A bonança depois da tempestade cometária

2004-01-10

Imagem do cometa Wild 2 visto pela sonda Stardust. Crédito: NASA/JPL.
Após passar por uma tempestade de partículas do cometa
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
, a sonda Stardust, da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
, começou a sua viagem de 1,14 mil milhões de quilómetros de regresso à Terra e que durará cerca de dois anos.

A sonda Stardust entrou na cabeleira do cometa
cabeleira de um cometa
A cabeleira (ou coma) de um cometa é uma nuvem de gás e poeira que circunda o núcleo do cometa e cujo diâmetro pode atingir os milhões de quilómetros. A cabeleira só se forma quando o cometa se aproxima do Sol, a distâncias inferiores à órbita de Júpiter, pois é quando o calor do Sol é suficiente para sublimar parte do gelo do núcleo. A cabeleira e o núcleo formam a cabeça do cometa.
Wild 2 (a vasta nuvem de gás e poeira que envolve o núcleo do cometa
núcleo de um cometa
O núcleo de um cometa é a parte sólida e gelada, localizada no centro da cabeça do cometa e é constituído por poeiras e gases gelados. O diâmetro dos núcleos cometários tem tipicamente entre 10 e 20 km.
) no dia 31 de Dezembro de 2003. A partir desse momento, protegeu-se do fluxo de partículas do cometa com os seus escudos protectores. A sonda passou por entre as partículas, mas não da maneira que a equipa imaginou quando desenhou a missão.

Segundo o investigador principal do projecto, o Dr. Don Brownlee da Universidade de Washington (EUA), pensava-se que se veria um aumento uniforme do número de partículas à medida que nos aproximássemos do núcleo e depois uma diminuição. No entanto, os dados indicam que a sonda voou através de um autêntico enxame de partículas, passando depois por uma zona quase sem nada, seguindo-se outro enxame.

As partículas que colidiam com a Stardust a uma velocidade de 6,1 quilómetros por segundo (cerca de 6 vezes a velocidade de um tiro de espingarda) foram analisadas quase instantaneamente pelos instrumentos de bordo, e algumas foram guardadas para ser posteriormente analisadas mais detalhadamente aqui na Terra. Além da análise de partículas, a Stardust obteve também algumas imagens notáveis do núcleo de 5 quilómetros do cometa Wild 2. Ainda que a câmara de navegação tenha sido concebida precisamente para ajudar a navegação, e não para fazer ciência, estas são as melhores imagens jamais obtidas de um cometa. A quantidade de informação presente nas 72 imagens obtidas é notável. Não só se vêem jactos de material saindo do cometa, como é a primeira vez que se consegue ver a sua origem na superfície do cometa.

No dia 2 de Janeiro, uns minutos após a aproximação máxima ao cometa, a Stardust apontou a sua antena para a Terra e começou a enviar um conjunto de dados que levou 30 horas a transmitir, mas que manterá os cientistas ocupados durante os próximos anos. Cerca de seis horas depois da aproximação máxima, a grelha colectora foi recolhida para a cápsula de retorno com, espera-se, uma quantidade abundante de partículas do cometa. A próxima vez que a cápsula de retorno for aberta será numa sala no Johnson Space Center, quando voltar à Terra em Janeiro de 2006.

Os cientistas esperam que a análise detalhada das amostras revele muito acerca de cometas e sobre os primeiros tempos do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
. A informação química e física encerrada nas partículas pode constituir um registo da formação dos planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
e dos materiais de que estes são feitos.

Fonte da notícia: http://stardust.jpl.nasa.gov/news/status/040106.html