Uma equipa de astrónomos italianos obteve uma imagem de um pulsar a "voar" pelo espaço a 20 vezes a velocidade do som. Duas caudas gémeas, visíveis em raios-X, estendem-se por 3000 milhões de quilómetros desde a pequena e densa esfera de apenas 19 km de diâmetro. Este pulsar, conhecido por Geminga, é o pulsar mais próximo da Terra que se conhece, a apenas 500 anos-luz de distância.

As observações obtidas com o observatório espacial de raios-X XMM-Newton (ESA), mais do que uma imagem bonita, proporcionam uma visão única do conteúdo e da densidade do meio interestelar que está a abrandar o movimento de Geminga. Permite ainda estimar, de um modo independente, propriedades básicas do pulsar, tais como a sua massa, o seu raio, a intensidade do seu campo magnético e a velocidade a que o pulsar foi ejectado aquando do seu nascimento a partir de uma grande explosão estelar.

Esta nova e impressionante imagem resulta do movimento de Geminga ser quase transversal à nossa linha de visão. As caudas parecem ser as extremidades brilhantes de uma onda de choque tridimensional esculpida por Geminga, tal como o rasto de um navio no mar.

Um pulsar é uma estrela de neutrões que gira muito rapidamente, emitindo impulsos de radiação em cada rotação. Estes impulsos são canalizados por linhas de força de um forte campo magnético, de forma análoga ao feixe de luz de um farol. A estrela de neutrões é o núcleo que resta de uma estrela de massa elevada, com pelo menos oito vezes a massa do Sol, que explodiu.

A maioria dos pulsares emite ondas de rádio. No entanto, Geminga é silencioso no rádio. Aquando da sua descoberta, Geminga foi de início considerada uma fonte que emitia apenas raios gama, e só posteriormente é que foi detectado em raios-X e no óptico. Por processos ainda não totalmente compreendidos, Geminga é a segunda fonte de raios gama mais brilhante no céu. Os raios gama são produzidos pela aceleração de electrões e positrões (a antipartícula do electrão) a altas velocidades à medida que o pulsar gira como um dínamo, quatro vezes por segundo.

As caudas de Geminga visíveis em raios-X foram uma descoberta surpreendente. Ao mover-se pelo espaço, Geminga cria uma onda de choque que, por um lado, comprime o gás do meio interestelar, e por outro, amplifica o campo magnético do pulsar por um factor de quatro.

Até agora pensava-se que os electrões se converteriam em raios gama emitidos nas proximidades de Geminga. A detecção de grandes caudas de radiação X mostra claramente que assim não é, que muitos electrões se estão a escapar. Como bónus, a espessura e o brilho das caudas de raios-X permitem medir a densidade de matéria no meio interestelar.

Esta observação em raios-X de Geminga também proporciona pistas sobre a natureza de fontes de raios-X não identificadas. Das 271 fontes de raios gama de alta energia detectadas pelo telescópio EGRET (NASA), 170 permanecem sem identificação noutras bandas. Este objectos poderão ser pulsares de raios gama, tal como Geminga, mas no caso de Geminga a emissão no óptico e em raios-X é visível devido à sua proximidade da Terra. Somente se conhece uma dúzia de outros pulsares que não emitem no rádio, mas Geminga é o único com caudas.

Fonte da notícia: http://universe.nasa.gov/press/2003/030905a.html