Rover Opportunity reúne fortes evidências de um passado de água líquida em Marte

2004-03-16

Em cima: esta imagem obtida com a câmara panorâmica mostra detalhes da região “El Capitan”. Note-se: a fina estratificação paralela da área superior da rocha; as esférulas, com diâmetros entre 1 e 2 milímetros; e, mais abundantes, as pequenas cavidades, com cerca de 1 cm de comprimento - os vacúolos. Crédito: NASA/JPL/Cornell. No meio: esta imagem obtida com a câmara microscópica mostra em detalhe uma zona de El Capitan. O canto superior esquerdo ilustra como os grãos desta região podem estar arranjados em planos de forma a criarem a estratificação paralela que se observa na imagem de cima. No canto superior direito, pode-se observar como a granulação é modificada perto das duas esférulas que aqui se encontram (talvez devido à interacção com um fluído). Crédito: NASA/JPL/US Geological Survey. Em baixo: detalhe de El Capitan, obtido pela câmara microscópica. Em baixo e à esquerda, pode-se ver uma esférula a penetrar dentro de uma cavidade (vacúolo). Crédito: NASA/JPL/Cornell/US Geological Survey.
As primeiras imagens enviadas pelo Opportunity (NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
), um dos dois rovers da missão para a exploração de Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
, chegaram há 5 semanas e foram especialmente bem recebidas porque mostraram que o rover tinha aterrado, em Meridiani Planum, perto dum afloramento rochoso, no interior de uma pequena cratera. Durante as últimas 3 semanas, o rover tem estudado o afloramento, fazendo inspecções pormenorizadas de zonas seleccionadas. Utilizando os seus diferentes espectrómetros
espectrómetro
O espectrómetro é um instrumento cuja função é medir os comprimentos de onda de um determinado espectro de luz, permitindo identificar as espécies químicas responsáveis pelas riscas existentes nesse espectro.
e câmaras de imagem, já reuniu fortes evidências de um passado molhado naquela região de Marte.

O Opportunity possui um espectrómetro de raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
de partículas alfa
partícula alfa (partícula α)
Chama-se partícula alfa (partícula α) ao núcleo do átomo de hélio 4He, constituído por dois protões e dois neutrões. As partículas-α são emitidas por núcleos atómicos de muitos elementos radioactivos, nos chamados decaimentos alfa.
que permite identificar os elementos químicos
elemento químico
Elemento composto por um único tipo de átomos. Os elementos químicos constituem a Tabela Periódica.
de pequenas amostras. A análise de uma das rochas do afloramento, a que os cientistas chamaram “McKittrick”, revelou uma elevada concentração de enxofre e bromo quando comparada com uma amostra do solo. Uma outra rocha, Guadalupe, que se encontra próxima, também apresenta uma elevada concentração de enxofre, mas muito pouco bromo. A análise destas rochas sugerem que o enxofre se encontra essencialmente sob a forma de sais de sulfato (por exemplo, sulfato de magnésio).

No mesmo local, o espectrómetro de Mössbauer, que identifica minerais com ferro, detectou um sulfato de ferro hidratado chamado jarosite. E, reforçando ainda mais os resultados, o mini-espectrómetro de emissão térmica também determinou a presença de sais.

Ora, a descoberta dos sais é extremamente importante. Na Terra, rochas que possuem uma concentração de sais tão elevada como estas rochas em Marte formaram-se na água, ou, após a sua formação, foram altamente modificadas por longas exposições à água. A presença de jarosite pode estar ainda a indicar que essa exposição à água se deu num lago acídico, ou num ambiente de fontes termais acídicas.

As outras evidências do passado de água líquida em Marte vêm da aparência física das rochas. Imagens obtidas pela câmara panorâmica e pela câmara microscópica do Opportunity revelam que uma rocha, a que chamaram “El Capitan”, está totalmente preenchida por pequenas reentrâncias, com 1 cm de comprimento e 0,25 cm, ou menos, de largura, e sem nenhuma orientação preferencial. Na Terra, esta textura é familiar aos geólogos. Os sais minerais que se formam em rochas que estão submersas em água salgada e cujos cristais mais tarde desaparecem (devido à erosão, ou por se dissolverem em água menos salgada) deixam cavidades na rocha, chamados vacúolos. A geometria dos vacúolos em El Capitan está conforme o que se esperaria após o desaparecimento dos cristais de minerais.

As imagens das rochas do afloramento mostram partículas redondas embebidas na rocha, chamadas esférulas, com diâmetros entre 1 e 2 mm. A forma destas esférulas indica que a sua origem pode dever-se: a uma erupção vulcânica; a um impacto de meteorito
meteorito
Um meteorito é um corpo sólido que entra na atmosfera da Terra (ou de outro planeta), sendo suficientemente grande para não ser totalmente destruído pela fricção com as partículas da atmosfera, e assim atingir o solo. Os meteoritos dividem-se em três categorias, segundo a sua composição: aerolitos (rochosos), sideritos (ferro) e siderolitos (ferro e rochas).
; ou à acumulação de minerais provenientes de uma solução dentro de uma rocha porosa embebida em água. As observações efectuadas pelo Opportunity mostraram que as esférulas não estão concentradas em nenhuma camada específica do afloramento, o que não favorece, nem a origem vulcânica, nem a de impacto, das esférulas, embora também não possa pôr totalmente de parte essas origens.

As imagens revelam ainda a presença de uma estratificação entrecruzada (camadas de rocha que assentam com um certo ângulo relativamente às camadas principais) que pode ser o resultado da acção do vento ou da água. A análise preliminar das imagens obtidas pelo Opportunity sugere que a estratificação entrecruzada presente na rocha contém marcas da acção da água, como por exemplo, a pequena escala da estratificação entrecruzada e possíveis padrões côncavos formados por cristas sinuosas submersas na água. As imagens não permitem ainda tirar conclusões definitivas e por isso os cientistas vão manobrar o rover de forma a que este possa obter imagens mais próximas da rocha.

Fonte da notícia: http://marsrovers.jpl.nasa.gov/newsroom/pressreleases/20040302a.html