Um grupo de cientistas conseguiu espreitar através da bruma alaranjada de Titã, a maior das luas de Saturno, e descobriu que a superfície não está inteiramente coberta por materiais orgânicos sólidos e líquidos que chovem da atmosfera. Na realidade, áreas extensas de um leito de gelo aparecem expostas à superfície de Titã.

Segundo Caitlin A. Griffith da Universidade do Arizona (EUA), a reflectividade da superfície de Titã assemelha-se à de Ganímedes, uma das luas de Júpiter, o que é algo surpreendente uma vez que se julgava que Titã tinha uma grande quantidade de material orgânico.

A atmosfera de Titã, com uma massa dez vezes superior à da atmosfera da Terra, é composta principalmente por azoto misturado com substâncias venenosas como são o metano e o etano. Titã está coberta por um espesso nevoeiro de hidrocarbonetos que se formam na alta estratosfera como resultado da destruição do metano pela luz do Sol. Este nevoeiro, muito mais espesso que o pior smogg de uma cidade, era impenetrável para as câmaras da Pioneer e da Voyager que passaram perto de Saturno nos finais de 1970 e princípios de 1980.

Os subprodutos da destruição das moléculas de metano pela radiação ultravioleta do Sol reagem com outras moléculas da atmosfera de Titã. Como resultado, formam-se gotículas e partículas orgânicas que caem sobre a superfície de Titã cobrindo a base de gelo e formando lagos e oceanos. Algumas equipas teorizam que o metano atmosférico provém de um ciclo líquido semelhante ao ciclo do hidrogénio da Terra. Outros teorizam que o metano em Titã é produzido pela actividade geológica.

A partir de medições e de modelos da fotólise do metano os cientistas tentam estimar a quantidade de material que anualmente se precipita. Admitindo que a atmosfera de Titã tem existido ao largo dos 4,6 mil milhões de anos que tem esta lua, deviam encontrar-se cerca de 800 metros de sedimentos à superfície. Estes cálculos levam-nos a pensar se toda a superfície estará, ou não, coberta de sedimentos que não nos permitem ver o gelo e rocha que devem existir debaixo.

Desde 1991, Griffith e outros cientistas têm vindo a desenvolver uma técnica que permite observar espectroscopicamente a superfície em bandas infravermelhas, por entre as espessas bandas de absorção do metano. A análise da reflectividade da superfície, a partir de dados obtidos com os telescópios infravermelhos do Reino Unido e da NASA situados em Mauna Kea (Havai), permitiu concluir que grande parte da superfície de Titã é composta por uma base exposta de gelo.

As primeiras imagens da superfície de Titã obtidas em 1994 pelo telescópio espacial Hubble, e outras posteriores, mostram extensas zonas de terreno mais escuro. Ainda que a natureza destas manchas escuras não seja totalmente clara, uma das possibilidades é a de que se tratem de líquidos e sedimentos orgânicos. Essas imagens em conjuntos com os novos dados de infravermelho sugerem a deslocação do material orgânico à superfície de Titã de tal maneira que deixa a descoberto partes da base gelada.

Fonte: http://uanews.opi.arizona.edu/cgi-bin/WebObjects/UANews.woa/wa/MainStoryDetails?ArticleID=7248