Oportunidade rara na observação do complexo NGC 3603
2003-07-03
Em cima: Composição de imagens obtidas pelo VLT (ESO) em 1999 no infravermelho próximo (entre 1,25 e 2,2 micrones) do complexo NGC 3603, que inclui uma região de formação estelar e um aglomerado de estrelas muito quentes, de classes espectrais O e B. Em baixo: Observações com grande detalhe, e a vários comprimentos de onda (bandas J´, H, K´, etc...) no infravermelho próximo e intermédio, da região em torno da fonte IRS 9 (assinalada pelo quadrado na imagem de cima). Crédito: ESO.
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
de massaUma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
elevada é, actualmente, um dos domínios mais contestados da Astrofísica Estelar. Enquanto que vários detalhes relacionados com o processo de formação de estrelas de pequena massa são já bem conhecidos, o mecanismo básico de formação de estrelas de massa elevada permanece ainda um mistério. Para dar um exemplo, ainda nem sequer se sabe se os critérios observacionais que utilizamos para identificar estrelas de pequena massa em formação (essencialmente as suas cores no infravermelho próximoA massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
infravermelho próximo
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 5 mícrones. Esta banda permite observar astros ou fenómenos com temperaturas entre 740 e 5200 graus Kelvin.
e intermédio), e distingui-las de estrelas mais evoluídas, pode também ser aplicado no caso de estrelas de maior massa.
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 5 mícrones. Esta banda permite observar astros ou fenómenos com temperaturas entre 740 e 5200 graus Kelvin.
Os astrónomos avançam dois cenários actualmente em estudo para o processo de formação de estrelas de massa elevada. Num caso, as estrelas formam-se por acreção
acreção
Designa-se por acreção a acumulação de matéria (gás e poeira) para um astro central, como por exemplo um buraco negro, uma estrela, uma galáxia, ou um planeta.
de grandes quantidades de material circunstelar, e a taxa de acreção varia no tempo. No outro caso, as estrelas podem formar-se por colisão (coalescência) de proto-estrelas de massa intermédia, e consequentemente a massa da estrela em formação aumenta por saltos, em vez de aumentar de forma gradual. Qualquer destes casos impõe fortes limitações ao valor da massa final da jovem estrela. No primeiro caso, a acreção tem que vencer a elevada pressão de radiaçãoDesigna-se por acreção a acumulação de matéria (gás e poeira) para um astro central, como por exemplo um buraco negro, uma estrela, uma galáxia, ou um planeta.
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
devida às reacções nucleares (queima de deutérioA radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
deutério (D)
O deutério, também chamado de hidrogénio pesado, é o isótopo do hidrogénio com número de massa igual a dois (2H), cujo núcleo é constituído por um protão e um neutrão.
e hidrogénio) no centro da estrela, despoletadas uma vez atingida a temperatura de 10 milhões de graus. No segundo caso, o crescimento por colisão implica que haja uma forte probabilidade de colisão com parceiros, o que só pode ocorrer no contexto dos aglomerados estelares densos. Mas qual deles é o mais provável?
O deutério, também chamado de hidrogénio pesado, é o isótopo do hidrogénio com número de massa igual a dois (2H), cujo núcleo é constituído por um protão e um neutrão.
As estrelas de massa elevada são, no entanto, extremamente difíceis de observar em estágios muito embrionários, por 3 fortes razões: (1) as regiões de formação de estrelas de massa elevada são, em média, muito mais distantes (alguns milhares de anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
) do que as regiões onde se formam estrelas de pequena massa como o nosso SolO ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, sendo por isso muito mais difícil observar detalhes nessas regiões; (2) qualquer que seja o seu estado evolutivo, as estrelas de massa elevada evoluem muito mais rapidamente do que as estrelas de pequena massa, sendo por isso muito difícil apanhá-las em flagrante delito, durante as fases críticas e iniciais da sua evolução; e (3) na sua infância encontram-se fortemente embebidas no material circunstelar da nuvem molecularO Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
nuvem molecular
As nuvens moleculares são nebulosas constituídas predominantemente por hidrogénio molecular.
