As Plêiades numa rara colisão interestelar de três corpos

2003-11-28

A estrela Mérope, pertencente às Plêiades. O enxame das Plêiades encontra-se a cerca de 410 anos-luz, na direcção da constelação do Touro. O resplendor ao redor da estrela deve-se a gás interestelar que reflecte a luz da estrela. Crédito: NOAO/AURA/NSF.
As Plêiades são um enxame estelar visível a olho nu e desde há muito conhecido dos astrónomos profissionais e amadores pela nebulosidade que envolve as suas estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
mais brilhantes, dispersando a luz como o nevoeiro à volta de uma lâmpada acesa.

Observações no rádio
rádio
O rádio é a banda do espectro electromagnético de maior comprimento de onda (menor frequência) e cobre a gama de comprimentos de onda superiores a 0,85 milímetros. O domínio do rádio divide-se no submilímetro, milímetro, microondas e rádio.
e no infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
realizadas nos anos 80 mostraram que esta nebulosidade resulta de um encontro casual entre as estrelas jovens das Plêiades e uma nuvem interestelar, e não dos resíduos da nuvem que originou o aglomerado. Novos dados obtidos no observatório de Kitt Peak
Kitt Peak National Observatory (KPNO)
O Observatório Nacional de Kitt Peak (KPNO) faz parte dos observatórios da NOAO e inclui diversos telescópios ópticos, de infravermelhos e um telescópio solar, além de operar, em consórcio, 19 telescópios ópticos e dois radiotelescópios. O KPNO situa-se a 90 km de Tucson, no Arizona (EUA).
(Arizona, EUA) sugerem que as Plêiades estão na realidade a encontrar-se com duas nuvens, o que em si é um acontecimento raríssimo: uma colisão de três corpos na vastidão do espaço interestelar. Esta situação faz das Plêiades um laboratório único.

Também conhecidas como M 45
M45 (NGC 1432) - Pléiades
M45, também conhecido como as Pléiades, é um aglomerado aberto de estrelas, na constelação do Touro, a uma distância aproximada de 440 anos-luz.
ou como as Sete Irmãs, devido às sete estrelas que se vêem a olho nu, as Plêiades consistem em mais de 500 estrelas com aproximadamente 100 milhões de anos, aglomeradas a cerca de 400 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
da Terra.

Os átomos
átomo
O átomo é a menor partícula de um dado elemento que tem as propriedades químicas que caracterizam esse mesmo elemento. Os átomos são formados por electrões à volta de um núcleo constituído por protões e neutrões.
de sódio que se encontram entre a Terra e as estrelas absorvem dois comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
específicos da luz amarela (os mesmos comprimentos de onda amarelos emitidos pelas luzes de sódio dos candeeiros de rua). Devido ao efeito de Doppler (que é o efeito que torna mais agudo o som de uma ambulância quando esta se aproxima, e mais grave quando ela se afasta), o movimento do gás ao longo da nossa linha de visão produz desvios subtis nos comprimentos de onda observados.

A orientação de estruturas captadas em imagens ópticas e de rádio dão informação acerca do movimento do gás e poeira na abóbada celeste
esfera celeste
Chama-se esfera celeste à esfera imaginária centrada na Terra, de raio infinitamente grande, em cuja superfície parecem estar dispostos todos os astros visíveis no céu nocturno. Esta esfera, não tendo qualquer realidade física, é útil para a nossa orientação, em particular para referenciarmos os objectos celestes através das suas posições no céu.
, que combinada com as velocidades ao longo da linha de visão determinadas espectroscopicamente permitem reconstituir a configuração tridimensional da matéria interestelar perto da Plêiades.

As riscas de absorção
risca de absorção
Uma risca de absorção é uma risca escura no espectro de luz. Corresponde à diminuição da intensidade da radiação num determinado comprimento de onda devido à absorção de energia para a transição de um electrão de um nível energético mais baixo para um nível energético mais elevado de um átomo ou molécula. As riscas de absorção, tal como as de emissão, contêm informação sobre a composição química e as condições físcicas do material que as produzem.
do sódio mostram que existe sempre uma estrutura entre a Terra e as estrelas das Plêiades, movendo-se em direcção ao aglomerado com uma velocidade ao longo da linha de visão de 10 quilómetros por segundo. Segundo Richard White, o autor principal deste estudo, a estrutura corresponde ao complexo de nuvens interestelares do Touro-Cocheiro (em latim Taurus-Auriga), cujo centro se situa a cerca de 40 anos-luz a Leste.

No entanto, na direcção de algumas estrelas existem duas ou mais estruturas de absorção
absorção de radiação
A absorção de radiação é um decréscimo da intensidade da radiação devido à energia dispendida na excitação ou ionização de átomos e moléculas do meio que atravessa.
. White argumenta que uma onda de choque
onda de choque
Uma onda de choque é uma variação brusca da pressão, temperatura e densidade de um fluído, que se desenvolve quando a velocidade de deslocação do fluído excede a velocidade de propagação do som.
proveniente da colisão das Plêiades com gás associado ao complexo do Touro-Cocheiro poderia, em algumas regiões, dividir estruturas de absorção em três, especialmente nos lados Sul e Este das Plêiades. No entanto, a presença de uma outra estrutura revelada pelos dados, especialmente no lado Oeste e a mover-se com uma velocidade de 12 quilómetros por segundo em direcção ao aglomerado, desafia qualquer explicação, a não ser que uma segunda nuvem esteja também a convergir para as Plêiades.

Anteriormente, as únicas colisões de três corpos no espaço interestelar que se conheciam eram encontros próximos entre uma estrela e um sistema estelar binário ou triplo em enxames globulares ou núcleos de galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
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Fonte da notícia: http://www.noao.edu/outreach/press/pr03/pr0309.html