Cometas sem cabeça sobrevivem a um mergulho no Sol

2003-07-16

Sequência de imagens obtidas pelo SOHO de um par de cometas rasantes, que sobreviveram à aproximação ao Sol. Crédito: SOHO (NASA/ESA).
A 24 de Maio de 2003, um par de cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
passou de raspão pelo Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, um atrás do outro. Os seus trajectos levaram-nos a apenas 0,1 raios solares acima da superfície do Sol, ou seja, bem nas profundidades da coroa solar
coroa solar
A coroa solar é a região mais exterior da atmosfera do Sol, imediatamente acima da cromosfera. É composta por gás pouco denso, a uma temperatura acima de um milhão de graus (1-2x106 K). Este gás estende-se por milhares de quilómetros acima da superfície solar e pode ser observado na luz visível durante os eclipses solares, ou com o auxílio de aparelhos especiais, os coronógrafos.
, cuja temperatura atinge vários milhões de graus.

Eles pertencem à família Kreutz de cometas que rasam o Sol, e que são frequentemente vistos, no seu encontro fatal com o Sol, pelo observatório espacial solar SOHO
Solar Heliospheric Observatory (SOHO)
O SOHO é uma sonda espacial concebida para a observação e estudo do Sol. O seu obectivo é analisar a estrutura da coroa, do vento solar e ainda obter informação sobre a dinâmica interna do Sol. O SOHO insere-se num projecto internacional de cooperação entre a NASA e a ESA. A sonda foi lançada a 2 de Dezembro de 1995 e posteriormente colocada em órbita do Sol.
- SOlar and Heliospheric Observatory (NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
). No entanto, é raro observar-se um par de cometas rasantes. Mais raro ainda é observar-se o que estas fotografias obtidas pelo SOHO mostram: parece que uma cauda, muito débil, continua a trajectória do cometa depois do ponto de maior aproximação da órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
ao Sol. Normalmente estes cometas vão perdendo brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
à medida que se aproximam do Sol, até que desaparecem, extintos pelo calor
calor
O calor é energia em trânsito entre dois corpos ou sistemas.
intenso do Sol e pela pressão da sua radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
.

A cauda observada após a aproximação ao Sol é provavelmente constituída pelos restos de poeira do núcleo do cometa
núcleo de um cometa
O núcleo de um cometa é a parte sólida e gelada, localizada no centro da cabeça do cometa e é constituído por poeiras e gases gelados. O diâmetro dos núcleos cometários tem tipicamente entre 10 e 20 km.
, que são empurrados pela pressão da radiação solar depois de todo o gelo do núcleo ter-se evaporado e eliminado os processos que mantêm a cabeleira brilhante à volta do núcleo.

Outro par de cometas Kreutz com cauda e sem cabeça foi observado em Junho de 1998, quando a geometria de observação era muito semelhante a esta. De entre mais de 600 cometas que rasam o Sol e que foram observados durante 6 anos pelo SOHO, este é apenas o terceiro caso a mostrar este tipo de comportamento.

Os cometas são bocados de gelo e poeira que se deslocam à volta do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
em órbitas elongadas. As bolas de neve suja são o núcleo dos cometas; o seu tamanho vai desde o tamanho de uma pedra até ao de uma cidade. À medida que o cometa se aproxima do Sol, o calor solar e a pressão da radiação solar libertam gás e poeira do núcleo, formando a cabeleira - uma extensa nuvem brilhante à volta do núcleo - e uma, ou mais, caudas. A cauda de poeira
cauda de poeira de um cometa
A cauda de poeira de um cometa forma-se a partir de partículas de poeira que se desprendem do núcleo do cometa devido à pressão de radiação do Sol. As caudas de poeira são encurvadas, reflectindo o rasto deixado pelos cometas nas suas órbitas, e estendem-se por dezenas, ou mesmo centenas, de milhões de quilómetros. A cauda não emite luz própria - o seu brilho é o reflexo da luz solar. Há dois tipos de caudas de cometa: as do Tipo I são caudas de iões e as do Tipo II são caudas de poeira.
dum cometa pode ter milhões de quilómetros de comprimento e é deixada ao longo da trajectória do cometa. Os cometas também têm uma cauda de partículas electricamente carregadas (iões
ião
Átomo ou molécula que perdeu ou ganhou um ou mais electrões.
), que é normalmente menos brilhante do que a cauda de poeira, e é empurrada na direcção oposta ao Sol pelo vento solar
vento solar
O vento solar é um vento contínuo de plasma quente que tem origem na coroa solar e preenche o espaço interplanetário do Sistema Solar. A 1 UA do Sol (ou seja, à distância da Terra ao Sol), a velocidade do vento solar é de cerca de 450 km/s e a densidade é aproximadamente 7 protões/cm3. O vento solar confina o campo magnético da Terra e é responsável por fenómenos como tempestades geomagnéticas e auroras. O Sol ejecta cerca de 10-13 da sua massa por ano via vento solar.
– um gás electricamente carregado que é constantemente lançado pelo Sol. As duas caudas apontam na direcção contrária ao Sol, mesmo quando os cometas se dirigem para o Sistema Solar exterior.

Fonte da notícia: http://www.gsfc.nasa.gov/news-release/releases/2003/03-65.htm