A superfície de Febe, observada pela Cassini, revela pistas sobre a sua origem

2004-07-05

Pormenor da superfície de Febe, observada pela sonda Cassini, quando o ângulo formado pelo Sol, Febe e Cassini era de aproximadamente 78º, e a uma distância de 11918 km. As riscas brilhantes, reveladas por aluimento das encostas de crateras gigantes, levam os cientistas a pensar que este pequeno satélite de Saturno é um corpo rico em gelo. A cratera que se pode observar do lado esquerdo da imagem tem aproximadamente 45 km de diâmetro, e algumas das riscas, que nela são visíveis, são da ordem dos 10 km de comprimento. A grande depressão, na qual a cratera assenta, tem aproximadamente 100 km de comprimento, e as vertentes, do topo à base, medem cerca de 20 km. Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.
Imagens de Febe, uma pequena lua de Saturno
Saturno
Saturno é o sexto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. Com um diâmetro cerca de 10 vezes o da Terra, é o segundo maior planeta do Sistema Solar. A sua característica mais marcante são os belos anéis que o rodeiam.
, recolhidas durante a aproximação da missão Cassini-Huygens
Cassini-Huygens (NASA/ESA)
A missão Cassini-Huygens é uma missão conjunta da NASA e da ESA dedicada a Saturno que foi lançada no dia 13 de Outubro de 1997. Esta missão é composta por duas sondas: a sonda Cassini cujo objectivo principal é o estudo de Saturno, da sua atmosfera e do seu campo magnético, e a sonda Huygens cujo objectivo é o estudo da atmosfera do maior satélite de Saturno, Titã. O ponto alto desta missão será sem dúvida o pouso da sonda Huygens na superfície de Titã.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
/ASI) a Saturno, produziram fortes sinais de que o pequeno corpo deverá conter material rico em gelo, coberto por uma fina camada (com espessura de 300 a 500 metros) de material mais escuro.

A superfície de Febe está fortemente marcada por crateras, de grandes e pequenas dimensões. As imagens revelam a existência de franjas de riscas brilhantes nas encostas das crateras maiores, de uma espécie de fios brilhantes que partem das crateras mais pequenas, e também de canais contínuos ao longo de toda a superfície observada.

Tudo indica que as riscas brilhantes nas crateras de maiores dimensões são zonas expostas por desmoronamento das suas encostas íngremes. Esse desmoronamento pode ter sido devido ao impacto directo de um pequeno projéctil na encosta da cratera preexistente, ou então desencadeado por outro impacto, ocorrido noutro lugar, sobre a superfície da lua Febe.

As crateras mais pequenas são provavelmente resultado de uma enorme quantidade de pequenos impactos, de projécteis com dimensões menores do que 100 metros. Segundo a Dra. Carolyn Porco, líder do grupo de estudo de imagem no Space Science Institute, no Colorado (EUA):
“O grupo está neste momento a travar um aceso debate sobre a interpretação dos dados obtidos. Com base nas imagens, alguns de nós estamos inclinados para a ideia, que tem sido recentemente difundida, de que Febe é provavelmente rico em gelo, e que pode muito bem ser um objecto que teve origem no Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
exterior, mais relacionado com os cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
e com os objectos da Cintura de Kuiper
Cintura de Kuiper
A Cintura de Kuiper é uma região em forma de disco, localizada depois de Neptuno, entre 30 e 50 UA do Sol. É constituída por muitos pequenos corpos gelados, restos da formação do Sistema Solar, e é a fonte dos cometas de curto-período. O primeiro objecto da Cintura de Kuiper, 1992QB1, com 240 km de diâmetro, só foi descoberto em 1992, mas desde então já se conhecem centenas de objectos da Cintura de Kuiper (KBO, do inglês Kuiper Belt Object). Há astrónomos que consideram Plutão, e a sua lua Caronte, objectos da Cintura de Kuiper.
que com os asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
.”

Sendo assim, Febe pode ser uma espécie de intruso gelado, vindo das regiões mais distantes do Sistema Solar, e que, a dada altura, se viu capturado pelo gigante Saturno, durante os seus primeiros anos de formação.

O Dr. Torrence Johnson, do grupo de imagem do Laboratório de Propulsão a Jacto, da NASA, diz o seguinte: “Penso que estas imagens nos estão a mostrar um vestígio antigo dos corpos que se formaram, há quatro mil milhões de anos, nas regiões mais afastadas do Sistema Solar. Atingido como foi, encontra-se danificado, mas mesmo assim ainda nos fornece pistas para podermos determinar a sua origem e a sua história.”

Tentando apurar a origem de Febe, os especialistas estão a registar as diferenças importantes entre a superfície de Febe e a de alguns asteróides para os quais existem imagens com resoluções semelhantes, tais como Ida, Matilde e Eros, e também os pequenos satélites de Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
. Em nenhum deles se detectou o brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
pontilhado, que se observa nas pequenas crateras de Febe.

As áreas observadas em imagens de resolução mais elevada também contêm indícios para a compreensão da estrutura interna de Febe, que, tal como a descreveu o Dr. McEwen, membro da equipa de tratamento de imagem da Universidade do Arizona: “é um mundo de formas naturais dramáticas, com crateras por todo o lado, deslizamentos de terra, e estruturas lineares tais como sulcos, cumes, e cadeias de concavidades. Tudo isto são pistas, que irão ser analisadas atentamente de forma a ser possível entender as suas origens e a sua evolução.”

As conclusões finais aguardam a combinação dos resultados sobre a estrutura de superfície, massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
e composição de Febe, fornecidos pelos 11 instrumentos encarregues da recolha de dados, durante a aproximação ocorrida a 11 de Junho de 2004.

Fonte da notícia: http://saturn.jpl.nasa.gov/news/press-releases-04/20040614-pr-a.cfm