Cientistas da NASA estudam formas exóticas de vida em rio da Península Ibérica

2003-04-17

Nesta fotografia podemos ver a estranha cor das águas do rio Tinto, resultado das elevadas quantidades do ferro que se encontra dissolvido na água, devido ao facto de estas serem muito ácidas. Crédito: Carol Stoker (NASA Ames Research Center).
Cientistas da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
estiveram em Espanha na semana passada em busca de formas exóticas de vida que possam existir no subsolo, na região do rio Tinto, cujas águas são extremamente ácidas.

Durante a experiência MARTE (acrónimo de Mars
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
Analog Research and Technology Experiment
), cientistas e engenheiros da NASA, de várias universidades norte-americanas e do Centro de Astrobiologia de Madrid esperam mostrar como sistemas robotizados poderiam procurar formas de vida debaixo da superfície marciana. É bem possível que existam bactérias no subsolo em Marte, alimentando-se de minerais presentes em rochas contendo ferro e enxofre. Bactérias semelhantes existem no rio Tinto, cujas águas são muito ácidas, e julga-se que estes micróbios podem desempenhar um papel central na produção dos ácidos aí existentes. Situado numa região que, segundo as lendas, fazia parte das minas do rei Salomão, o rio Tinto possui uma cor vermelha escura, semelhante ao vinho tinto, devido ao ferro dissolvido nas águas ácidas.

Este projecto, com a duração de três anos e liderado por Carol Stoker do Ames Research Center (NASA), tem por objectivo estudar as águas do rio Tinto, constituindo uma pesquisa da presença de eventuais formas de vida em água líquida, tal como se pretende fazer futuramente numa missão a Marte, onde se sabe existir água em abundância abaixo da superfície.

Esta equipa de investigação pretende explorar a área em torno do rio usando os instrumentos científicos concebidos para uma futura missão a Marte. Os instrumentos robotizados de pesquisa e detecção de vida serão operados remotamente a partir do Centro de Astrobiologia de Madrid e das instalações da NASA nos Estados Unidos. A interpretação dos resultados será feita via satélite, com o objectivo de simular a condução de uma verdadeira missão de busca de vida em Marte. Simultaneamente, cientistas farão amostragens e análises in situ por forma a melhor compreender as formas de vida no subsolo, verificando também a precisão dos instrumentos robotizados na detecção e identificação de formas de vida, compostos orgânicos e minerais.

De acordo com estes cientistas, o subsolo constitui o ambiente chave para a pesquisa de vida noutros planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
. A vida, tal como a conhecemos, necessita de água no estado líquido e de uma fonte de energia. Na Terra, a grande maioria das formas de vida encontra-se à superfície, onde o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
se constitui como fonte de energia. Mas em Marte, água líquida à superfície é rara, ou de todo inexistente. Contudo, os astrónomos crêem que deve haver muita água abaixo da sua superfície. Daí a importância de experiências como esta em rio Tinto, onde se espera poder testar quer a estratégia de busca de vida, quer os equipamentos necessários a essa tarefa.

No caso de rio Tinto, julga-se que são a água do subsolo e a energia química que fornecem as condições para o suporte das formas de vida. Tudo parece indicar que a química do rio Tinto e a sua biologia podem resultar de um agente químico subterrâneo, com base biológica, alimentado por organismos que não necessitam de oxigénio para sobreviver. Se assim for, e se efectivamente descoberta por esta experiência, esta forma de vida subterrânea representaria uma forma de vida totalmente nova.

Durante a campanha da experiência MARTE, os instrumentos robotizados irão obter amostras de rochas subterrâneas, as quais serão analisadas em busca de marcadores biológicos, isto é, em busca de assinaturas da presença de vida. Tal será feito usando novas tecnologias no campo da biologia molecular.

Fonte da notícia: http://amesnews.arc.nasa.gov/releases/2003/03_24AR.html