Num artigo publicado pela revista Nature em Dezembro, P. Solomon (Universidade de Stony Brook, EUA) e os seus colaboradores descrevem como detectaram sinais de rápida e intensa formação de estrelas na galáxia Folha de Trevo. A 11 mil milhões de anos-luz de nós, a galáxia Folha de Trevo passou a ser a mais distante galáxia com formação de estrelas até hoje observada e representa o Universo quando este tinha somente 20% da sua idade actual.

Utilizando a rede de radiotelescópios Very Large Array

Very Large Array (VLA)
O VLA é um radiointerferómetro composto por 27 antenas de 25 m de diâmetro, dispostas em três braços (em forma de Y) com 9 antenas cada, localizado no Novo México (EUA). O VLA é operado pelo NRAO (National Radio Astronomy Observatory).

, da NSF, os investigadores detectaram uma enorme quantidade de gás interestelar denso - o ambiente requerido para uma formação de estrelas activa. Apesar de já se ter encontrado matéria prima para a formação de estrelas em galáxias mais distantes, a galáxia Folha de Trevo é, de longe, a mais distante galáxia que mostra a assinatura de grande actividade de formação de estrelas, sob a forma de uma frequência específica de ondas rádio emitidas por moléculas de gás de cianeto de hidrogénio, HCN. Quando se detecta HCN, detecta-se gás suficientemente denso para formar estrelas.

A galáxia Folha de Trevo tem uma taxa de formação de estrelas equivalente a 1000 sóis por ano, ou seja, 300 vezes superior à da Via Láctea e à de galáxias espirais semelhantes, o que poderá ser típico em galáxias do Universo muito jovem. A rápida taxa de formação de estrelas é designada de surto de formação de estrelas (em inglês, starburst) e é um evento essencial na formação e evolução desta galáxia.

Em galáxias como a Via Láctea, o gás denso detectado através de HCN, mas composto essencialmente por moléculas de hidrogénio, está sempre associado a regiões activas em formação de estrelas. O que é extraordinário na galáxia Folha de Trevo é a enorme quantidade de gás denso aliado à intensa radiação infravermelha originada pela formação estelar: os investigadores estimam que as nuvens densas que formam estrelas nesta galáxia possuem 10 mil milhões de vezes a massa do Sol. À taxa a que esta galáxia forma estrelas, o gás denso esgota-se em apenas aproximadamente 10 milhões de anos.

Muitas galáxias distantes possuem, na região central, um buraco negro de massa elevada activo, responsável pela forte emissão de radiação. Os astrónomos interrogam-se se a forte emissão no infravermelho das galáxias distantes que possuem buracos negros de massa elevada nos seus núcleos activos, tal como a galáxia Folha de Trevo, é causada pelo buraco negro central da galáxia, ou por um enorme surto de formação de estrelas. As observações da galáxia Folha de Trevo permitem dizer que, pelo menos num caso, grande parte da forte radiação infravermelha é produzida pela intensa formação de estrelas.

Fonte da notícia: http://www.nrao.edu/pr/2003/cloverleaf/