Chandra e Hubble fazem levantamento de galáxias sem precedentes

2003-07-02

O Campo Profundo Norte visto pelo Chandra. A área de céu coberta por esta imagem é de cerca de 3/5 da área da Lua Cheia. O tempo de integração total necessário para obter esta imagem foi de 23 dias. Trata-se da exposição em raios-X mais profunda alguma vez realizada. Nesta imagem, as fontes mais fracas produziram apenas um fotão de raios-X em cada 4 dias! Crédito: NASA/CXC/PSU/D.M.Alexander, F.E.Bauer, W.N.Brandt et al.
O Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) e o Observatório de raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
Chandra
Chandra X-ray Observatory
O observatório de raios-X Chandra, lançado em 1999, faz parte do projecto dos Grandes Observatórios Espaciais da NASA. O seu nome homenageia Subrahmanyan Chandrasekhar, Prémio Nobel da Física em 1983. O Chandra detecta fontes de raios-X a milhares de milhões de anos-luz de nós. Observar em raios-X é a única forma de observar matéria muito quente, a milhões de graus Célsius. O Chandra detecta raios-X de regiões de alta energia, como por exemplo remanescentes de supernovas.
(NASA) uniram esforços para observar uma área relativamente ampla do céu, incluindo dezenas de milhares de galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
numa gama importante de distâncias. Este levantamento, que visa o estudo da formação e evolução de galáxias a várias distâncias e com diferentes idades, é designado por GOODS (do inglês Great Observatories Origins Deep Survey). Este projecto tenta compreender a história conjunta das galáxias, incluindo aspectos tão cruciais como a evolução das suas populações estelares, a energética da actividade de formação estelar e dos núcleos galácticos activos.

Com base neste estudo, os cientistas afirmam que o tamanho das galáxias aumentou continuamente desde o tempo em que o Universo tinha cerca de mil milhões de anos até uma idade de aproximadamente 6 mil milhões de anos., ou seja durante cerca de metade da idade actual do Universo (13,7 mil milhões de anos). Por outro lado, os astrónomos também concluíram que a taxa de formação de estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
teve um ligeiro aumento, por um factor de 3, desde o tempo em que o Universo tinha mil milhões de anos até uma idade de 1,5 mil milhões de anos, tendo permanecido elevada até há cerca de 7 mil milhões de anos, altura em que diminuiu rapidamente para apenas 10% do seu valor inicial. Estes resultados estão de acordo com modelos segundo os quais as enormes galáxias espirais e elípticas crescem de forma hierárquica, através da fusão
fusão
1- passagem do estado sólido ao líquido, por efeito do calor; 2- junção, união.
e acreção
acreção
Designa-se por acreção a acumulação de matéria (gás e poeira) para um astro central, como por exemplo um buraco negro, uma estrela, uma galáxia, ou um planeta.
de galáxias mais pequenas.

A comparação das imagens do Hubble e do Chandra permitiu aos astrónomos descobrir 7 objectos misteriosos: buracos negros
buraco negro
Um buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Em Astronomia, distinguem-se dois tipos de buraco negro: os buracos negros estelares, que resultam da morte de uma estrela de massa elevada, e os buracos negros galácticos, que existem no centro das galáxias activas.
que aparecem na imagem do Chandra, mas não foram identificados nas imagens do Hubble. Isto implica que se trata dos buracos negros mais longínquos alguma vez detectados ou, alternativamente, de buracos negros mais próximos, mas os mais embebidos em poeira que se conhecem. Qualquer dos cenários é pois fascinante.

Permitiu ainda concluir que buracos negros activos no centro de galáxias distantes relativamente pequenas são menos frequentes do que se esperava. Tal pode dever-se aos efeitos das primeiras gerações de estrelas de grande massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
que explodiram como supernovas
supernova
Uma supernova é a explosão de uma estrela no final da sua vida. As explosões de supernova são de tal forma violentas e luminosas que o seu brilho pode ultrapassar o brilho de uma galáxia inteira. Existem dois tipos principais de supernova: as supernovas Tipo Ia, que resultam da explosão duma estrela anã branca que, no seio de um sistema binário, rouba matéria da estrela companheira até a sua massa atingir o limite de Chandrasekhar e então colapsa; e as supernovas Tipo II, que resultam da explosão de uma estrela isolada de massa elevada (com massa superior a cerca de 4 vezes a massa do Sol) que esgotou o seu combustível nuclear e expeliu as suas camadas externas, restando apenas um objecto compacto (uma estrela de neutrões ou um buraco negro).
, atirando o gás interestelar
gás interestelar
O gás interestelar é constituído pelos átomos, moléculas e iões de elementos, ou substâncias, gasosas presentes no meio interestelar.
galáctico para as regiões mais periféricas dessas galáxias, reduzindo assim o abastecimento de gás necessário para alimentar buracos negros centrais de grande massa.

Este estudo será ainda complementado pelo satélite de infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
Space Infrared Telescope Facility
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
(SIRTF) da NASA, que deverá ser lançado em Agosto deste ano.

Fonte da notícia: http://chandra.harvard.edu/press/03_releases/press_061903.html