Estrelas de pequena massa comportam-se, num sistema binário, como estrelas de massa elevada

2003-07-11

Ilustração de uma variável cataclísmica. A anã vermelha transfere material para a anã branca, resultando um disco de acreção à volta da anã branca. Crédito: STScI.
As variáveis cataclísmicas são sistemas binários (ver ilustração) nos quais uma estrela anã branca
anã branca
Uma anã branca, sendo o núcleo exposto de uma gigante vermelha, é uma estrela degenerada muito densa na qual se encontra esgotada qualquer fonte de energia termonuclear. As anãs brancas, que constituem uma fase final da evolução das estrelas de pequena massa, representam cerca de 10 % das estrelas da nossa galáxia, e são por isso muito comuns. O nosso Sol passará um dia pela fase de anã branca, altura em que terá um diâmetro de apenas 10 000 km.
, com um diâmetro comparável ao diâmetro da Terra e um campo gravitacional intenso, rouba material de uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
companheira de pequena massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
. O gás em queda para a estrela anã
estrela anã
Uma estrela anã, também dita estrela da sequência principal, é uma estrela não evoluída, que ainda se encontra na fase de fusão do hidrogénio em hélio, no seu núcleo.
branca tende a formar um disco de acreção
disco de acreção
Disco composto por gás e poeira interestelares que pode circundar buracos negros, estrelas de neutrões, variáveis cataclísmicas, ou estrelas em formação.
em torno desta. O período orbital
período orbital
O tempo necessário para que um corpo descreva uma órbita completa e fechada em torno de outro corpo.
destes sistemas binários é curto, tipicamente entre 80 minutos e 12 horas. Trata-se de sistemas de dimensão muito reduzida: todo o sistema binário caberia no interior do nosso Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
.

Usando telescópios dos observatórios de Kitt Peak
Kitt Peak National Observatory (KPNO)
O Observatório Nacional de Kitt Peak (KPNO) faz parte dos observatórios da NOAO e inclui diversos telescópios ópticos, de infravermelhos e um telescópio solar, além de operar, em consórcio, 19 telescópios ópticos e dois radiotelescópios. O KPNO situa-se a 90 km de Tucson, no Arizona (EUA).
(Arizona, EUA) e Mauna Kea (Havai, EUA), Steve Howell (Universidade da Califórnia, EUA), Thomas E. Harrison e Heather Osborne (Universidade Estatal do Novo México, EUA) efectuaram observações a mais de uma dúzia de estrelas com indicações de perda de massa, no seio de variáveis cataclísmicas.

Os resultados mostram que muitas das estrelas companheiras (aquelas que perdem massa para a anã branca) não parecem ser estrelas normais adultas (ditas da sequência principal) de pequena massa, em termos da abundância química
abundância química
A abundância química de um determinado elemento químico é o número relativo de átomos ou isótopos desse elemento num objecto ou estrutura.
nas suas atmosferas
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
. Cada uma destas estrelas exibe uma abundância muito baixa de carbono e, ainda, estranhas misturas de elementos como o sódio e cálcio.

As medições das abundâncias são compatíveis com o processo CNO (ciclo Carbono-Azoto-Oxigénio), um ciclo de reacções nucleares que se julga ser a forma dominante de produção de energia em estrelas de massa elevada, ao contrário do que se passa em estrelas de pequena massa como o Sol, nas quais o mecanismo principal é a cadeia protão-protão (cadeia PP).

Dado que nas variáveis cataclísmicas as estrelas companeiras são sempre de pequena massa, este estudo vem mostrar que muito há ainda para compreender sobre a verdadeira natureza destes sistemas.

Fonte da notícia: http://www.newsroom.ucr.edu/cgi-bin/display.cgi?id=595