A bordo da sonda Cassini-Huygens (NASA/ESA), encontram-se instrumentos, construídos pela Universidade do Colorado, em Boulder, que estão a ser usados para distinguir nos anéis de Saturno áreas de dimensões aproximadas às de um campo de futebol, com uma nitidez duas vezes superior à de qualquer observação prévia feita aos anéis. As imagens são conseguidas através do espectrógrafo de imagem ultravioleta, UVIS.

Os investigadores utilizaram uma técnica denominada “ocultação estelar”, que consiste em apontar o instrumento para uma estrela – neste caso para Xi Ceti – através dos anéis de Saturno e verificar as flutuações na luz da estrela que passa através deles. Deste modo foi possível obter informações sobre a estrutura e a dinâmica das partículas que constituem os anéis.

Segundo um dos investigadores, o sistema de Saturno pode ser comparado a um gigantesco disco de vinil, com o planeta no meio e os anéis estendendo-se para fora, a uma distância de mais de 64 000 quilómetros. Os anéis são constituídos por partículas de dimensões que podem ir desde o grão de poeira a algo semelhante a montanhas.

As observações realizadas pela Cassini mostram variações dramáticas no número de partículas dos anéis, em intervalos muito curtos. As partículas nos anéis individuais estão amontoadas, com a quantidade de material caindo abruptamente nas suas orlas. O espaço entre a presença e ausência de material em órbita em algumas orlas pode ser menor do que 50 metros. As orlas são muito pronunciadas e esse pronunciamento é especialmente evidente no anel C e também na chamada Divisão de Cassini, em qualquer um dos lados do brilhante anel B. Este facto ilustra bem a dinâmica que constringe os anéis contra a sua tendência natural para se dispersarem no espaço vazio contíguo. A gravidade de uma pequena lua próxima, assim como as colisões com meteoróides, são os responsáveis mais prováveis pelo facto de as partículas se encontrarem confinadas nos anéis.

O processo de “ocultação estelar”, utilizando o UVIS, ofereceu também imagens, de resolução muito elevada, de várias ondas de densidade encontradas nos anéis. As ondas de densidade são uma espécie de enrugamentos que os anéis apresentam e que são provocados por influência das luas de Saturno – no caso estudado trata-se da pequena lua Janus. O que acontece é que, em determinadas zonas dos anéis, conhecidas como zonas de ressonância, a órbita de uma lua particular iguala a órbita de certas partículas do anel e estas são impulsionadas por atracção gravitacional, gerando assim ondas de densidade. Estas ondas propagam-se a partir da zona de ressonância em direcção à lua perturbadora, com um efeito semelhante ao provocado por uma pedra caindo num charco. O estudo da configuração das cristas e depressões de onda ajuda os cientistas a perceber se as partículas do anel são mais ou menos resistentes. Uma análise das ondas de densidade, realizada por cientistas relacionados com a missão Voyager 2 da NASA que visitou Saturno em 1981, foi usada para determinar a massa e a espessura dos anéis do planeta.

Fonte da Notícia:
http://www.colorado.edu/news/releases/2004/351.html