma estrela de massa elevada, e os buracos negros galácticos, que existem no centro das galáxias activas.
.

A 17 de Dezembro de 2004, quando os cientistas ainda calibravam o principal telescópio a bordo da missão, o Burst Alert Telescope (BAT), este registou a primeira fulguração
fulguração
Uma fulguração é uma libertação de energia de forma explosiva da qual resulta um aumento rápido do brilho do astro no qual ocorre. São exemplo deste tipo de fenómenos as fulgurações solares, associadas às manchas solares, bem como as fulgurações de raios-X, que ocorrem em estrelas de neutrões, e de raios gama, que se sabe estarem relacionadas com as explosões de supernova.
de raios gama
raios gama
Os raios gama são a componente mais energética e mais penetrante de toda a radiação electromagnética. Os fotões gama possuem energias elevadíssimas, tipicamente superiores a 10 keV, às quais correspondem comprimentos de onda inferiores a umas décimas do Ångstrom. Este tipo de radiação é, por exemplo, emitido espontaneamente por núcleos atómicos de algumas substâncias radioactivas.
. Seguiram-se outras três fulgurações a 19 de Dezembro e mais uma a 20. Os resultados mais optimistas esperavam conseguir duas fulgurações por semana e não três num único dia e logo após o telescópio ter sido accionado. Segundo o Dr. Scott Barthelmy, do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA e líder da equipa do BAT, ou os cientistas tiveram muita sorte, ou subestimaram a frequência
frequência
Num fenómeno periódico, a frequência é o número de ciclos por unidade de tempo.
das fulgurações. Mas isso, só o tempo o dirá.

O BAT cobre um sétimo do céu, a qualquer momento. Quando detecta uma fulguração de raios gama, comunica de imediato a sua localização à base e o satélite é automaticamente redireccionado, virando-se para o local em questão. Os telescópios XRT, de raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
, e UVOT, de ultravioleta
ultravioleta
O ultravioleta á a banda do espectro electromagnético que cobre a gama de comprimentos de onda entre os 91,2 e os 350 nanómetros. Esta radiação é largamente bloqueada pela atmosfera terrestre.
/luz visível
radiação visível
A radiação visível é a região do espectro electromagnético que os nossos olhos detectam, compreendida entre os comprimentos de onda de 350 e 700 nm (frequências entre 4,3 e 7,5x1014Hz). Os nossos olhos distinguem luz visível de frequências diferentes, desde a luz violeta (radiação com comprimentos de onda ~ 400 nm), até à luz vermelha (com comprimentos de onda ~ 700 nm), passando pelo azul, anil, verde, amarelo e laranja.
, existentes a bordo, captam de seguida os dados complementares relativos à explosão. Uma vez calibrados os seus instrumentos, o satélite Swift será capaz de obter a quantidade de informação necessária para que se possa proceder à análise detalhada de fenómenos deste tipo.

O teste à missão foi feito com a observação de Cygnus X-1
Cisne X-1
O Cisne X-1 é uma forte fonte de raios-X na direcção do Cisne e é o primeiro candidato plausível para um buraco negro estelar. Esta fonte de raios-X, não observável em comprimentos de onda ópticos, faz parte de um sistema binário com um período de 5,6 dias, à distância apoximada de 8000 anos-luz. A companheira, HD 226868, é uma estrela azul supergigante de magnitude visual 9 e calcula-se que tenha uma massa entre 6 e 15 massas solares, o que indica que deve ser um buraco negro.
, uma fonte brilhante e bem conhecida de radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
gama, existente na nossa Galáxia
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
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O BAT é o detector de radiação gama mais sensível alguma vez posto em órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
. Emprega uma nova tecnologia de imagem e de localização da radiação. Ao contrário do que acontece com a luz visível, os raios gama atravessam os espelhos dos telescópios, por isso não podem ser reflectidos para um detector. A técnica utilizada, denominada coded aperture mask, utiliza uma máscara, do tamanho de uma mesa de bilhar e constituída por 52 000 blocos de chumbo colocados ao acaso. Os blocos de chumbo bloqueiam os raios gama que os atingem e impedem-nos de alcançarem os detectores. Em cada fulguração, alguns detectores recebem radiação e outros não, de modo que se forma uma sombra de raios gama nos detectores - o ângulo da sombra indica a direcção da fulguração de raios gama.

Durante a sua missão de dois anos, espera-se que o Swift venha a observar mais de 200 fulgurações de raios gama, o que irá garantir a realização de um estudo exaustivo deste tipo de fenómenos.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/vision/universe/watchtheskies/swift_first_light.html