Astrónomos avançam solução para objecto misterioso na Via Láctea

2003-10-20

Representação artística de um planeta orbitando uma estrela. Crédito: JPL/NASA.
Em Janeiro de 2002, um astrónomo amador australiano, Nicholas Brown, fez uma descoberta surpreendente. Uma explosão espectacular transformou uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
inócua de fraco brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
naquela que é a supergigante fria mais brilhante da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
. Esta estrela, V838 Monocerotis (V838 Mon), tornou-se subitamente 600 mil vezes mais luminosa do que o nosso Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
.

Numa explosão de Nova ordinária, as camadas externas de uma estrela compacta são ejectadas para o espaço, ficando assim exposto o núcleo quente no qual as reacções nucleares tinham lugar. Mas, no caso de V838 Mon, a estrela aumentou extraordinariamente de diâmetro e as suas camadas mais externas arrefeceram, tendo sido separadas do resto da estrela, sem no entanto expor o seu núcleo.

Imagens espectaculares obtidas com o Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) revelaram indícios da ocorrência de uma erupção prévia que terá ejectado matéria desta estrela no passado. Também este comportamento é muito raro!

Uma equipa de astrónomos da Universidade de Sidney vem propor que as erupções de V838 Mon ocorreram quando a estrela engoliu sequencialmente 3 planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
gigantes, semelhantes a Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
, que em torno dela orbitavam. Esta hipótese baseia-se no estudo da forma da curva de luz da estrela e na comparação das propriedades observadas da estrela com modelos teóricos. Neste cenário, para além da energia gravitacional gerada no processo, também pode ter ocorrido uma rápida libertação de energia nuclear, à medida que o hidrogénio “fresco” é atirado para a camada de hidrogénio que se encontra em fusão nuclear
fusão nuclear
A fusão nuclear é o processo pelo qual as reacções nucleares entre núcleos atómicos leves formam núcleos atómicos mais pesados (até ao elemento ferro). No caso em que os núcleos pertencem a elementos com número atómico pequeno, este processo liberta grandes quantidades de energia. A energia libertada corresponde a uma perda de massa, de acordo com a famosa equação E=mc2 de Einstein. As estrelas geram a sua energia através da fusão nuclear.
.

A curva de luz de V838 Mon apresenta 3 picos de máxima intensidade com a mesma estrutura (a seguir ao pico, ocorre um declínio, seguido de um pico secundário fraco), o que sugere a ocorrência de 3 acontecimentos semelhantes, embora provavelmente com intensidades diferentes.

É curioso constatar que estudos passados do nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
sugeriram já que os planetas interiores (ou terrestres) Mercúrio
Mercúrio
Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol. É o mais pequeno dos planetas rochosos, com um diâmetro cerca de 40% menor do que o da Terra.
, Vénus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
, e talvez mesmo a Terra, venham a sofrer o mesmo processo quando o Sol atingir a fase final da sua vida.

Fonte da notícia: http://www.usyd.edu.au/news/newsevents/articles/2003/sep/16_star.shtml