Corrente de Magalhães observada em rádio com o radiotelescópio Parkes

2003-05-15

Em cima: Mapa de rádio das Nuvens de Magalhães, com a Corrente de Magalhães estendendo-se para a direita. Em baixo: Modelo da corrente de Magalhães. Esta simulação descreve a trajectória do gás, calculando as posições de 56 000 partículas de gás na Corrente. Crédito: Mapa de rádio: M.E. Putman (University of Colorado), L. Staveley-Smith (CSIRO), K.C. Freeman (Australian National University), B.K. Gibson (Swinburne University) & David G. Barnes (Swinburne University). Modelo: Daisuke Kawata, Chris Fluke, Sarah Maddison & Brad Gibson, Swinburne University of Technology, Australia.
Observações realizadas com o radiotelescópio Parkes, na Austrália, parecem ter resolvido uma dúvida, já com 40 anos, acerca da natureza das nuvens de gás que circundam a nossa galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
. As pequenas nuvens de hidrogénio de alta velocidade observadas na vizinhança da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
são essencialmente despojos de pequenas galáxias que orbitam a nossa galáxia e não, como se pensava, uma componente da matéria escura
matéria escura
A matéria escura é matéria que não emite luz e por isso não pode ser observada directamente, mas cuja existência é inferida pela sua influência gravitacional na matéria luminosa, ou prevista por certas teorias. Por exemplo, os astrónomos acreditam que as regiões mais exteriores das galáxias, incluindo a Via Láctea, têm de possuir matéria escura devido às observações do movimento das estrelas. A Teoria Inflacionária do Universo prevê que o Universo tem uma densidade elevada, o que só pode ser verdade se existir matéria escura. Não se sabe ao certo o que constitui a matéria escura: poderão ser partículas subatómicas, buracos negros, estrelas de muito baixa luminosidade, ou mesmo uma combinação de vários destes ou outros objectos.
fria prevista pela teoria da formação de galáxias.

Uma equipa de astrónomos, liderada por Mary Putman da Universidade do Colorado (EUA), usou o radiotelescópio australiano Parkes, de 64 m de diâmetro, para efectuar o estudo mais detalhado até à data da chamada Corrente de Magalhães
Corrente de Magalhães
A Corrente de Magalhães consiste numa banda de hidrogénio neutro que se estende pela órbita das Nuvens de Magalhães. Pode ter sido criada pelo varrimento de gás dessas galáxias aquando da sua passagem através do halo da Via Láctea, provavelmente, e segundo os modelos, há cerca de 200 milhões de anos. Ou então pode ter sido a força de atracção gravitacional diferencial (ou força de maré), exercida pela Via Láctea sobre as Nuvens de Magalhães, a arrancar o gás destas galáxias, o qual formou um rasto na órbita destas.
- uma banda de hidrogénio neutro que se estende pela órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
das Nuvens de Magalhães
Nuvens de Magalhães
As Nuvens de Magalhães são duas pequenas galáxias irregulares - a Grande Nuvem de Magalhães e a Pequena Nuvem de Magalhães - que orbitam a nossa galáxia muito próximo de nós e podem ser observadas a partir do hemisfério Sul.
e que pode ter sido criada pelo varrimento de gás dessas galáxias aquando da sua passagem através do halo da Via Láctea, provavelmente, e segundo os modelos, há cerca de 200 milhões de anos). Ou então terá sido a força de atracção gravitacional diferencial (ou força de maré), exercida pela Via Láctea sobre as Nuvens de Magalhães, a arrancar o gás destas galáxias, o qual formou um rasto na órbita destas. Esta equipa estudou igualmente nuvens de alta velocidade em torno da Corrente de Magalhães.

As nuvens de alta velocidade foram descobertas há cerca de 40 anos, mas tem sido extremamente difícil precisar a sua massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
e a distância a que se encontram. Assim, a sua origem e verdadeira natureza tem sido motivo de aceso debate na comunidade científica.

Algumas das nuvens de alta velocidade estão associadas à Corrente de Magalhães, mas outras parecem ter sido deixadas por outras galáxias que orbitam igualmente a nossa Via Láctea, no seio do nosso Grupo Local de galáxias
Grupo Local de galáxias
O Grupo Local de galáxias é o enxame de galáxias a que a Via Láctea pertence. É um enxame pequeno, constituído por duas galáxias espirais grandes - Andrómeda e a Via Láctea - e por mais de quarenta pequenas galáxias, muitas só descobertas recentemente.
. Estas observações permitem concluir com segurança que as nuvens de alta velocidade não se encontram espalhadas uniformemente pelo nosso Grupo Local de galáxias, mas antes se concentram em torno do halo da Via Láctea. Estudos anteriores de outros grupos de galáxias não revelaram a existência de casos análogos às nuvens de alta velocidade. Se existirem, devem encontrar-se muito próximo das grandes galáxias, e não espalhadas pelo espaço intergaláctico.

O modelo padrão da formação de galáxias prevê a existência de centenas de pequenos halos de matéria escura fria dispersados pelo Grupo Local. Contudo, estes nunca foram encontrados. Alguns cientistas avançaram a hipótese de que as nuvens de alta velocidade poderiam ser esses tais halos. Mas este novo estudo indica que isso é pouco provável: se os halos de matéria escura previstos pelos modelos existem, eles não podem estar associados a grandes quantidades de gás frio, uma vez que não encontramos as nuvens de gás a grandes distâncias das galáxias.

A questão de saber se estas nuvens de alta velocidade contêm individualmente, ou não, muita matéria escura fria permanece uma questão em aberto.

Fonte da notícia: http://www.csiro.au/index.asp?type=mediaRelease&id=PrCOSMICdandruff