Descoberto novo método na selecção de possíveis sistemas planetários

2002-02-19

Imagem da nossa Galáxia, obtida pelo satélite COBE. A faixa azul que envolve e atravessa o centro da imagem é criada pelo disco de poeira que se encontra à volta do nosso Sistema Solar; a faixa brilhante horizontal no centro da imagem é criada pela poeira do disco da nossa Galáxia. Crédito: Michael Hauser (STScI), COBE/DIRBE e NASA.
Uma equipa de investigadores da ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
, liderada por Landgraf (Centro de Operações Espaciais), encontrou a primeira evidência directa da existência de um anel de poeira em torno do nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
. Este resultado reforça a ideia de que a existência de um anel de poeira em torno de estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
adultas (como o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
) é sinal da presença de um sistema planetário. Esta conjectura baseia-se no facto de se acreditar que os sistemas planetários são consequência da condensação de uma nuvem de gás e poeira, na qual os planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
se formam perto da estrela central, onde o material é mais denso. A distâncias maiores da estrela, o gás e a poeira são escassos e, por isso, podem apenas coalescer numa vasta banda de pequenos corpos de gelo. No nosso Sistema Solar, estes objectos formam a chamada cintura de Edgeworth-Kuiper, que se estende para além da órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
.

Em geral, a poeira ou é incorporada em corpos celestes de maior dimensão ou é ejectada do Sistema Solar. O facto de se ter constatado que ainda está presente no nosso Sistema Solar significa que algum mecanismo a produz. "Para gerar e manter um disco desta poeira, é necessário produzir 50 toneladas
tonelada (t)
A tonelada (t) é uma unidade de massa equivalente a 1000 kg.
por segundo", diz Landgraf. Esta equipa investigou que mecanismos podiam originar a poeira, concluindo que só as colisões entre os pequenos gelos da cintura de Edgeworth-Kuiper podem exlicar a sua presença. Como estes pequenos corpos são vestígios da formação dos planetas, deduz-se que sistemas planetários em torno de outras estrelas também produzirão anéis de poeira. Landgraf e os seus colaboradores estimaram a densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
de poeira no anel a partir do número de partículas detectadas pelas naves Pioneer. "Existe apenas uma partícula de poeira em cada 50 quilómetros cúbicos, mas é o suficiente para formar um anel de poeira brilhante como aquele que vemos à volta de outras estrelas", diz Landgraf.

De facto, já foram observados anéis que brilham intensamente no infra-vermelho em torno das estrelas Vega
Vega
Vega é a estrela mais brilhante da constelação da Lira e a quinta estrela mais brilhante do céu nocturno. Trata-se de uma estrela adulta (dita da sequência principal) de classe espectral A, a uma distância de 25 anos-luz.
e Epsilon Eridani. Missões futuras, como a missão Herschel da ESA, procurarão obter imagens detalhadas destes e doutros anéis, que possibilitarão aos astrónomos prever tamanhos e órbitas de planetas gigantes noutros sistemas solares.

"Se observarmos um anel de poeira em torno de uma estrela da sequência principal
estrela anã
Uma estrela anã, também dita estrela da sequência principal, é uma estrela não evoluída, que ainda se encontra na fase de fusão do hidrogénio em hélio, no seu núcleo.
(uma estrela adulta, como o Sol), saberemos que à sua volta deverão existir cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
ou asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
. Se detectarmos falhas nesse anel, então a estrela deverá ter planetas que varrem a poeira à medida que orbitam", diz Landgraf. Este resultado vem assim permitir que se elabore uma lista de estrelas-alvo para as missões da ESA destinadas à procura de planetas extra-solares
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
. Esta lista será constituída por estrelas nas quais se detectaram anéis de poeira, pois a sua presença aumenta a probablidade de aí detectarmos sistemas planetários.

Fonte da notícia: http://sci.esa.int/content/news/index.cfm?aid=1&cid=1&oid=29471