O novo mapa de alta resolução obtido pela Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), da NASA, mostra com grande pormenor a variada topografia que se extende do Canadá até à América Central. Mas é um detalhe obscuro, escondido na plataforma de rocha calcária da península do Yucatão (México), que merece a honra de ser o principal protagonista desta primeira apresentação dos dados obtidos pela SRTM.

A existência de uma cratera de impacto conhecida como Chicxulub foi proposta pela primeira vez em 1980. Nos anos 90, dados obtidos por satélites e por estudos efectuados no solo levaram a que os cientistas começassem a considerá-la o há muito procurado vestígio do acontecimento que teria sido responsável pela extinção dos dinossauros e de mais de 70 por cento das espécies vivas na Terra, há 65 milhões de anos. Agora, a SRTM obteve a prova mais evidente, até ao momento, de uma cratera de impacto com 180 quilómetros de largura e 900 metros de profundidade, que teria sido resultante da colisão de um cometa gigante ou de um asteróide, naquele que terá sido para a Terra um dos seus piores dias de sempre.

Os novos dados obtidos para a América do Norte contribuem enormemente para o conhecimento da topografia do Canadá, Alasca e ilhas Aleutas, México e América Central. Muitos detalhes ressaltam como nunca antes, e outros mais obscuros como Chicxulub foram revelados pela primeira vez. Com efeito, a superfície de Chicxulub é tão subtil que é muito provável que alguém que caminhasse sobre ela não desse por isso.

Os dados referentes a Chicxulub mostram uma subtil, mas inequívoca, indicação topográfica do limite externo da cratera: um sulco semicircular com 3 a 5 metros de profundidade e uma largura de 5 quilómetros. Os cientistas crêem que o impacto, centrado a norte da costa do Yucatão, em pleno Golfo do México, perturbou as rochas do subsolo tornando-as instáveis. As rochas foram subsequentemente cobertas por sedimentos calcários facilmente sujeitos a erosão. A instabilidade da encosta da cratera provocou a fractura dos sedimentos ao longo da encosta dando origem ao sulco. Além disso, o colapso de numerosas cavernas de sedimentos por cima da encosta da cratera resultaram numa cadeia de pontos de escoamento, que se vêem na imagem como pequenas depressões circulares a negro.

Ainda não se conhece o modo exacto como o impacto de Chicxulub causou na Terra as extinções em massa. Alguns cientistas acham que atirou grandes quantidades de poeira para a atmosfera, bloqueando a luz solar, e impedindo o crescimento das plantas. Outros crêem que o enxofre libertado no impacto teria gerado nuvens de ácido sulfúrico à escala global que bloquearam a luz solar e provocaram chuvas ácidas. Outra possibilidade consiste em incêndios à escala global provocados pela entrada na atmosfera, após o impacto, de restos do corpo responsável pela cratera.

Os dados restantes relativos à América do Norte mostram um retrato dinâmico de um continente geologicamente complexo. Deformações activas na estrutura da crosta terrestre ao longo dos limites da placa tectónica do Pacífico/América do Norte são responsáveis pela diversidade do relevo da costa do Pacífico. No Canadá e nos Estados Unidos abundam vestígios de glaciares da última idade do gelo.

A Shuttle Radar Topography Mission foi lançada a 11 de Fevereiro de 2000 e efectuou medidas tridimensionais de mais de 80 porcento da massa de terra com latitudes geográficas situadas entre os 60° N e os 56° S. O processamento dos mais de 8 terabytes de dados da missão terminou em Fevereiro último. O próximo conjunto de dados a sair será referente à América do Sul.

Fonte da notícia: http://www.jpl.nasa.gov/releases/2003/30.cfm