Novos indícios da existência de matéria escura

2003-07-18

Distribuição de matéria escura ao redor de uma galáxia do tamanho da Via Láctea. Esta imagem foi gerada a partir de uma simulação computacional da formação de galáxias num Universo em expansão, tal como se prevê nas teorias cosmológicas modernas. A galáxia é o objecto central mais extenso e está rodeada por numerosos satélites de matéria escura. Crédito: Anatoly Klypin, SDSS.
Um novo estudo baseado em dados obtidos pelo Sloan Digital Sky Survey
Sloan Digital Sky Survey (SDSS)
O levantamento do céu SDSS é um projecto que tem por objectivo mapear detalhadamente um quarto de todo o céu, determinando posições e magnitudes absolutas de 100 milhões de objectos celestes, e determinando ainda a distância a mais de 1 milhão de galáxias e quasares. Os telescópios que participam neste projecto estão situados no Observatório de Apache Point (EUA). O SDSS é um projecto conjunto de instituições norte-americanas, alemãs e japonesas.
(SDSS) proporcionou as indicações mais directas, até ao momento, de que as galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
residem no centro de concentrações gigantescas de matéria escura
matéria escura
A matéria escura é matéria que não emite luz e por isso não pode ser observada directamente, mas cuja existência é inferida pela sua influência gravitacional na matéria luminosa, ou prevista por certas teorias. Por exemplo, os astrónomos acreditam que as regiões mais exteriores das galáxias, incluindo a Via Láctea, têm de possuir matéria escura devido às observações do movimento das estrelas. A Teoria Inflacionária do Universo prevê que o Universo tem uma densidade elevada, o que só pode ser verdade se existir matéria escura. Não se sabe ao certo o que constitui a matéria escura: poderão ser partículas subatómicas, buracos negros, estrelas de muito baixa luminosidade, ou mesmo uma combinação de vários destes ou outros objectos.
que podem ser 50 vezes maiores que as próprias galáxias visíveis.

A equipa de investigação, liderada por Francisco Prada do Instituto Max Planck para a Astronomia (Alemanha) e do Instituto de Astrofísica de Canárias (Espanha), estudou os movimentos de cerca de 3 000 satélites que orbitam em torno de galáxias brilhantes e isoladas e encontrou fortes indícios de efeitos gravitacionais induzidos pela presença de matéria escura.

Ainda que não possa ser directamente observada, crê-se que cerca de 27% da massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
total do Universo está na forma de matéria escura, comparado com a matéria normal, observável, que apenas contribui com cerca de 3%. A massa restante consiste em energia escura e radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
, de acordo com os modelos padrão da estrutura e evolução do Universo.

Prada e o seus colegas analisaram dados de 250 000 galáxias para seleccionar bons candidatos para o estudo dos efeitos gravitacionais da matéria escura. Com base nestes dados do SDSS, identificaram cerca de 3 000 satélites, em geral pequenas galáxias que orbitam galáxias maiores, para as quais puderam medir velocidades.

Em geral, a velocidade de um satélite diminui à medida que o satélite se afasta do objecto em torno do qual orbita, devido ao efeito da gravidade. No caso dos planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
do nosso sistema solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, onde a quantidade de matéria escura é demasiado pequena para ter um efeito gravitacional, a velocidade diminui rapidamente justamente porque praticamente não existe massa entre os planetas e o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. Mas nas regiões externas das galáxias, a quantidade total de matéria escura existente no interior da órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de um satélite é já significativa e faz com que a velocidade não diminua tão rapidamente, se os modelos cosmológicos estiverem correctos.

Para determinar a velocidade de cada satélite relativamente à galáxia central, os investigadores mediram o desvio para o vermelho
desvio para o vermelho (z)
Designa-se por desvio para o vermelho (em inglês, redshift) o desvio do espectro de um objecto para comprimentos de onda mais longos. O desvio para o vermelho pode dever-se ao movimento do objecto a afastar-se do observador (desvio de Doppler), ou à expansão do Universo (desvio para o vermelho cósmico, ou gravitacional). O desvio para o vermelho cósmico permite estimar a distância a que o objecto se encontra: quanto maior o desvio, mais distante o objecto. O desvio de Doppler permite calcular a velocidade a que o objecto se desloca.
revelado pelos espectros da luz destes objectos. O desvio para o vermelho, que resulta da modificação da luz provocada pelo afastamento de um objecto relativamente a um observador, é normalmente utilizado para medir a velocidade de objectos distantes. Os resultados agora obtidos parecem implicar a existência de matéria escura e introduzem argumentos fortes contra a MOND (do inglês Modified Newtonian Dynamics), uma teoria alternativa da gravidade. A MOND, que tem sido controversa desde que foi proposta em 1983, elimina a necessidade de recorrer à matéria escura para explicar a natureza do Universo, ao modificar a lei da gravidade em áreas como as zonas exteriores de algumas galáxias.

O próximo passo desta investigação será estender a amostra de galáxias e de satélites para melhorar a precisão dos resultados.

Fonte da notícia: http://www.sdss.org/news/releases/20030521.darkmatter.html