Se procura novas Terras, procure poeira

2004-03-29

Visão artística de um sistema planetário extra-solar visto a partir de uma lua de um dos planetas. Crédito: David A. Hardy (astroart.org), PPARC.
O nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
formou-se a partir de um disco de gás e poeira, chamado um disco protoplanetário, em órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. Como os mesmos materiais se encontram por toda a Galáxia
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
, as leis da física prevêem que outros sistemas estelares formarão planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
de um modo semelhante.

Ainda que os planetas possam ser comuns, a sua detecção é difícil devido ao seu baixo brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
e à proximidade da estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
. Assim, os astrónomos procuram planetas buscando indícios indirectos da sua existência. Em sistemas planetários jovens, esses indícios podem estar presentes no próprio disco e no modo como o planeta afecta a poeira do disco onde se forma.

Os planetas grandes, do tamanho de Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
, têm um efeito gravitacional forte que afecta o disco poeirento. Um Júpiter pode gerar um "buraco" em forma de anel no disco de poeira, pode torcer o disco poeirento, ou deixar um padrão na distribuição da poeira do disco, o equivalente à "espuma" que a passagem de um navio deixa no mar.

Por outro lado, os planetas pequenos, do tamanho da Terra, têm um efeito gravitacional mais fraco, afectando menos o disco e deixando sinais mais subtis da sua presença. Em vez de procurar discos torcidos, ou com padrões na poeira, deve-se tentar ver como é o sistema estelar no infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
. Estrelas com discos poeirentos brilham mais no infravermelho que estrelas sem discos. Quanto mais poeira tiver o sistema estelar, mais brilhante será no infravermelho.

Os astrónomos Scott Kenyon (Observatório Astrofísico Smithsonian) e Benjamin Bromley (Universidade do Utah) mostraram recentemente que o brilho no infravermelho permite não só detectar discos, como também dizer quando um planeta como a Terra se está a formar nesse disco.

A teoria prevalecente para a formação de planetas - Teoria da Coagulação - diz que pequenos pedaços de material do disco protoplanetário (planetesimais) se colam uns aos outros quando colidem. Ao longo de milhares de anos, os pequenos pedaços vão crescendo e ficando maiores. Eventualmente, os pedaços ficam tão grandes que se tornam planetas de pleno direito.

Segundo o modelo de Kenyon e Bromley, o processo de formação de planetas é notavelmente eficiente. Inicialmente a colisão entre planetesimais dá-se a velocidades baixas, pelo que os objectos que colidem tendem a crescer. À distância Terra-Sol típica, demora apenas 1000 anos para que um objecto de 1 km cresça até aos 100 km; em mais 10 000 anos, chega aos 1000 km; e com mais 10 000 anos, alcança os 2000 km de diâmetro. Ou seja, objectos do tamanho da Lua
Lua
A Lua é o único satélite natural da Terra.
podem formar-se em apenas 20 000 anos.

À medida que os planetesimais crescem, o seu efeito gravitacional também se vai tornando mais forte. Uma vez que os objectos chegam aos 1000 km, começam a "remexer" os objectos menores restantes. Como resultado, a gravidade actua como uma fisga que dispara os pedaços de rocha de tamanhos de asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
a velocidades mais altas. Estes pedaços viajam tão depressa que, em vez de se colarem quando colidem, pulverizam-se. Assim, enquanto que os protoplanetas maiores continuam a crescer, os pequenos vão-se moendo e tornando poeira.

A poeira forma-se exactamente onde se forma o planeta, à mesma distância da sua estrela. Como resultado, a temperatura da poeira indica o local de formação do planeta. A poeira numa órbita como a de Vénus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
será mais quente que a poeira de uma órbita como a da Terra, dando uma indicação da distância do planeta bebé ao seu sol.

O tamanho dos objectos maiores determina a taxa de produção de poeira. A quantidade de poeira tem um pico quando se formam protoplanetas de 1000 km. Tais picos deverão ser detectáveis com o Telescópio Espacial Spitzer
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
).

Fonte da notícia: http://cfa-www.harvard.edu/press/pr0408.html