Descoberto mais um braço espiral da nossa Galáxia!

2004-01-05

Em cima: imagem da intensidade de emissão de hidrogénio (o azul escuro representa emissão forte) como função da longitude galáctica e da velocidade radial, construída com os dados observacionais obtidos com o radiotelescópio Parkes e o Australian Telescope Compact Array. O novo braço espiral é a franja de emissão ao longo do topo da imagem. As duas linhas sólidas mostram o raio de 16 e 24 kpc. Ao centro: modelo da densidade de gás de hidrogénio da Via Láctea; as cruzes marcam a posição do novo braço espiral; as linhas sólidas representam o modelo de Cordes & Lazio (2002). Em baixo: diagrama sintético de longitude-velocidade, criado a partir do modelo anterior. A franja de emissão presente no topo da figura de cima é reproduzida aqui. Crédito: CSIRO, Austrália 2003.
Observações realizadas com o radiotelescópio Parkes e o Australia Telescope Compact Array (CSIRO), por uma equipa de investigadores liderada por N. McClure-Griffiths (CSIRO), sugerem fortemente que a nossa Galáxia
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
tem mais um braço espiral
braço espiral
Um braço espiral de uma galáxia é uma estrutura curva no disco de uma galáxia espiral (ou, em alguns casos, de uma galáxia irregular), constituída por estrelas jovens, aglomerados de estrelas, nebulosas, gás e poeiras.
, até agora desconhecido.

A nossa Galáxia, a Via Láctea, é do tipo espiral, com um bojo central esférico constituído por estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
, e um disco formado por braços encurvados constituídos por gás, poeira e estrelas. Os braços espirais são o berço das estrelas jovens – o nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
encontra-se num dos braços à distância do centro da Galáxia de aproximadamente 26000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
. Os braços estão cheios de gás de hidrogénio - a matéria prima das estrelas - o que permite aos radiotelescópios detectarem um sinal forte em rádio
rádio
O rádio é a banda do espectro electromagnético de maior comprimento de onda (menor frequência) e cobre a gama de comprimentos de onda superiores a 0,85 milímetros. O domínio do rádio divide-se no submilímetro, milímetro, microondas e rádio.
deste gás.

O novo braço espiral foi descoberto no âmbito de um projecto de investigação, iniciado em 1998, que tem como objectivo mapear a nossa Galáxia em gás de hidrogénio. Os astrónomos detectaram um braço extra ao determinarem a localização de uma grande concentração de gás, a 60000 anos-luz do centro da Galáxia e com uma espessura de aproximadamente 6500 anos-luz. O novo braço encontra-se exactamente no bordo da Galáxia e talvez se junte a um dos braços espirais mais centrais da Galáxia. Embora já se soubesse que existia gás a esta distância, não se lhe conhecia nenhuma estrutura e pensava-se que a densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
do gás ia simplesmente diminuindo suavemente com a distância, até deixar de haver mais Galáxia.

O braço só foi ainda detectado pelo seu gás de hidrogénio e será difícil detectar as estrelas que lhe pertencem. Mapear a nossa Galáxia é um trabalho extremamente árduo porque estamos a observá-la de dentro e ao longo do disco. Daí a dificuldade em se saber ao certo o número de braços espirais que a nossa Galáxia tem.

Na primeira imagem ao lado, podemos ver como varia a intensidade da emissão de hidrogénio com a longitude galáctica e com a velocidade radial, ao longo do disco da Galáxia. Os dados foram obtidos com o radiotelescópio Parkes (CSIRO) e o Australia Telescope Compact Array e fazem parte do levantamento do plano galáctico realizado no hemisfério Sul. Nesta imagem de falsa cor, o azul escuro representa forte emissão de hidrogénio. As velocidade radiais positivas correspondem a gás mais distante do centro da Galáxia do que o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
e as velocidades radiais negativas correspondem a gás no interior do círculo solar. O novo braço espiral foi identificado como a “franja” de emissão ao longo do topo da imagem. As duas linhas sólidas mostram os raios de 52000 e 78000 anos-luz (16 e 24 kpc
quiloparsec (kpc)
O quiloparsec (kpc) é uma unidade de distância igual a mil parsecs: 1 kpc = 1000 pc.
, respectivamente).

A imagem central mostra um modelo teórico da distribuição da densidade de gás de hidrogénio da Via Láctea. As cruzes marcam a posição do novo braço espiral e as linhas sólidas representam o modelo de Cordes & Lazio (2002). Por fim, a última imagem mostra um diagrama teórico da emissão de hidrogénio em função da longitude e da velocidade radial, criado a partir do modelo teórico da imagem anterior. A franja de emissão observada no topo da primeira imagem e identificada como o novo braço espiral é reproduzida aqui.

Fonte da notícia: http://www.atnf.csiro.au/news/press/spiralarm/