Espectaculares tempestades solares fazem História!

2003-11-07

A região activa 10486 deu origem a uma espectacular fulguração solar de classe X17.2 a 28 de Outubro de 2003, seguida de uma ejecção de massa coronal que atingiu a Terra no dia seguinte. A 4 de Novembro, a mesma região, que se encontrava já no horizonte solar, deu origem à maior fulguração alguma vez observada por satélites e que saturou os instrumentos que a detectaram. Estima-se que seja de classe X28. Crédito: SOHO/EIT, SOHO/LASCO (ESA & NASA).
A última semana vai entrar para a história da observação solar. De facto, nunca antes tinha ocorrido num período tão curto uma série tão intensa de erupções como a que se verificou desde o dia 28 de Outubro. Uma região conhecida como região activa 10486, já então sob o escrutínio de vários satélites de observação do astro-rei da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
e ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
, e na qual se localiza um grupo de manchas solares com o tamanho equivalente a 10 vezes a dimensão da Terra, produziu no dia 28 de Outubro uma explosão na direcção da Terra classificada como a terceira mais potente observada desde os primórdios da observação solar espacial (a partir do início dos anos 70). Apenas duas fulgurações
fulguração
Uma fulguração é uma libertação de energia de forma explosiva da qual resulta um aumento rápido do brilho do astro no qual ocorre. São exemplo deste tipo de fenómenos as fulgurações solares, associadas às manchas solares, bem como as fulgurações de raios-X, que ocorrem em estrelas de neutrões, e de raios gama, que se sabe estarem relacionadas com as explosões de supernova.
solares mais intensas que esta (até ao dia 28 de Outubro, isto é...) haviam ocorrido na era moderna: uma em 1989 (que provocou então a queda do sistema de distribuição de energia para cerca de 6 milhões de pessoas durante 9 horas no Canadá) e outra em 2001 (sendo que esta última ocorreu numa direcção que não a da Terra, não tendo produzido efeitos observáveis).

A fulguração de dia 28 de Outubro causou, entre outros fenómenos, uma ejecção de massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
coronal - o envio de uma grande quantidade de partículas - na direcção do nosso planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
que atingiu a magnetosfera
magnetosfera
Magnetosfera é a região em torno de um objecto celeste ocupada pelo seu campo magnético.
e ionosfera
ionosfera
A ionosfera é a camada da atmosfera terrestre situada imediatamente acima da estratosfera. Estende-se dos 80 até aos 500 km acima da superfície terrestre, onde o oxigénio e o azoto são ionizados pela luz solar, dando origem a electrões livres.
terrestres cerca de 24 horas após o início da sua travessia do espaço a cerca de 1000 km/s (3,5 milhões de quilómetros por hora). As partículas, ao colidirem com as camadas superiores da atmosfera terrestre
atmosfera terrestre
A atmosfera terrestre é composta por um conjunto de camadas gasosas que envolvem a Terra. Estas camadas são designadas por Troposfera (da superfície da Terra até cerca de 10 km de altitude), Estratosfera (10 - 50 km), Mesosfera (50 - 100 km), Termosfera (100 - 400 km) e Exosfera (acima dos 400 km).
, deram origem a auroras
aurora
A aurora é a luz emitida pelos iões da atmosfera terrestre, principalmente nos pólos geomagnéticos da Terra, estimulada pelo bombardeamento de partículas de alta energia ejectadas pelo Sol. As auroras aparecem dois dias depois das fulgurações solares, proporcionando um espectáculo de rara beleza, e atingem o seu pico cerca de dois anos depois do máximo de manchas solares. As auroras boreais e austrais são observáveis a latitudes elevadas no hemisfério Norte e hemisfério Sul, respectivamente.
boreais sem precedentes, desde os estados mais a sul dos Estados Unidos (como a Califórnia e o Texas) até à Europa Central, e mesmo ao norte de Espanha - algumas das imagens tiradas por cidadãos foram recolhidas pela NASA, estando acessíveis em
http://spaceweather.com/aurora/gallery_28oct01.html

Desde o dia 28 de Outubro até ao dia 4 de Novembro, ocorreram ainda uma série de fulgurações menores, incluindo uma de classe X10 (a nona mais potente jamais observada), e uma série de fulgurações de classe X8 (dia 2 de Novembro), X3 (3 de Novembro) e X2 (3 de Novembro).

