O lago Mono, em pleno deserto californiano, parece retirado de um inóspito mundo extraterrestre, no qual se erguem estranhas estruturas verticais (que podem atingir três metros de altura) resultantes do depósito de minerais. No meio do lago existe uma pequena ilha coberta de cinzas e de nascentes de água quente. O lago Mono é, na verdade, uma bacia vulcânica com cerca de 22 km de diâmetro. Enquanto que a água provém das montanhas vizinhas que circundam o lago, a única forma pela qual este pode perder água é por evaporação. Isto significa que, com o tempo, a água do lago se torna mais rica em sais e minerais.

Neste lago existem quantidades astronómicas de uma espécie de camarão em miniatura. Mas não só: uma espécie de mosca que, embora permaneça sobretudo nas margens do lago, é capaz de se deslocar sobre a água apoiada em minúsculas bolhas de ar ; vários tipos de microrganismos como diatomáceas, cianobactérias e algas filamentares. Tantas formas de vida num ambiente aparentemente tão hostil é algo de evidentemente atractivo para qualquer astrobiólogo.

O astrobiólogo Richard Hoover, do Centro Nacional de Ciências Espaciais e Tecnologia da NASA, sediado em Huntsville (Alabama, EUA), deslocou-se ao lago Mono em Setembro de 2002 com o objectivo de aí encontrar eventuais micróbios. Dado que muitos dos microrganismos conhecidos habitam regiões na Terra onde as condições físicas (como por exemplo a temperatura) são extremas, o seu estudo permite-nos entender melhor de que forma algum tipo de vida pode existir (ou ter existido) em Marte, ou em qualquer outro mundo do nosso Sistema Solar.

Hoover recolheu amostras de água e de lama do fundo do lago e analisou-as. Na lama que analisou, descobriu uma nova forma de bactéria viva: a Spirochaeta americana! Trata-se de uma bactéria fina cujas paredes celulares são tão delicadas que é muito difícil mantê-la viva em laboratório por períodos de tempo muito longos. O género Spirochaeta inclui 13 espécies de bactérias, mas nem todas habitam regiões extremas como o lago Mono. Algumas existem nas lamas ordinárias de água fresca. Contudo, a maioria delas prefere de facto ambientes hostis. Por exemplo, a Spirochaeta thermofila pode ser encontrada nas regiões de alta pressão que são as lamas dos fundos oceânicos, junto das fontes hidrotermais. Outro exemplo é a Spirochaeta bajacaliforniensis que habita as lamas sulfurosas desprovidas de oxigénio da Baixa Califórnia.

Esta descoberta reveste-se de particular importância numa altura em que um dos rovers da NASA, de nome Spirit, pousará na superfície de Marte em 2004. Isto porque o lago Mono é em muito semelhante à cratera Gusev em Marte! Embora não exista actualmente água líquida nesta cratera marciana, ela pode ter existido num passado remoto. A cratera foi formada há cerca de 3,5 mil milhões de anos por um impacto de meteorito. Se existia água em Marte na altura do impacto, e muitos cientistas acreditam que isso é possível, ela teria inundado por completo a cratera, por meio de canais do vale (ou desfiladeiro) Ma’adim (ver figura ao lado), dando origem a um lago. Dado que a cratera não possui saídas óbvias, a água só pode sair por evaporação, tal como no lago Mono.

Embora seja pouco provável que existam actualmente micróbios vivos na cratera Gusev, pode acontecer que os seus registos fósseis estejam lá. Estes microfósseis existem no lago Mono, no interior das tais colunas verticais resultantes do depósito de minerais. Estas estruturas formam-se quando bolhas ricas em cálcio provenientes das nascentes quentes sobem à superfície, através da água do lago rica em bicarbonato. Cálcio e bicarbonato combinam-se e precipitam para formar pedra calcária, aprisionando os micróbios. Estas estruturas só se formam debaixo de água e não à superfície. Contudo elas ocorrem à superfície (e acima dela) no caso do lago Mono. Isso deve-se ao facto do nível da água do lago ter descido em anos recentes, uma vez que o lago abastece de água a cidade de Los Angeles!

Fonte da notícia: http://science.nasa.gov/headlines/y2003/30jul_monolake.htm?list782323