Afinal, a inversão dos pólos magnéticos no Sol é um processo lento

2003-10-02

Visão artística da sonda Ulisses, o Sol e o campo magnético solar. Esta sonda tem prestado contribuições fundamentais para a nossa compreensão do Sol, da heliosfera e da nossa vizinhança interestelar. Crédito: David Hardy.
A sonda Ulisses
Ulisses
Missão conjunta da ESA e da NASA lançada em 1990 para explorar as regiões do espaço por cima dos pólos do Sol.
(ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
/NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
), lançada em 1990, revelou que o campo magnético
campo magnético
O campo magnético é a região em torno de um corpo na qual é detectada uma força magnética. Os campos magnéticos actuam apenas em partículas electricamente carregadas. Campos magnéticos fracos são por exemplo gerados por efeito de dínamo no interior dos planetas e luas, enquanto que campos magnéticos mil milhões de vezes mais fortes podem ser gerados em estrelas e galáxias. Os campos magnéticos são capazes de controlar o movimento de gás ionizado e até moldar a forma dos corpos por eles actuados.
do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
é mais complexo do que se pensava. As linhas do campo magnético do Sol saem do Sol pelo pólo Norte e reentram pelo pólo Sul. Normalmente, a linha que une os pólos magnéticos está alinhada com o eixo de rotação do Sol. Mas, a cada 11 anos, quando o Sol atinge o máximo de actividade, os pólos magnéticos trocam de posição. Julgava-se que esta inversão era um processo rápido, mas as observações da sonda Ulisses indicam que, afinal, trata-se de um processo gradual, que pode demorar até sete anos a concluir. Durante esta lenta inversão, a linha que une os pólos magnéticos – chamada de eixo magnético – começa por aproximar-se do plano do equador do Sol, acabando por passar pelo mesmo, terminando no pólo oposto.

Se esta inversão acontecesse na Terra, as bússolas tornar-se-iam inúteis devido ao facto do eixo magnético da Terra ser praticamente coincidente com o seu eixo de rotação. No entanto, já ocorreram inversões do eixo magnético da Terra. A última vez que tal aconteceu, foi há cerca de 740 000 anos. O estudo de rochas magnéticas levam a concluir que inversões no campo da Terra ocorrem em cada 5000 a 50 milhões de anos, embora seja impossível prevê-los.

Contudo, no caso do Sol, as inversões dos pólos magnéticos são regulares, a cada 11 anos, embora se desconheçam ainda as razões de tal ocorrência. O campo magnético da Terra é mais estável do que o do Sol porque tem origem nas regiões profundas do interior do planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
, constituídas predominantemente por metais
metal
Em Astronomia, todos os elementos químicos de número atómico superior ao do hélio são designados por metais, ou por elementos pesados.
. O campo magnético do Sol, por sua vez, surge devido ao gás de plasma
plasma
O plasma é um gás completamente ionizado, em que a temperatura é demasiado elevada para que os átomos existam como tal, sendo composto por electrões e núcleos atómicos livres. É chamado o quarto estado da matéria, para além do sólido, líquido e gasoso.
electricamente carregado que constitui o Sol, que é um meio muito mais volátil.

O campo magnético do Sol engloba a Terra e os outros planetas numa gigante bolha magnética. E é esta bolha que nos protege das poeiras cósmicas que atingem o Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
. Os astrónomos, através dos dados obtidos pela sonda Ulisses, mostraram que, quando o eixo magnético do Sol se encontra perto do plano do equador, uma maior quantidade de poeira interestelar
poeira interestelar
A poeira interestelar é constituído por minúsculas partículas sólidas, com diâmetros da ordem dos mícrones, existentes no meio interestelar.
entra no Sistema Solar do que quando o eixo se encontra alinhado com o eixo de rotação (ou seja, perpendicular ao equador).

A entrada de mais poeira no Sistema Solar não causa perigo nem aos planetas, nem aos satélites, pois os grãos de poeira interestelar são minúsculos (um centésimo do diâmetro dum cabelo humano!). No entanto, os astrónomos estimam que nos próximos anos, cerca de 40 000 toneladas
tonelada (t)
A tonelada (t) é uma unidade de massa equivalente a 1000 kg.
de poeira poderão cair na Terra todos os dias. Mas a maior parte dessa poeira será tão pequena que se incendiará na atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
, antes de chegar ao solo, aumentando certamente o número de “estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
cadentes” (meteoros) visíveis à noite.

A sonda Ulisses é a primeira missão a estudar as regiões acima e abaixo dos pólos do Sol. As suas observações têm permitido ver o efeito do Sol no espaço à sua volta.

Fonte da notícia: http://www.esa.int/export/esaCP/SEMDU4ZO4HD_index_0.html