Mas a actividade do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
não ficou por aqui. Terça-Feira, dia 4 de Novembro, às 19.46GMT, enquanto a agora famosa região 10486 desaparecia no horizonte solar (o Sol tem um período de rotação de cerca de 27 dias), o Sol produziu aquela que se tornou quase imediatamente na maior explosão solar jamais observada por um satélite, e que saturou durante 11 minutos os sensores dos satélites GOES da NOAA (Administração Oceanográfica e Atmosférica dos Estados Unidos), que observam o Sol numa órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
a cerca de 1,5 milhões de quilómetros da Terra. Embora a explosão fosse direccionada na perpendicular à direcção da Terra, a violência desta explosão foi tal que originou um blackout total de comunicações em onda curta no nosso planeta, deixando os satélites da NOAA incapazes de medir a sua intensidade. A melhor estimativa publicada pelo NOAA, segundo os dados actualmente disponíveis, é que a explosão terá atingido o nível X28, embora se especule que poderá ter atingido valores superiores. Para a história ficará, em todo o caso, o título com que no dia 5 de Novembro o sítio na internet da missão SOHO
Solar Heliospheric Observatory (SOHO)
O SOHO é uma sonda espacial concebida para a observação e estudo do Sol. O seu obectivo é analisar a estrutura da coroa, do vento solar e ainda obter informação sobre a dinâmica interna do Sol. O SOHO insere-se num projecto internacional de cooperação entre a NASA e a ESA. A sonda foi lançada a 2 de Dezembro de 1995 e posteriormente colocada em órbita do Sol.
(Observatório Solar e Heliosférico) da ESA e NASA anunciava a observação deste fenómeno: "X-Whatever Flare!" - o que significa, numa tradução livre, "Explosão de Classe X-o-que-quer-que-seja!".

A actividade solar
actividade solar
A actividade solar consiste no conjunto de fenómenos ou processos físicos que se manifestam, com maior ou menor intensidade, durante o ciclo solar. Por exemplo, fazem parte da actividade solar a ocorrência de manchas solares, as protuberâncias, o vento solar, ou as ejecções de matéria coronal.
varia segundo um período de 11 anos, no pico do qual é comum ocorrer com maior frequência
frequência
Num fenómeno periódico, a frequência é o número de ciclos por unidade de tempo.
o tipo de explosões que foram observadas nos últimos dias. O último pico de actividade solar ocorreu em 2001, tendo a actividade solar estado a diminuir desde então, razão pela qual o período dos últimos dias é considerado ainda mais surpreendente. O próximo mínimo solar deverá ocorrer em 2006/2007.

O sistema de medição da intensidade das fulgurações solares é baseado na irradiância (W/m2) do Sol numa banda pré-definida de frequências de raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
. A classificação possui 5 níveis-base, estendendo-se desde o nível A (10-8W/m2) ao nível X (10-4W/m2), passando pelos níveis B (10-7W/m2), C (10-6W/m2) e M (10-5W/m2). O algarismo que se segue à classificação é simplesmente o valor máximo observado da irradiância, dividido pelo valor associado ao nível-base. Desta forma, as explosões de 1989 e 2001 atingiram o grau X20 (20x10-4W/m2), enquanto que a explosão de 28 de Outubro atingiu o grau X17 (17x10-4W/m2). Segundo as estimativas do NOAA, a fulguração de dia 4 de Novembro poderá ter atingido o nível X28, o que corresponde a 28x10-4W/m2 de pico!

Fonte da notícia: http://sohowww.estec.esa.nl/