Nos últimos anos, os astrónomos têm obtido medidas detalhadas do fundo de radiação de microondas cósmicas - o eco do nascimento do Universo. Os resultados parecem indicar, com uma precisão notável, que o nosso Universo é dominado pelas misteriosas matéria escura fria e energia escura. Mas agora, um grupo de investigadores encontrou indicações de que os ecos de microondas primordiais podem ter sido modificados, ou "corrompidos", na sua viagem de 13 mil milhões de anos até à Terra. Os resultados desta equipa da Universidade de Durham (Reino Unido), dirigida por Tom Shanks, baseiam-se numa nova análise dos dados do satélite Wilkinson Microwave Anisotropy Probe (WMAP), da NASA.

A equipa descobriu que os aglomerados de galáxias próximos parecem situar-se em regiões do céu onde a temperatura das microondas é menor que a média. Este comportamento poderia ser explicado se o gás quente dos aglomerados de galáxias tivesse interactuado com os fotões do Big Bang que por ele passavam e tivesse corrompido a informação contida neste eco primordial. Os físicos Russos R. A. Sunyaev e Ya. B. Zeldovich previram este efeito no principio dos anos 1970, pouco depois da descoberta da radiação cósmica de fundo.

O efeito Sunyaev-Zeldovich já fora detectado em observações detalhadas do fundo de microondas na vizinhança de aglomerados de galáxias ricos e a própria equipa do WMAP já tinha relatado o efeito nos seus dados, perto do centro de aglomerados.

Os novos resultados indicam que o gás quente dos aglomerados de galáxias pode influenciar o fundo de microondas até um raio de quase um grau a partir do centro dos aglomerados, o que significa uma área muito maior do que anteriormente detectada. Isto sugere que as posições de "aglomerados de aglomerados", ou superaglomerados, podem também coincidir com pontos frios no padrão das flutuações do fundo de microondas.

Os fotões do fundo de microondas são dispersos por electrões de aglomerados próximos causando modificações importantes na radiação que nos chega. Se os aglomerados de galáxias situados a vários milhares de milhões de anos-luz da Terra também tiverem o mesmo efeito, então teremos de pensar se não será necessário modificar a nossa interpretação dos mapas do fundo de radiação de microondas.

Se os resultados de Durham forem confirmados, as consequências para a cosmologia podem ser altamente significativas. As assinaturas da matéria e energia escura residem na estrutura detalhada das minúsculas variações de temperatura do fundo de microondas geradas quando o Universo era mil vezes menor do que hoje.

Se o padrão primordial foi corrompido por processos que tiveram lugar no passado recente, muito depois das galáxias e aglomerados de galáxias se terem formado, então, no melhor dos casos, complicará a interpretação do eco de microondas, e, no pior dos casos, minará as provas anteriores da presença da energia escura e da matéria escura fria. Ainda que a evidência observacional do modelo cosmológico padrão continue a ser forte, o modelo contém aspectos muito incómodos já que se baseia em duas peças de "física desconhecida" - matéria escura fria e energia escura - nenhuma das quais foi detectada em laboratório.

Fonte da notícia: http://www.ras.org.uk/html/press/pn0401ras.html