Mars Express confirma a existência de metano na atmosfera marciana

2004-04-16

Esta imagem de alta resolução do vulcão Hecates Tholus foi tomada com a High Resolution Stereo Camera (HRSC) da Mars Express a uma altitude de 275 km. A imagem mostra a caldeira do Hecates Tholus, o vulcão mais a Norte do grupo de vulcões Elysium. O vulcão revela múltiplos colapsos da caldeira. Nos flancos deste vulcão podem ver-se várias estruturas relacionadas com água (linhas radiais) e com lava (como colares de contas). O vulcão tem uma elevação de 5300 m, a caldeira tem um diâmetro máximo de 10 km e uma profundidade de 600 m. O centro da imagem está a 150° Este e 31.7° Norte. A direcção Norte está para cima na imagem.
Desde que chegou a Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
, a sonda Mars Express
Mars Express
Mars Express é uma sonda da Agência Espacial Europeia (ESA) lançada a 2 de Junho de 2003 e que alcançou Marte em Dezembro de 2003. A Mars Express entrou numa órbita à volta de Marte, onde permanecerá a cumprir os seus objectivos: fotografar toda a superfície de Marte em alta resolução (e algumas áreas seleccionadas em super-resolução); mapear a composição mineral da superfície; mapear a composição da atmosfera e determinar a sua circulação global; estudar a estrutura do subsolo até uma profundidade de alguns quilómetros; estudar o efeito da atmosfera na superfície; determinar a interacção entre a atmosfera e o vento solar. A Mars Express levava a bordo o Beagle 2, que foi lançado para pousar na superfície de Marte, mas que nunca deu notícias e é considerado perdido.
(ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) começou a produzir resultados impressionantes. Um dos objectivos da missão é a análise detalhada da composição química da atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
marciana, que se sabe ser constituída por 95% de dióxido de carbono e 5% de outros constituintes. É destes outros constituintes, que os cientistas crêem incluir oxigénio, água, monóxido de carbono, formaldeído e metano, que poderemos obter informação importante acerca da evolução de Marte e possíveis implicações para a presença de vida passada ou presente naquele planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
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A presença de metano foi confirmada graças às observações realizadas com o Planetary Fourier Spectrometer (PFS), instalado a bordo da Mars Express, durante as últimas semanas de Março. Este instrumento é capaz de detectar a presença de moléculas
molécula
Uma molécula é a unidade mais pequena de um composto químico, sendo constituída por um ou mais átomos, ligados entre si pelas interacções dos seus electrões.
particulares através da análise das suas impressões espectrais - a maneira específica como cada molécula absorve a luz que recebe do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
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Até ao momento, as medidas confirmam que a quantidade de metano é muito pequena - cerca de 10 partes por milhar de milhão - pelo que o processo que o produz é provavelmente pequeno. Então, a questão que se põe é: De onde vem este metano? A não ser que seja continuamente produzido por alguma fonte, o metano só pode sobreviver algumas centenas de anos na atmosfera marciana porque se oxida rapidamente formando água e dióxido de carbono, ambos presente na atmosfera marciana. Assim, deve existir um mecanismo que reabastece permanentemente a atmosfera com metano.

Contudo, primeiro há que entender como está distribuído o metano na atmosfera marciana. Como a presença do metano é muito reduzida, mais medições serão necessárias para permitir uma análise estatística e saber se há regiões da atmosfera onde a concentração de metano é maior. Isso permitirá estabelecer uma ligação entre a distribuição de metano à escala planetária e os possíveis processos na atmosfera ou à superfície capazes de o produzir.

A nossa experiência na Terra diz-nos que a produção de metano pode estar ligada a actividade vulcânica ou hidrotérmica em Marte. A High Resolution Stereo camera (HRSC) da Mars Express pode vir a ajudar a identificar esses tipos de actividade, o que por si só seria um resultado importante já que até agora não se detectou nenhuma actividade vulcânica presentemente em Marte.

Mas existe também uma outra hipótese muito interessante. Na Terra, sabemos que o metano é um produto secundário da actividade biológica, como por exemplo a fermentação. Se tivermos de excluir a hipótese vulcânica, poderemos ainda considerar a possibilidade de vida. Nas próximas semanas, o instrumento PFS e outros instrumentos a bordo da Mars Express continuarão a recolher dados sobre a atmosfera marciana, sendo então possível um quadro mais preciso.

Fonte da notícia: http://www.esa.int/esaCP/SEMZ0B57ESD_index_0.html