Keck obtém imagens incríveis de Úrano

2004-11-19

Imagens de Úrano obtidas com o sistema de óptica adaptativa na câmara NIRC2, no Telescópio Keck II. Em cima observações a 2,2 µm revelam o sistema de anéis, pois o planeta aparece escuro, devido à absorção de metano. Crédito: H. Hammel & I. De Pater. No meio: observações a 2,2 µm revelam as nuvens de altitude elevada, enquanto que com o filtro de 1,6 µm, destacam-se as nuvens de baixa altitude, em particular o “colar” polar. Crédito: H. Hammel & I. De Pater. Em baixo: as duas imagens mostram lados opostos de Úrano. Trata-se de uma composição de imagens de infravermelho próximo: banda J (1,26 µm), a azul; banda H (1,62 µm), a verde; e banda K’ (2,1 µ), a vermelho. A imagem da esquerda revela 13 sistemas de nuvens e a da direita, mais de 18. O ponto branco e excepcionalmente brilhante na imagem da direita significa que as nuvens estendem-se a altitudes relativamente elevadas. Crédito: L. Sromovsky (UW-Madison Space Science and Engineering Center).
Quando a Voyager 2 se aproximou de Úrano
Úrano
É o sétimo planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. Com um diâmetro cerca de 4 vezes superior ao da Terra é o terceiro planeta gigante gasoso. A sua característica mais marcante é o facto de o seu eixo de rotação estar inclinado cerca de 97º em relação à eclíptica.
, há 18 anos, era o pico do Verão neste planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
distante. As mais recentes observações de Úrano mostram agora o planeta à medida que este se aproxima do seu equinócio
equinócio
O equinócio ocorre no momento em que o Sol, no seu movimento anual aparente, cruza o equador celeste, ou seja, quando o Sol passa num dos pontos equinociais (os dois pontos em que a eclíptica intersecta o equador celeste). Os equinócios ocorrem a 21 de Março - equinócio de Primavera - e a 23 de Setembro - equinócio de Outono; nestes dias, o dia e a noite têm igual duração.
outonal, que terá lugar em 2007 (o ano em Úrano dura 84 anos terrestres!). Duas equipas independentes utilizaram a câmara de infravermelhos
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
próximos NIRC2, munida dum sistema de óptica adaptativa
óptica adaptativa
A técnica de óptica adaptativa é um sistema óptico que se instala nos telescópios terrestres por forma a corrigir, em tempo real, os efeitos da turbulência atmosférica.
no Telescópio Keck II
W. M. Keck Observatory
O Observatório W. M. Keck é operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e pela NASA, e encontra-se localizado em Mauna Kea, no Havai. O observatório é constituído por dois telescópios gémeos de 10 metros, o Keck I e o Keck II.
, de 10 m, situado em Mauna Kea (Havai), para observar este planeta e assim estudar a sua atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
e o seu sistema de anéis.

Uma das equipas obteve imagens que mostram um anel até agora só observado uma vez pela Voyager 2. Trata-se do décimo primeiro anel, o mais interior, que tem 3500 km de largura, está centrado a cerca de 39 600 km do núcleo de Úrano e é mil vezes menos brilhante do que o anel mais brilhante de Úrano - o anel epsilon. Os astrónomos descobriram que os nove anéis principais são constituídos por apenas uma única camada de partículas, algo nunca antes observado num sistema de anéis planetários.

Como se pode ver na imagem de cima, o sistema de anéis é mais notório através do filtro de 2,2 mícron
mícron (µm)
O mícron (µm), ou micrómetro, é uma unidade de comprimento que corresponde à milésima parte do milímetro: 1µm = 10-3mm = 10-6 m.
porque a absorção
absorção de radiação
A absorção de radiação é um decréscimo da intensidade da radiação devido à energia dispendida na excitação ou ionização de átomos e moléculas do meio que atravessa.
de metano neste comprimento de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
mostra o planeta muito escuro à parte de umas nuvens de alta altitude. Em contraste, a imagem obtida através do filtro de 1,6 mícron evidencia a estrutura das nuvens mais baixas na atmosfera, incluindo nuvens individuais no hemisfério norte; a este comprimento de onda, os anéis mal se vêem. A estrutura em bandas, perto do hemisfério sul tem vindo a evoluir lentamente, indicando fortes sistemas de convecção na atmosfera, responsáveis pelo aparecimento de nuvens. O estudo continuado da atmosfera de Úrano tem vindo a demonstrar que, ao contrário do que se pensava, esta é extremamente activa e está em constante mutação.

Estes resultados foram obtidos por I. De Pater, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e seus colaboradores do Instituto de Ciências do Espaço (SSI), do Laboratório Nacional de Lawrence Livermpre, do Observatório Lowell e do Instituto SETI.

A segunda equipa, constituída por investigadores da Centro das Ciências e Engenharia Espaciais, da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), também obteve imagens no infravermelho próximo
infravermelho próximo
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 5 mícrones. Esta banda permite observar astros ou fenómenos com temperaturas entre 740 e 5200 graus Kelvin.
que mostram, com uma notável nitidez, a estrutura dos sistemas de nuvens em Úrano.

Encontra-se de tudo: sistemas pequenos, grandes, difusos, bem delineados, que evoluem rapidamente, ou estáveis durante anos. No hemisfério sul, uma tempestade já dura vários anos e vai deslocando-se ao longo de várias latitudes. No hemisfério norte, um comprido e estreito complexo de nuvens – talvez o maior até agora observado no planeta - dissipou-se totalmente em apenas um mês. Os sistemas mais dinâmicos parecem desenvolver-se mais a norte, onde se elevam a altitudes mais elevadas, gastando a sua energia e dissipando-se mais rapidamente.

Fonte da notícia: http://www.berkeley.edu/news/media/releases/2004/11/10_uranus.shtml
e http://www.news.wisc.edu/10402.html