VLT testemunha choque numa família de galáxias

2004-06-15

As galáxias NGC 6769 (em cima, à direita), 6770 (em cima, à esquerda) e 6771 (em baixo), vistas com o instrumento VIMOS no telescópio Melipal do VLT (ESO). É uma composição de imagens foram obtidas em 3 bandas diferentes, representadas por 3 cores diferentes: banda U, centrada em 380 nm, representada a azul; banda B, centrada em 425 nm, representada a verde; e banda V, centrada em 550 nm, a vermelho. Crédito: ESO.
Tal como o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
faz parte da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
, as estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
pertencem a galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
. Por sua vez, as galáxias são membros de enxames de galáxias
enxame de galáxias
Um enxame, ou aglomerado, de galáxias é um conjunto de galáxias gravitacionalmente ligadas. A Via Láctea pertence ao aglomerado chamado Grupo Local de galáxias. O enxame de galáxias mais próximo de nós é o Enxame da Virgem.
– a Via Láctea, com Andrómeda e outras galáxias menores, pertence ao Grupo Local
Grupo Local de galáxias
O Grupo Local de galáxias é o enxame de galáxias a que a Via Láctea pertence. É um enxame pequeno, constituído por duas galáxias espirais grandes - Andrómeda e a Via Láctea - e por mais de quarenta pequenas galáxias, muitas só descobertas recentemente.
. Dentro dos enxames, as galáxias movem-se umas em volta das outras, num lento e gracioso bailado. Mas, de quando em quando, dois ou mais membros aproximam-se mais, e a dança acelera o ritmo, podendo dar origem a acontecimentos dramáticos, como quando as galáxias acabam por colidir.

Observações realizadas com o instrumento VIMOS, instalado no telescópio Melipal – um dos 4 telescópios de 8,2 m do VLT
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
(ESO
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
), no Observatório do Paranal (Chile) – testemunharam encontros próximos dentro de um enxame de galáxias. Na imagem ao lado, podemos ver em cima NGC 6769 (à direita) e NGC 6770 (à esquerda), duas galáxias de tamanho e brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
semelhantes, e ainda a galáxia NGC 6771 (em baixo), com metade do brilho e dimensão ligeiramente menor. As três galáxias possuem um bojo central de brilho semelhante, constituído por estrelas vermelhas, velhas – note-se o bojo de NGC 6771, com uma forma achatada, uma rara ocorrência.

São muitos os indícios da interacção forte entre estas galáxias. NGC 6769 é uma galáxia espiral, com braços espirais
braço espiral
Um braço espiral de uma galáxia é uma estrutura curva no disco de uma galáxia espiral (ou, em alguns casos, de uma galáxia irregular), constituída por estrelas jovens, aglomerados de estrelas, nebulosas, gás e poeiras.
apertados, enquanto NGC 6770 tem dois braços espirais principais, sendo um bastante estreito e a apontar para a região mais externa do disco de NGC 6769. NGC 6770 apresenta duas faixas escuras estreitas, assim como um arco de fraco brilho que curva para a galáxia de baixo, NGC 6771. Também é óbvio a partir destas imagens que estrelas e gás foram arrancados de NGC 6769 e NGC 6770, e formam um envelope à volta delas. Também parece exixtir uma ténue ponte entre NGC 6769 e NGC 6771. Todas estas características reveladas na imagem testemunham a forte interacção gravitacional entre as três galáxias. A distorção na faixa escura de poeira de NGC 6771 também pode ser interpretada como mais uma evidência das interacções gravitacionais.

NGC 6769 e NGC 6770 estão a afastar-se de nós à mesma velocidade, 3800 km/s (desvio para o vermelho
desvio para o vermelho (z)
Designa-se por desvio para o vermelho (em inglês, redshift) o desvio do espectro de um objecto para comprimentos de onda mais longos. O desvio para o vermelho pode dever-se ao movimento do objecto a afastar-se do observador (desvio de Doppler), ou à expansão do Universo (desvio para o vermelho cósmico, ou gravitacional). O desvio para o vermelho cósmico permite estimar a distância a que o objecto se encontra: quanto maior o desvio, mais distante o objecto. O desvio de Doppler permite calcular a velocidade a que o objecto se desloca.
de 0,01), enquanto que a velocidade de NGC 6771 é ligeiramente superior, 4200 km/s.

As aproximações de galáxias, apesar do carácter destrutivo, são também verdadeiras catalizadoras de surtos de novas estrelas. Uma catástrofe cósmica como esta normalmente dá origem à formação de muitas novas estrelas, que é evidente na imagem: a natureza azulada dos braços espirais de NGC 6769 e NGC 6770, e a presença de muitos locais de regiões de estrelas em formação.

Fonte da notícia: http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2004/phot-12-04.html