Hubble observa Sedna, o planetóide mais longínquo que se conhece no nosso Sistema Solar

2004-05-10

Em cima: imagem da região do céu onde se encontra Sedna e na qual se desenhou, a verde, o movimento aparente do planetóide desde 2003 até 2005. O trajecto em loops deve-se ao facto da Terra orbitar o Sol, o que cria a ilusão de que Sedna se desloca para trás na sua órbita. Este efeito de projecção é chamado de movimento retrógrado; outros objectos do Sistema Solar, como por exemplo Marte, também apresentam este tipo de movimento. Em baixo, à esquerda: devido ao movimento da Terra em torno do Sol, Sedna parece mover-se ligeiramente ao longo das 35 exposições obtidas pelo Hubble no dia 16 de Março - o movimento de Sedna no espaço é demasiado lento para ser detectado nestas imagens. O facto de Sedna mostrar este desvio de paralaxe entre exposições demonstra que Sedna se encontra muito mais perto da Terra do que a estrela de fundo que aparece no campo de visão. Em baixo, à direita: Sedna encontra-se tão distante de nós (13 mil milhões de quilómetros) que fica reduzido a um pixel na imagem obtida com a câmara ACS do Hubble em modo de alta resolução; nenhum satélite companheiro é detectado. Crédito: NASA, ESA & M. Brown (Caltech).
A 15 de Março deste ano, uma equipa de astrónomos, liderada por M. Brown (Instituto Tecnológico da Califórnia, EUA), anunciou a descoberta de um objecto que se encontra a 13 mil milhões de quilómetros de nós (ver notícia de 17/03/2004). Este planetóide, oficialmente designado por 2003VB12 e ao qual os seus descobridores baptizaram de Sedna, tornou-se o objecto mais distante do nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
a ser detectado até hoje. As observações indicaram que Sedna tem um movimento de rotação sobre si mesmo muito lento, o que é facilmente explicável se Sedna possuir um satélite companheiro.

A 16 de Março, o Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) apontou para Sedna à procura da sua lua companheira, pois o Hubble tem o poder de resolução necessário para tal detecção. Surpreendentemente, as 35 imagens obtidas com a câmara ACS mostram apenas Sedna e uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
de fundo (muito distante e de fraco brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
) no mesmo campo de visão. Ou seja, o Hubble não detectou nenhuma lua de Sedna de tamanho substancial. Sedna aparece reduzido a um elemento de imagem (um pixel), o que impõe um limite superior ao tamanho do planetóide: cerca de 1600 km, ou seja, 3/4 do diâmetro de Plutão
Plutão
Plutão é, na maior parte do tempo, o nono e último planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas devido à sua órbita excêntrica, durante algum tempo aproxima-se mais do Sol do que Neptuno. É um planeta singular em muitos aspectos: é o mais pequeno (cerca de 1/500 o diâmetro da Terra), tem uma composição muito rica em gelos, possui a órbita mais excêntrica e inclinada em relação à eclíptica, e tem, tal como Úrano, o seu eixo de rotação muito inclinado (122º) em relação à eclíptica.
.

M. Brown tinha sugerido a existência de um satélite companheiro com base nas observações anteriores, realizadas com telescópios na Terra. A curva de luz de Sedna indicava um período de rotação muito longo, entre 20 e 50 dias, o que é extraordinário para um pequeno corpo singular do nosso Sistema Solar. Só Mercúrio
Mercúrio
Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol. É o mais pequeno dos planetas rochosos, com um diâmetro cerca de 40% menor do que o da Terra.
e Vénus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
têm períodos de rotação menores e isso deve-se à influência gravitacional do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. Os pequenos corpos singulares do Sistema Solar, como por exemplo os asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
e os cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
, completam uma rotação sobre si mesmo tipicamente numa questão de horas. Por outro lado, Plutão roda em 6 dias devido à ligação gravitacional que possui com o seu satélite Caronte (imagens obtidas com o Hubble resolvem facilmente Plutão e Caronte em dois corpos distintos).

A ausência de uma lua companheira de Sedna dificulta a interpretação das observações. Há ainda a hipótese, embora muito pequena, do Hubble não ter detectado o satélite por este estar eclipsado, por detrás de Sedna, ou em trânsito
trânsito
Designa-se por trânsito a passagem de um objecto astronómico à frente do disco de um objecto maior e mais longínquo. Por exemplo, o trânsito de Vénus diante do Sol.
, à sua frente. Uma outra forma de resolver o dilema é a possibilidade de o período de rotação não ser tão lento como os astrónomos pensam. Mas após uma cuidada re-análise dos dados observacionais, a equipa de Brown permanece convencida que o período está correcto. Segundo Brown, Sedna torna-se ainda mais interessante depois de observada com o Hubble, pois neste momento nenhuma explicação óbvia existe para a sua rotação tão lenta.

Fonte da notícia: http://hubblesite.org/newscenter/newsdesk/archive/releases/2004/14/text/