Hubble observa mudanças sazonais no clima de Neptuno

2003-06-16

Estações do ano em Neptuno. Note-se o brilho crescente das bandas de nuvens no decorrer do tempo. Crédito: L. Sromovsky, P.Fry (University of Wisconsin), and NASA.
As bandas de nuvens de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
parecem estar a crescer, quer em largura quer em brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
. Isto parece ser uma espécie de resposta às variações sazonais na quantidade de luz solar recebida pelo planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
.

Neptuno, o oitavo planeta do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, é conhecido pela sua complicada e por vezes violenta meteorologia, com grandes sistemas de tempestade e ventos cujas rajadas podem atingir os 1400 km/h. No entanto só agora observações efectuadas pelo Telescópio Espacial hubble (NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) parecem sugerir que existem, de facto, estações em Neptuno. Astrónomos da Universidade de Winsconsin-Madison (EUA) e do Laboratorio de Propulsão a Jacto (JPL) utilizaram o Hubble para efectuar três conjuntos de observações do planeta em 1996, 1998, e 2002 durante os quais puderam observar uma rotação completa de Neptuno. As imagens mostraram que as bandas de nuvens no hemisfério sul de Neptuno se tornaram progressivamente mais largas e mais brilhantes. Em particular, no infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
o brilho de Neptuno aumentou dramaticamente. Estes dados vieram confirmar observações conduzidas no Observatório Lowell (EUA) que pareciam indicar que Neptuno se tem vindo a tornar gradualmente mais brilhante desde 1980.

Tal como na Terra, julga-se que Neptuno possui também quatro estações, nas quais cada hemisfério possui um Verão e um Inverno, mas em que quer a Primavera quer o Outono são apenas estações transitórias. Contudo, ao contrário da Terra, as estações em Neptuno duram décadas, e não meses. Uma única estação em Neptuno, cuja órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
em torno do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
leva quase 165 anos, pode durar mais de 40 anos. Se as variações de brilho agora observadas são efectivamente alterações sazonais, podemos esperar que Neptuno aumente ainda mais o seu brilho nos próximos 20 anos.

Neptuno roda sobre si próprio em torno de um eixo que faz um ângulo de 29° com o plano da sua órbita em torno do Sol. Como se sabe, é a inclinação do eixo de rotação (no caso da Terra o ângulo é de 23,5°) que é responsável pelas estações do ano aqui na Terra: à medida que a Terra roda em torno do seu eixo e se desloca ao longo do ano em torno do Sol, o planeta fica exposto a diferentes padrões de luz solar que marcam as estações. Em Neptuno passa-se o mesmo.

Contudo, o que é notável no caso de Neptuno é o próprio facto de ser possível notar padrões sazonais de tempo, como parecem indicar estas observações. É que, visto de Neptuno, Sol é cerca de 900 vezes menos brilhante do que quando observado a partir da Terra! E é a quantidade de radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
solar que cada hemisfério recebe, num dado instante, que determina a estação. Quando o Sol deposita energia (ou calor
calor
O calor é energia em trânsito entre dois corpos ou sistemas.
) na atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
de um planeta, força uma resposta da parte deste. No hemisfério que recebe mais luz esperamos que haja aquecimento que, por sua vez, pode induzir correntes ascendentes na atmosfera, condensação, e por fim a um aumento do número de nuvens. Os dados do Hubble parecem corroborar a ideia de que o número de nuvens em Neptuno não só está a crescer como é consistente com variações sazonais, uma vez que nas regiões equatoriais do planeta não parece haver quaisquer alterações.

Mas, apesar destas recentes descobertas, o clima em Neptuno continua a ser um enigma. De facto, o calor total fornecido à atmosfera de Neptuno, por via da luz solar e do calor produzido internamente pelo planeta no seu núcleo, parece ser insuficiente para poder explicar a dinâmica atmosférica de Neptuno.

Os resultados desta pesquisa foram publicados na última edição (Maio de 2003) da revista da especialidade Icarus.

Fotografias de alta resolução, bem como uma animação em formato Quick Time podem ser obtidos no sítio:
http://www.news.wisc.edu/newsphotos/neptune.html

Fonte da notícia: http://www.news.wisc.edu/view.html?get=8676