Meteorito marciano encontrado na Antárctida

2004-07-26

MIL 03346. Pode-se ver a crosta de fusão, negra com cavidades, assim como o interior mais claro, no lado esquerdo. Crédito: ANSMET/Case Western University.
O programa norte-americano para a procura de meteoritos
meteorito
Um meteorito é um corpo sólido que entra na atmosfera da Terra (ou de outro planeta), sendo suficientemente grande para não ser totalmente destruído pela fricção com as partículas da atmosfera, e assim atingir o solo. Os meteoritos dividem-se em três categorias, segundo a sua composição: aerolitos (rochosos), sideritos (ferro) e siderolitos (ferro e rochas).
na Antárctida, ANSMET, anunciou a descoberta de um novo meteorito marciano. Esta rocha, oficialmente designada por MIL 03346, com dimensões 10x6x5,5 cm e 715 g de peso, é um dos 1358 meteoritos colhidos pela ANSMET durante o verão austral de 2003-2004. MIL 03346 foi encontrado num campo de gelo no Monte Miller, nas Montanhas Transantárcticas, a cerca de 750 km do Pólo Sul.

Os cientistas do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian Institution (EUA) envolvidos na classificação das descobertas da Antárctida concluíram que a mineralogia, textura e natureza oxidada desta rocha são claramente marcianas. Até hoje, foram descobertos 12 meteoritos invulgares, cuja origem remonta, quase de certeza, a Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
. Terão sido arrancados ao planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
vermelho por um impacto de um meteoróide no solo marciano, pois este é o único processo natural que se conhece que pode lançar uma rocha marciana para o espaço (a velocidade de escape de Marte é 5,4 km/s; um impacto capaz de ejectar rochas marcianas para o espaço deverá deixar uma cratera com 10 a 100 km de diâmetro).

A classificação dos meteoritos marcianos divide-os em 3 grupos. Este novo exemplar é o sétimo membro de um grupo de meteoritos marcianos chamados “nakhlitos”, cujo nome provém do facto do primeiro ter sido encontrado em Nakhla, no Egipto, em 1911. Os restantes grupos também devem os seus nomes ao local da descoberta do primeiro exemplar do respectivo grupo: Shergotty e Chassigny.

Os nakhlitos representam um grupo importante entre os meteoritos marcianos conhecidos. Pensa-se que tiveram origem num fluxo de lava espesso que cristalizou em Marte há cerca de 1300 milhões de anos, e foram enviados para a Terra por um impacto de um meteoróide em Marte há cerca de 11 milhões de anos. Se assim for, os nakhlitos são dos meteoritos marcianos mais antigos que se conhecem e por isso, testemunhos de segmentos relevantes da história vulcânica e ambiental de Marte.

Os 12 exemplares de meteoritos marcianos são rochas ígneas
rocha ígnea
A rocha ígnea, ou rocha magmática, pode formar-se à superfície, a partir do arrefecimento da lava vulcânica, ou abaixo desta quando o magma, retido em bolsas no interior do planeta, arrefece lentamente.
que cristalizaram a partir da lava da crosta dum corpo principal. Distinguem-se de outros meteoritos ígneos provenientes de asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
porque a sua origem tem de ser um corpo muito maior, um planeta. Comparados com os restantes meteoritos ígneos, os exemplares marcianos são mais jovens (menos de 1300 milhões de anos contra 4500 milhões de anos), têm fugacidades de oxigénio e quantidade de água e de outros voláteis mais elevadas, contêm minerais como o ferro e formam um padrão distinto na composição isotópica
isótopo
Chamam-se isótopos aos átomos cujos núcleos têm o mesmo número de protões (por isso, são o mesmo elemento químico), mas têm um número diferente de neutrões. O número atómico dos isótopos é igual, mas o número de massa é diferente.
do oxigénio.

A evidência conclusiva de que estes meteoritos tiveram origem em Marte vem da análise dos gases aprisionados no interior de um dos exemplares, que revelou que estes gases são quimicamente idênticos aos gases medidos na única amostra da atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
marciana obtida pela sonda Viking (NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
).

A descoberta de MIL 03346 é anunciada numa edição especial da Antarctic Meteorite Newsletter, acompanhada da descrição da amostra. Seguindo os protocolos do programa ANSMET, todos os cientistas à volta do mundo são convidados a requererem amostras deste novo exemplar para a sua própria investigação científica.

A descrição macroscópica revela que 60% do exterior de MIL 03346 é coberto por uma crosta de fusão
fusão
1- passagem do estado sólido ao líquido, por efeito do calor; 2- junção, união.
preta e enrugada; as áreas sem crosta de fusão são de um material cristalino preto com cavidades. O interior revela uma matriz cristalina de textura granulada, de cor verde escuro ou preto. O exame de uma secção fina revelou o domínio da clinopiroxena. A mesostase ocupa cerca de 20% da rocha e contém óxidos de titânio e ferro. Não se observa olivina.

O ANSMET resulta do esforço conjunto da NASA, da Fundação Nacional para a Ciência (EUA) e do Smithsonian Institution e encontra-se em funcionamento desde 1976.

Fonte da notícia: http://www.case.edu/news/2004/7-04/meteorite.htm