Divulgadas as primeiras observações do Telescópio Espacial Spitzer

2004-01-15

Imagem da estrutura Herbig-Haro 46/47 obtida pelo Spitzer Space Telescope. Os telescópios ópticos eram apenas capazes de detectar uma mancha opaca (canto inferior esquerdo). No infravermelho (imagem grande) a mesma estrutura revela actividade química e física nesta região de formação estelar. Crédito: NASA/JPL-Caltech.
Um instrumento a bordo do telescópio de infravermelhos
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
Spitzer Space Telescope
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
) obteve recentemente as primeiras imagens desde que foi colocado em órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
em 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, cujo nome anterior era Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX.

Colocado em órbita em 25 de Agosto de 2003, o telescópio Spitzer leva a bordo um espectrógrafo de infravermelhos, o IRS (do Inglês InfraRed Spectrograph). Recentemente, numa conferência de imprensa dada em Dezembro de 2003, o Prof. James Houck da Universidade de Cornell (EUA), chefe da equipa do IRS, apresentou as primeiras observações e dados obtidos com este observatório. Entre as observações mais espectaculares encontram-se imagens obtidas com a câmara de infravermelho e o seu fotómetro multi-banda. As imagens incluem um berçário estelar, uma galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
poeirenta distante, um disco de resíduos da formação de planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
, e material orgânico no universo distante.

O IRS, um dos três instrumentos a bordo do telescópio espacial, é o espectrógrafo de infravermelho mais sensível até agora enviado para o espaço. Em menos de 15 minutos obteve um espectro da galáxia distante IRAS
InfraRed Astronomical Satellite (IRAS)
O IRAS foi o primeiro satélite astronómico de infravermelhos colocado em órbita, em 1984, pela NASA. Este satélite mapeou cerca de 96% de todo o céu em 4 bandas (ou filtros) centradas nos comprimentos de onda de 12, 25, 60 e 100 mícrones.
00183, que foi observada pela primeira vez em 1983 pelo InfraRed Astronomical Satellite (IRAS). O espectro revelou indícios de química orgânica em IRAS 00183, uma galáxia incrivelmente luminosa situada a uns 3,25 mil milhões de anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
da Terra. Esta potentíssima fonte, com uma luminosidade
luminosidade
A luminosidade (L) é a quantidade de energia que um objecto celeste emite por unidade de tempo e em determinado comprimento de onda, ou em determinada banda de comprimentos de onda.
de 10 biliões de vezes a do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, é uma das galáxias mais luminosas alguma vez detectada.

Numa imagem óptica, a galáxia IRAS 00183 não é mais que um borrão ténue. Mas o espectro tomado com o IRS revela a presença de silicatos. As minúsculas partículas de silicatos constituem o absorvente dominante da energia visível, sendo tão opacas que apenas uma pequena percentagem da luz visível
radiação visível
A radiação visível é a região do espectro electromagnético que os nossos olhos detectam, compreendida entre os comprimentos de onda de 350 e 700 nm (frequências entre 4,3 e 7,5x1014Hz). Os nossos olhos distinguem luz visível de frequências diferentes, desde a luz violeta (radiação com comprimentos de onda ~ 400 nm), até à luz vermelha (com comprimentos de onda ~ 700 nm), passando pelo azul, anil, verde, amarelo e laranja.
é capaz de escapar da galáxia.

O que se observa em IRAS 00183 é uma fusão
fusão
1- passagem do estado sólido ao líquido, por efeito do calor; 2- junção, união.
de duas galáxias, o que produz um de dois efeitos: ou o que se observa é um episódio muito breve de formação estelar muito intensa, ou então uma ou ambas as galáxias possuíam um buraco negro
buraco negro
Um buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Em Astronomia, distinguem-se dois tipos de buraco negro: os buracos negros estelares, que resultam da morte de uma estrela de massa elevada, e os buracos negros galácticos, que existem no centro das galáxias activas.
de grande massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
antes de colidirem. Neste cenário, os buracos negros estariam a libertar energia ao engolir estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
e gás. Em ambos os casos, a colisão comprimiria o gás, desencadeando o processo de formação estelar, ou a libertação de energia por parte do buraco negro.

No entanto, os dois cenários têm problemas. Como levar gás em quantidades suficientes a uma distância tão próxima do buraco? Ou, como é que se podem formar estrelas tão rapidamente e ao mesmo tempo?

Fonte da notícia: http://www.news.cornell.edu/releases/Dec03/Spitzer.Houck.deb.html