Obtidos primeiros mapas detalhados da distribuição de galáxias no Universo primitivo

2003-09-08

Mapa obtido com o levantamento DEEP2. As galáxias são representadas por símbolos azuis e vermelhos: a azul, galáxias que parecem estar a formar um grande número de novas estrelas, e a vermelho galáxias que têm muito pouca actividade de formação estelar, sendo por isso, em geral, mais velhas e mais vermelhas que as outras galáxias. Crédito: P. Guhathakurta, A. Coil, D. Koo.
Utilizando um novo e poderoso espectrógrafo montado no Observatório Keck
W. M. Keck Observatory
O Observatório W. M. Keck é operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e pela NASA, e encontra-se localizado em Mauna Kea, no Havai. O observatório é constituído por dois telescópios gémeos de 10 metros, o Keck I e o Keck II.
(Havai, EUA), uma equipa de astrónomos obteve os primeiros mapas (ver figura ao lado) que revelam a distribuição de galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
no Universo primitivo. Estes mapas, que mostram que as galáxias se agrupam formando uma grande variedade de estruturas de larga escala tais como longos filamentos, vazios, grupos densos e aglomerados, são parte dos primeiros resultados do DEEP2 Redshift Survey que visa estudar galáxias do Universo distante.

Usando o espectrógrafo DEIMOS (do inglês Deep Extragalactic Imaging Multi-Object Spectrograph), montado no telescópio Keck II de 10 m, este projecto tem-se dedicado a medir propriedades de galáxias distantes e a gerar um mapa da sua distribuição espacial. O novo espectrógrafo foi especialmente desenhado para este projecto e permite obter observações detalhadas para 150 galáxias simultaneamente. Ao estudar galáxias cuja luz demorou cerca de 7 mil milhões de anos para chegar à Terra, os astrónomos estão efectivamente a recuar muito no tempo, quando o Universo tinha cerca de metade da idade actual. A comparação destas observações com outras realizadas no Universo próximo deverá proporcionar pistas para a compreensão de alguns dos grandes mistérios do Universo, tais como a natureza da energia escura e a origem das galáxias e dos quasares
quasar
Os quasares são objectos extragalácticos extremamente brilhantes e compactos. Hoje acredita-se que são o centro de galáxias muito energéticas ainda num estado inicial da sua evolução (são, pois, núcleos galácticos activos - NGAs) e a sua energia provém de um buraco negro de massa muito elevada. Os seus desvios para o vermelho indicam que se encontram a distâncias cosmológicas. O seu nome, quasar, vem do inglês quasi-stellar object, ou seja, objecto quase estelar, devido à semelhança da sua imagem em placas fotográficas com a imagem de uma estrela.
.

As estruturas reveladas pelos mapas obtidos com o DEIMOS são semelhantes às que se vêem no Universo local, mas num estado anterior de desenvolvimento, o que corresponde a "ver" a população de galáxias a transformar-se naquilo que é hoje. Ainda que a área do céu coberta por estas observações não seja muito extensa (cerca de quatro vezes o tamanho da Lua Cheia
Lua Cheia
Lua Cheia é a fase da Lua quando esta se encontra em oposição relativamente ao Sol; quando observada a partir da Terra, a Lua exibe toda a sua superfície iluminada.
), os dados obtidos são muito profundos, revelando objectos muito distantes no espaço e no tempo. Esta é uma estratégia muito diferente das adoptadas em levantamentos do Universo local tais como o Sloan Digital Sky Survey
Sloan Digital Sky Survey (SDSS)
O levantamento do céu SDSS é um projecto que tem por objectivo mapear detalhadamente um quarto de todo o céu, determinando posições e magnitudes absolutas de 100 milhões de objectos celestes, e determinando ainda a distância a mais de 1 milhão de galáxias e quasares. Os telescópios que participam neste projecto estão situados no Observatório de Apache Point (EUA). O SDSS é um projecto conjunto de instituições norte-americanas, alemãs e japonesas.
(SDSS) e o 2dF Survey, que cobrem grandes áreas do céu mas alcançam distâncias muito menores.

Ao alcançar distâncias tão longínquas, e portanto épocas tão recuadas, podem ver-se não só objectos tal como eram há uns 7 mil milhões de anos, mas também objectos mais próximos e portanto ver a evolução da população de galáxias com o tempo. Testes estatísticos indicam que a aglomeração de galáxias vista com o DEEP2 não é tão forte como a que se vê hoje no Universo local. As galáxias aglomeram-se devido à força da gravidade, e esta aglomeração cresce com o tempo à medida que as estruturas crescem e exercem uma maior atracção gravitacional (o que as leva a crescer ainda mais). Regiões do espaço com altas densidades vão exercer a sua influência gravitacional sobre as galáxias que as rodeiam, atraindo-as para estas regiões. À medida que estas regiões densas crescem, vão ficando para trás espaços vazios onde existem muito poucas (ou nenhumas) galáxias. Paralelamente, as próprias galáxias evoluem: criam estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
, formam buracos negros
buraco negro
Um buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Em Astronomia, distinguem-se dois tipos de buraco negro: os buracos negros estelares, que resultam da morte de uma estrela de massa elevada, e os buracos negros galácticos, que existem no centro das galáxias activas.
no seus centros e colidem umas com as outras formando galáxias maiores. Todos estes processos podem ser vistos com os dados do DEEP2.

Além do estudo das largas estruturas do Universo, os investigadores estão também a estudar as propriedades de cada galáxia individualmente, tais como as suas idades, brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
, quantidade de matéria, taxa de formação de estrelas, etc.

No mapa da figura, as galáxias são representadas por símbolos azuis e vermelhos. A azul temos galáxias que parecem estar a formar um grande número de novas estrelas, enquanto que a vermelho temos galáxias que têm muito pouca actividade de formação estelar, sendo por isso em geral mais velhas e mais vermelhas que as outras galáxias. Estas galáxias mais velhas estão muito mais aglomeradas espacialmente do que aquelas que formam estrelas. Ainda que esta tendência seja também visível no Universo local, esta é a primeira vez que se vê que também já existia sete mil milhões de anos após o Big Bang, antes de o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
e o Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
se terem formado.

Fonte da notícia: http://www.ucsc.edu/news_events/press_releases/text.asp?pid=378