Asteróide Hermes redescoberto 66 anos após ter sido visto pela primeira vez

2003-10-29

As quatro imagens mostram a recuperação do asteróide 1937 UB (Hermes), a 15 de Outubro de 2003, por B. Skiff, utilizando o telescópio Schmidt de 59 cm do programa LONEOS. As imagens foram obtidas com cerca de 20 minutos de intervalo e mostram o asteróide a mover-se a pouco mais de 0,8° por dia – cerca de 3 vezes a velocidade dum asteróide da Cintura Principal de Asteróides em oposição. Crédito: B. Skiff/LONEOS (Lowell Observatory).
O asteróide
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
Hermes (ou 1937 UB) foi observado pela primeira vez em Outubro de 1937 por Karl Reinmuth, em Heidelberg (Alemanha). Foi descrito como um objecto brilhante a mover-se muito rapidamente no céu – mais de 20 minutos de arco
minuto de arco (')
O minuto de arco (') é uma unidade de medida de ângulos ou arcos de circunferência correspondente a 1/60 de grau.
por hora na noite da descoberta. Em apenas dois dias, passou de oposição a conjunção
conjunção
Uma conjunção ocorre quando dois corpos têm a mesma longitude celestial aparente, ou a mesma ascensão recta, ao serem observados a partir de um terceiro corpo. Se observarmos a conjunção do Sol e de um planeta duma órbita interior, diz-se que é uma conjunção inferior se o planeta estiver do nosso lado e diz-se que é uma conjunção superior se o planeta estiver do outro lado do Sol. Por exemplo, para o caso de Mercúrio e Vénus, a conjunção inferior ocorre quando estes estão entre a Terra e o Sol.
, e poucos dias depois de ter sido descoberto deixou de ser observável, deixando os astrónomos sem informação suficiente para calcularem a sua órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
. Só agora, 66 anos depois, é que Hermes é observado de novo. Apesar de, ficou-se sabendo, o asteróide já ter passado perto da Terra várias vezes ao longo destas décadas.

Hermes pertence à classe de objectos próximos da Terra, designados por NEO (do inglês Near-Earth Object), ou mais precisamente, à classe de asteróides próximos da Terra, NEAs (Near-Earth Asteroids). A redescoberta de Hermes começou no dia 15 de Outubro quando B. Skiff, no âmbito do programa de procura de objectos próximos da Terra LONEOS (Lowell Observatory Near-Earth Object Search) descobriu “mais” um NEO. A detecção não teve nada de extraordinário, pois descobrem-se NEOs com regularidade; a única particularidade deste asteróide era ser muito brilhante. T. Spahr, do Centro para os Planetas Menores (EUA), identificou semelhanças deste asteróide com as observações de 1937 e colocou a descoberta de Skiff na internet, alertando os astrónomos de todo o mundo para seguirem o asteróide. J. Young, do Laboratório de Propulsão a Jacto (EUA), foi o primeiro a responder, 5 horas depois. Entretanto, Spahr localizou observações do asteróide realizadas a 5 de Outubro pelo programa Near-Earth Asteroid Tracking Program (JPL/NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
), a 28 de Setembro pelo programa LONEOS, e ainda, em diferentes noites que remontam até 26 de Agosto, observações realizadas pelo programa Lincoln Laboratory Near Earth Asteroid Research (MIT). Nessas datas, o asteróide tinha sido classificado como provável membro da Cintura Principal de Asteróides.

Com esta informação toda reunida, a identificação de Hermes foi confirmada. S. Chesley e P. Chodas, do Laboratório de Propulsão a Jacto (EUA), associaram todas as observações a uma única órbita. O cálculo não foi fácil, pois a trajectória de Hermes é bastante caótica, com aproximações frequentes à Terra e a Vénus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
. Por exemplo, em 1937, Hermes passou a apenas 750 000 km da Terra, ou seja, a 1,8 vezes a distância da Terra à Lua
Lua
A Lua é o único satélite natural da Terra.
; em 1942, embora não tenha sido observado, Hermes chegou a estar a 600 000 km da Terra, ou seja, a 1,6 vezes a distância lunar! A órbita computada por Chesley e Chodas prevê ainda que Hermes não se aproximará da Terra mais do que 8 distâncias lunares durante o próximo século.

Na altura da redescoberta, a 15 de Outubro, Hermes encontrava-se a 30 000 000 km da Terra. A sua próxima maior aproximação ocorrerá a 4 de Novembro, a 4 000 000 km de nós, e nessa altura deverá ser suficientemente brilhante para ser observável por astrónomos amadores com pequenos telescópios.

A redescoberta do Hermes desperta interesse em astrónomos de todo o mundo. Logo a 16 de Outubro, A. Rivkin e R. Binzel, do Instituto Tecnológico de Massachussets (EUA), observaram o Hermes com o telescópio Infrared Telescope Facility (NASA), no Havai. O espectro obtido permitiu verificar que o asteróide pertence à classe S. Como se sabe que as superfícies dos asteróides classe-S relectem, em média, 24% da luz solar que lhes chega, os investigadores deduziram que Hermes tem cerca de 0,9 km de diâmetro.

Entretanto, o maior radiotelescópio do mundo, com um prato de 300 m, em Arecibo (Porto Rico), também já apontou para Hermes. A análise das primeiras medições de radar sugeriram a J. Margot, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA), e à sua equipa, que o asteróide é, na verdade, constituído por dois objectos que se orbitam mutuamente. As duas componentes são quase do mesmo tamanho (cerca de 300 a 450 m de diâmetro) e rodam à volta do centro de massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
do conjunto em menos de 21 horas. Por estarem muito próximas uma da outra, provavelmente as forças de maré levaram a sincronizar o período de revolução
período orbital
O tempo necessário para que um corpo descreva uma órbita completa e fechada em torno de outro corpo.
das componentes com o período orbital, de modo que apresentam sempre a mesma face uma à outra.

Conhecem-se agora cerca de 10 asteróides binários próximos da Terra, observados por radar, o que significa que apenas cerca de 1 em cada 6 asteróides próximos da Terra, com diâmetro superior a 200 m, é binário. Ou seja, antes de ser observado, a probabilidade de Hermes ser binário era de apenas 16%. Contudo, a maior surpresa não foi o facto de ser binário, mas sim o de as suas componentes serem de igual dimensão, pois, até agora, todos os asteróides binários observados possuem uma componente secundária que é apenas uma fracção da componente principal.

Mais observações estão já em decurso e outras planeadas para muito breve, pois espera-se ainda aprender muito com este asteróide há tanto tempo perdido. Segundo a mitologia grega, Hermes é filho de Zeus e é o mensageiro dos deuses.

Fonte da notícia: http://www.lowell.edu/press_room/releases/recent_releases/Hermes_rls.html