que lhes deu origem, e por isso não são observáveis, no domínio do visível, durante a curta fase que antecede a ignição das reacções nucleares. Simplesmente, não há tempo para a nebulosaAs nuvens moleculares são nebulosas constituídas predominantemente por hidrogénio molecular.
nebulosa
Uma nebulosa é uma nuvem de gás e poeira interestelares.
em seu redor dispersar - quando a estrela jovem se torna visível, já as fases muito iniciais da sua infância foram há muito ultrapassadas.
Uma nebulosa é uma nuvem de gás e poeira interestelares.
Assim, em termos observacionais, a solução passa por estudar uma região de formação de estrelas de massa elevada que se encontre na vizinhança dum denso aglomerado de estrelas quentes. É de admitir que o intenso vento estelar produzido pelo conjunto de estrelas muito quentes do aglomerado possa dispersar e evaporar o material circunstelar da nebulosa na qual se encontram embebidas as estrelas jovens em formação. Se isto ocorrer em tempo útil, talvez se consiga observar directamente as estrelas em formação, ainda numa fase muito embrionária.
Tal parece ser o caso do complexo NGC 3603 (ver figura de cima). NGC 3603, uma das regiões HII mais luminosas da nossa galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
, situada a 22 000 anos-luz, e situada no braço espiralUm vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
braço espiral
Um braço espiral de uma galáxia é uma estrutura curva no disco de uma galáxia espiral (ou, em alguns casos, de uma galáxia irregular), constituída por estrelas jovens, aglomerados de estrelas, nebulosas, gás e poeiras.
de Carina (Carena, ou a Quilha do Navio). Com base em observações realizadas recentemente nos observatórios de Las Campanas (Instituto Carnegie de Washington), Cerro Paranal (VLTUm braço espiral de uma galáxia é uma estrutura curva no disco de uma galáxia espiral (ou, em alguns casos, de uma galáxia irregular), constituída por estrelas jovens, aglomerados de estrelas, nebulosas, gás e poeiras.
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
/ESOO Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
), e La Silla (ESO), todos no Chile, uma equipa de astrónomos obteve imagens detalhadas de uma região (IRS 9) a diferentes comprimentos de ondaO Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
no infravermelhoDesigna-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
, e concluiu tratar-se de uma pequena associação (ver figura de baixo; A, B, e C são as fontes mais brilhantes do conjunto) de objectos estelares de massa elevada (com pelo menos 10 vezes a massa do SolRegião do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
massa solar
Massa solar é a quantidade de massa existente no Sol e, simultaneamente, a unidade na qual os astrónomos exprimem as massas das estrelas, nebulosas e galáxias. Uma massa solar é igual a 1,989x1030 kg.
) e extremamente jovens, com cerca de 100 000 anos. O brilhoMassa solar é a quantidade de massa existente no Sol e, simultaneamente, a unidade na qual os astrónomos exprimem as massas das estrelas, nebulosas e galáxias. Uma massa solar é igual a 1,989x1030 kg.
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
intrínseco da fonte A é de 100 000 vezes o do Sol.
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
Comparando estas observações com o modelo teórico de acreção, os investigadores concluíram que estas estrelas jovens agregam massa, a partir dos seus invólucros de gás e poeira, a uma taxa de cerca de uma massa terrestre por dia (ou a massa total do nosso Sol em cerca de 1000 anos).
Este estudo vem mostrar que os critérios observacionais que utilizamos para identificar estrelas jovens de pequena massa parecem afinal ser igualmente válidos quando aplicados às suas congéneres de maior massa. Por outro lado, e no que toca à pequena associação IRS 9, a falta de objectos de massa intermédia na sua vizinhança imediata parece favorecer o cenário da acreção e não o da formação por colisão.
Fonte da notícia: http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2003/pr-15-03.html